Beija-Flor de Nilópolis tem o melhor samba de enredo de 2017, segundo Júri O DIA
Mocidade Independente vem em segundo e Vila Isabel em terceiro em safra muito elogiada
Por bianca.lobianco
Rio - Dez, nota dez. O bordão criado por Carlos Imperial e adotado por Jorge Perlingeiro parou em Nilópolis às vésperas do Carnaval 2017. Em um ano em que a safra de sambas de enredo é tida como uma das melhores deste século, a Beija-Flor se destaca com a obra de um iniciante no quesito: o compositor Claudemir, que até então era conhecido apenas nos bastidores, por compor sucessos para Zeca Pagodinho, como ‘Ogum’ e ‘Ser Humano’.
A escola de Nilópolis conseguiu doze notas 10, ficando cinco décimos acima da Mocidade Independente de Padre Miguel, que traz outro samba, da autoria de Paulo Cesar Feital, Altay Veloso, Zé Paulo Sierra & Cia, muito elogiado pelos especialistas.
A história de Claudemir com a Beija-Flor é um caso à parte. Torcedor da escola, o compositor nunca pensou em escrever um samba-de-enredo com medo da concorrência desleal presente em muitos barracões. Até Laíla ser apresentado a ele num terreiro de candomblé.
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“Falaram para ele que eu era Beija-Flor e compunha samba. Ele me convidou para ir à escola e disse que lá não tinha sacanagem, que venceria o melhor. Disseram até que ele preferia outro samba. Não sei se é verdade. Mas pelo visto, e pelas notas do DIA, acho que ganhou o melhor mesmo. Estou feliz demais”, festejou.
A compositora e multi-instrumentista Manuela Trindade — para o craque Aldir Blanc uma das melhores letristas da atualidade — rasgou elogios ao samba da Beija-Flor, que conta a história de Iracema, a Virgem dos Lábios de Mel imortalizada pelo escritor José de Alencar.
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“A escola vem com um samba excelente, tanto pela melodia original como pela cadência e letra poética. Contar uma história com simplicidade e palavras de sonoridade expressiva, além da melodia muito bonita”, elogiou a Manu da Cuíca. O cantor e compositor Gabriel Azevedo, do Casuarina, também exaltou o samba nilopolitano. “Tem um refrão perfeito, muito forte, mais uma vez apostando numa temática que cai bem com a escola. E a melodia está linda demais”, avaliou. O jornalista e escritor especializado em escolas de samba Fábio Fabato, torcedor da Mocidade Independente, está empolgado com o samba de sua escola (“o melhor desde 1999”), mas enaltece também a obra de Claudemir & Cia.
“Samba antológico, ousado, lírico, arrojado, a síntese perfeita de uma obra eterna. Promessa de desfile bastante vigoroso, com a marca da agremiação. Vale lembrar que o samba venceu na quadra a partir de um amplo desejo da comunidade”, destacou Fabato.
“É a melhor safra de samba dos últimos 20 anos”, elogia Laíla
Um dos principais nomes do Carnaval de todos os tempos, o diretor da Beija-Flor Laíla, que produz o CD oficial das escolas de samba há impressionantes 49 anos, desde os tempos de vinil, festejou o resultado do Júri do DIA, mas fez questão de elogiar as demais escolas do Grupo Especial.
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“A gente trabalha muito o fundamento do samba de enredo na Beija-Flor, mas também pedimos isso às outras escolas. Precisávamos resgatar a qualidade de antigamente. No ano passado tivemos uma grande safra, mas este ano o pessoal se superou. Há muito tempo não via o Carnaval com sambas tão bons”, elogiou.
Estudioso de samba de enredo, Luiz Antônio Simas lembra sempre que vencer um júri antes do desfile não é garantia de ganhar o Carnaval.
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“É uma obra em processo, que sofre muitos ajustes e só acaba na Sapucaí”, explica. Nos últimos anos, em 2013 o vencedor da enquete promovida pelo DIA sagrou-se campeão na Sapucaí, com a “Festa no Arraiá” de Martinho da Vila e Arlindo Cruz na Vila.
Este ano, a Imperatriz teve o melhor samba, mas quem levou o Carnaval foi a Mangueira. No ano passado, a campeã Beija-Flor ficou em segundo lugar na nossa enquete, vencida pela Viradouro.
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Confira o samba enredo da Beija-Flor:
A virgem dos lábios de mel – Iracema
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Autores: Claudemir, Maurição, Ronaldo Barcellos, Bruno Ribas, Fábio Alemão, Wilson Tatá, Alan Vinicius e Betinho Santos
Araquém bateu no chão A aldeia toda estremeceu O ódio de Irapuã Quando a Virgem de Tupã se encantou com o europeu Nessa casa de caboclo Hoje é dia de Ajucá Duas tribos em conflito De um romance tão bonito começou meu Ceará
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Pega no Amerê, Areté, Anamá Pega no Amerê, Areté, Anamá
Bem no coração dessa nossa terra A menina moça e o homem de guerra Ele sente a flecha, ela acerta o alvo Índia na floresta, branco apaixonado Vem pra minha aldeia, Beija-Flor Tabajara, Pitiguara bate forte o tambor Um chamado de guerra, minha tribo chegou Reclamando a pureza da pele vermelha Bate o coração de Moacir O milagre da vida Me faz um mameluco na Sapucaí
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Óh linda Iracema, morreu de saudade Mulher brasileira de tanta coragem
Um raio de sol a luz do meu dia Iluminada nessa minha fantasia
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A jandaia cantou no alto da palmeira O nome de Iracema Lábio de mel, riso mais doce que o jati Linda demais cunhã-porã itereí
Vou cantar juremê, juremê, juremê Vou contar juremá, juremá Uma história de amor, meu amor É o carnaval da Beija-Flor