Para estudioso, orixá de Maria Bethânia dribla malandros batuqueiros
Sucesso do enredo do Salgueiro escondia temor de Seu Zé gostar mais das sombras que dos holofotes da Sapucaí
Por gabriela.mattos
Rio - Favorito absoluto ao título do Carnaval antes de a bola rolar, ou melhor, antes de o couro comer na Avenida, os malandros batuqueiros do Salgueiro, representados pela figura de Seu Zé Pelintra, perderam o duelo espiritual para Oyá e sua “menina” Maria Bethânia, da Mangueira.
A badalação em torno do enredo do Salgueiro escondia, até mesmo entre os entusiastas, um certo temor pelo fato de Seu Zé gostar mais das sombras que dos holofotes poderosos da Sapucaí. Mas sua ligação com o samba, aliada à competência dos salgueirenses, falava mais alto. Até o carro abre-alas apagar na Avenida.
Estudioso do Carnaval e sua relação com as religiões de matriz africana, o historiador e colunista do DIA Luiz Antônio Simas, um dos que apostaram no Salgueiro, deu uma explicação técnica e bem humorada para a justa conquista mangueirense.“O Salgueiro fez um dos mais importantes desfiles de sua história. Mas os espíritos devem obediência à Oyá e Seu Zé sabe disso. Oyá é a condutora do babado e assim foi feito”, cravou Simas.
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O rebaixamento da Estácio, que contou a história de São Jorge sem dar importância a Ogum, como o santo é conhecido nas religiões africanas, também tem explicação. “Com um enredo sobre São Jorge onde a Capadócia apareceu mais que Quintino, a escola driblou a curimba e limitou Ogum aos fundos de um carro alegórico. Logo ele, que vem na frente para abrir caminhos. Deu no que deu”, analisou o pesquisador.
Bem-humorado, Luiz Antônio Simas garante que Oyá, Seu Zé e Ogum assistiram aos desfiles. E deu sua versão sobre como isso se deu: “Ogum não deu bola. Orixá guerreiro não é coadjuvante em elenco de apoio. Oyá deve ter dado carteirada em Seu Zé, lembrando a ele que quem conduz é ela. O malandro, que como todo malandro sabe que não é bom bater de frente, se contentou em voltar entre as campeãs (no sábado) para gingar de novo. A primeira lição da malandragem, afinal de contas, é a máxima da sobrevivência nas ruas: manda quem pode e obedece quem tem juízo”, finalizou Simas.
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Pai Sérgio de Ogum critica Estácio de Sá
O pai de santo Sergio Duarte de Ogum referenda as explicações de Luiz Antônio Simas para o resultado do Carnaval carioca. Ele criticou duramente a Estácio de Sá por ter escondido Ogum no desfile.
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“Ogum é santo de cabeça. Tinha que gritar mais alto. Veio escondido no desfile. E Bethânia é menina de Oyá, filha de Yansã, que é tudo. Sem querer me desfazer de Seu Zé Pelintra e todas as entidades, que só praticam o bem, mas Oyá é tudo”, disse Pai Sérgio.