O enredo campeão ‘Maria Bethânia – A menina dos olhos de Oyá’ foi uma bela e certeira homenagem à cantora baiana, de voz doce e poderosa, que há meio século mexe com os corações dos brasileiros. Além da carreira da artista, a Mangueira passeou pela relação dela com o candomblé, religião afro-brasileira que Bethânia abraçou com muita devoção.
Mas essa não foi a primeira vez que a Mangueira homenageou Maria Bethânia. Em 1994, a escola trouxe o enredo ‘Atrás da Verde e Rosa só não vai quem já morreu’, sobre os ‘Doces Bárbaros’, grupo que, além da própria Bethânia, contava com Caetano, Gil e Gal Costa. Mas o resultado foi ruim. Ficou em 11º lugar. Porém, “este ano não foi igual àquele que passou”, para a felicidade da escola, de Bethânia, dos baianos e de todos os devotos de Oyá.
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— Não. Acordei normal. Nem gosto muito de competição, de apuração. Estou é muito comovida com esse galanteio que a Mangueira me fez, pelos meus 50 anos de carreira e 70 de vida (que vai completar em junho).
— Nada. Não fiz nada. Até mesmo no desfile, fiz apenas o que mandaram fazer. Sou uma menina obediente. Mas a conquista foi uma vontade de Iansã (Oyá).
Muito feliz. A Mangueira merecia isso. Essa homenagem foi muito bonita. Acredito que todos na minha terra (Santo Amaro da Purificação, Bahia) também estão muito contentes.
— Não tenho nada em mente. Estou muito comovida ainda. Olha, começou a ventar aqui (em São Conrado). Acho que Iansã (orixá dos ventos, dos raios e tempestades) está comemorando.
Horas antes do início da apuração do Grupo Especial, o carnavalesco da Portela, Paulo Barros, alfinetou Milton Cunha, comentarista de Carnaval da TV Globo, pelo Instagram. Na publicação, disse para o ex-carnavalesco “se limitar a comentar sobre tons de plumas, faisões de um metro, paetês, brilhos e outras frescuras” e não opinar em quesitos como “técnica de desfile, estudo de um projeto, execução de processo de criação de alegoria”. Nestes casos, escreveu, “se limite a ver e fique quietinho num canto. Deixe isso pra quem entende!”. E culpou a Globo, “que entrega o microfone pra qualquer um comentar!”.
Rainha de bateria da Unidos de Vila Isabel, Sabrina Sato manteve até boa parte da apuração a esperança de vitória. “Minha expectativa é grande. A Vila surpreendeu. Não sei o que se passa na cabeça dos jurados, mas senti na Avenida a mesma emoção de 2013”. A musa estava com marcas de ferimentos nos dois ombros, causadas pelo peso do esplendor de sua fantasia: “Isso sempre acontece”, minimizou.
Entre a indignação, a resignação e a esperança, os portelenses estão inconsoláveis. “Foi muita injustiça, a Portela entrou muito bonita”, disse o revoltado torcedor Luiz Carlos Silva Teixeira, na quadra da Azul e Branca. “Deus vai nos dar força e a nossa hora vai chegar. Eles vão ver e vão ter que nos engolir. Esse resultado foi uma tremenda sacanagem”, criticou Boca, locutor oficial da escola. Já outro folião, Rogério Marques da Silva, mantém o otimismo para adiar o sonho do título para o próximo Carnaval: “No ano que vem vamos continuar tentando. A festa e o amor continuam.” A Rua Clara Nunes, onde fica a quadra, foi fechada no início da tarde. Cerca de 2 mil pessoas acompanharam a apuração no local. A cada décimo perdido, muitas pessoas xingavam os jurados e ainda vaiavam as notas baixas das adversárias.
Já na quadra da Império Serrano, que era favorita a subir para o Grupo Especial, o clima era de conformismo. Os foliões da escola de Madureira acompanharam a apuração pelo rádio e, com a confirmação da vitória da Paraíso do Tuiuti, foram deixando silenciosamente a quadra. No resultado final, sobraram poucos.
Portelense assumido, Eduardo Paes, que desfilou mais uma vez pela escola, não escondeu seu descontentamento com a derrota. “Como eu gostaria de ter tido minha Portela campeã no meu último ano como prefeito. Não deu...”, escreveu em seu Facebook. Mas elogiou a vitória da Mangueira. “Que alegria ver a Verde e Rosa do Morro da Mangueira, vencendo o Carnaval carioca”, publicou, postando um vídeo e uma imagem do dia em que visitou o barracão da escola. E ainda afirmou: “Tem gente que acha que carnaval é supérfluo. Não só é a mais forte manifestação da nossa identidade cultural como aquece e muito nossa economia. Que honra ter podido ser prefeito dessa cidade nos últimos 8 carnavais”, disse, revelando “orgulho em governar uma cidade que tem Mangueira, Portela, Salgueiro e Imperatriz”.