Por cadu.bruno
Rio - Há 32 anos, desde que o Sambódromo foi inaugurado e os desfiles das escolas do Grupo Especial passaram a ser realizados em dois dias, os sambistas acreditam na "maldição do domingo". Isso porque, em todo esse tempo, a campeã do carnaval saiu na segunda-feira por 26 vezes, a começar pela supercampeã de 1984, a Mangueira. Beija-Flor, Unidos da Tijuca e Mocidade se destacaram neste domingo e serão responsáveis por desafiar a "escrita".
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Apresentando a história do marquês de Sapucaí, que dá nome à Passarela do Samba carioca, a Beija-Flor cantou as Minas Gerais e as histórias do influente conselheiro do Império com fantasias com muito brilho e bom acabamento, a exemplo de outros anos.
Beija-Flor fez desfile praticamente impecável e vem como candidata ao biAlexandre Brum / Agência O Dia

Também houve espaço na avenida para homenagear seu intérprete - Neguinho da Beija-Flor completou 40 anos como a voz oficial da escola de Nilópolis (Baixada Fluminense). O cantor estreou na escola em 1976 e foi pé quente: a agremiação ganhou naquele ano seu primeiro título - e emendou um tricampeonato, vencendo também em 1977 e 1978, sempre sob o comando do carnavalesco Joãosinho Trinta.

A Unidos da Tijuca entrou na Sapucaí para encerrar o primeiro dia de desfiles no Rio de Janeiro e fazer uma homenagem a natureza. Com o tema "Semeando Sorriso, a Tijuca festeja o solo sagrado", a escola levou à passarela do samba um enredo focado na cidade de Sorriso, no Mato Grosso, que é considerada a capital da soja e do agronegócio no Brasil. A escola empolgou o público e foi um dos destaques da primeira noite.
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A Mocidade Independente de Padre Miguel enfrentou dificuldades nas alegorias. O último carro emperrou na concentração e não conseguia fazer a virada da Avenida Presidente Vargas para a Marquês de Sapucaí. O jeito foi adiantar os integrantes da velha guarda, que seria a última ala da escola a passar pela passarela do samba. Quando já estavam entre o setor 1 e 3, a equipe técnica conseguiu fazer o carro rodar.
O público vibrou com a solução do problema. Mais à frente, outro carro também ficou parado por alguns minutos na passarela do samba. O pessoal responsável por empurrar os carros conseguiu, com muita animação e dançando ao ritmo do samba enredo, destravar a alegoria.
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Também agradou à Sapucaí a apresentação de Santos feita pela Grande Rio. A história de Pelé, em um fantástico carro alegórico, foi uma das atrações.
Unidos da Tijuca fechou o primeiro dia de desfiles e manteve tradição de usar alegorias humanasFoto%3A Severino Silva / Agência O Dia

A Estácio de Sá, que iniciou a noite na Sapucaí, tinha um bom samba, em homenagem a São Jorge, e se apoiou nele para ganhar o público ainda frio do Sambódromo. Acabou pecando pela falta de inventividade - as fantasias eram repetitivas e não trouxeram elementos novos ao repertório do carnaval carioca. Logo ao entrar, as duas partes do primeiro carro não se acoplaram e se abriu um buraco.

A União da Ilha fez um desfile alegre e colorido sobre os Jogos Olímpicos do Rio, que serão realizados em agosto, com foco no jeito de ser do cidadão carioca, o anfitrião do evento. Mas as referências eram muito literais, sem ousadia criativa.
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Apenas com os recursos distribuídos a todas as escolas do Grupo Especial pela Prefeitura e a Liga das Escolas de Samba (R$ 6 milhões), sem patrocínio, Chico Spinosa e os carnavalescos Amauri Santos e Tarcísio Zanon da Estácio precisaram de soluções alternativas. A peruca de anjos foi feita de palha de aço pintada de dourado; plástico bolha virou espuma de dragão; buchas vegetais compuseram a pele do leão, símbolo da agremiação. Mas, aos olhos do prefeito do Rio, Eduardo Paes, "na Sapucaí não tem crise nunca". "Minha impressão é que nunca vi um carnaval tão bem arrumado, tão bonito como este."
Segunda-feira
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Neste carnaval, a expectativa sobre a segunda-feira é grande. Nela, concentram-se cinco escolas com grande torcida (além da São Clemente) e histórico de vitórias: na ordem, Vila Isabel, Salgueiro, Portela, Imperatriz e Mangueira. Para se ter ideia, a arquibancada dos setores populares, que custa R$ 10, está sendo vendida a R$ 100.
A Portela, dona do maior número de campeonatos, 21, espera que a chegada de Paulo Barros tire o jejum que vem de 1984. Três escolas dividem com a Portela as maiores expectativas desta noite. O Salgueiro criou uma "Ópera dos Malandros" e tem o samba mais cantado até aqui. A Imperatriz homenageia Zezé di Camargo e Luciano e também se apoia na força de seu samba, melodioso e de refrão fácil, que usa o verso "É o amor...", a música mais famosa da dupla sertaneja. E a Mangueira celebra a cantora Maria Bethânia e sua religiosidade no enredo A menina dos olhos de Oyá.
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Já a São Clemente, de Rosa Magalhães, contará Mais de mil palhaços no salão, com direito a "panelaço" no fim.