Por tabata.uchoa

Rio - Os ritmistas se ajeitam. O mestre dá as primeiras coordenadas. Os ritmistas da Verde e Rosa começam a tocar e, à frente deles, pelo quarto ano consecutivo, vem Evelyn Bastos, a rainha de bateria da Estação Primeira de Mangueira, escola que fecha hoje, às 21h30, o ensaio técnico na Marquês de Sapucaí, no Centro. Este ano, a Mangueira traz o enredo ‘Só com a Ajuda do Santo’. “Quero convidar a todos que gostam de Carnaval para ver hoje o ensaio técnico da escola, com um samba maravilhoso! Venham sambar conosco”, chama Evelyn.

Evelyn Bastos diz que encara com naturalidade as cantadas dos homensArquivo O Dia

PUXADA DE TAPETE?

Quem vê a bela morena de 23 anos acha que a missão de defender a tradicional escola de samba é fácil. Só que não. “Todo ano, tentam puxar o meu tapete. Sempre tentam, ainda bem que existe chão debaixo dele. E se puxarem o meu tapete, estou de salto alto para dar aquela equilibrada, não cair e ainda fazer um floreio (nome de um dos movimentos das rainhas de bateria)”, conta, com humor.

RAINHA PAGA
Um assunto que tira um pouco o sorriso da bela é rainha de bateria que paga pelo posto. “Quem faz isso é para aparecer, estar na mídia. É apelativo e sou totalmente contra. Vim de projeto social. Quando a pessoa paga R$ 300 mil ou R$ 200 mil para vir na frente por um ano, poderia abrir um projeto social na comunidade. Por que não colocar esse dinheiro independentemente do cargo? Isso demonstra o verdadeiro comprometimento com a escola”, defende ela, que é jurada do quadro ‘Acadêmicos do RJ’, do ‘RJ TV’, da Globo.

INVEJA E FOFOCA
Como o posto de rainha de bateria é alvo de muitos interesses, sejam eles midiáticos ou econômicos, o fato é que ele se torna cobiçadíssimo. Existe muita inveja e fofoca nesse universo de rainhas? “Prefiro acreditar que não existe inveja, pois ela é sinônimo de falta de capacidade. E quero acredita que ninguém se intitula não ser capaz de fazer e conquistar algo. É muito feio. Já a fofoca não existe só no meio do Carnaval. Faz parte do ser humano, independentemente de onde esteja. Cabe a gente lidar com certos tipos de coisa”, frisa.

Evelyn no desfile da Mangueira em 2016Rodrigo Mesquita / Divulgação

FANTASIA
Como toda rainha, Evelyn faz questão de acompanhar de perto cada detalhe da confecção da sua fantasia. Ela promete que a deste ano estará ainda mais bonita do que a do ano passado — Fera Ferida. “Sento com o carnavalesco Leandro Vieira. Ele me dá total liberdade, desenha na minha frente. E sabe que não gosto de nada muito pesado ou que me incomode. Gosto sem excessos. Mas a plataforma é fundamental. Desfilo com salto 14 ou 15”, revela. Mas nem tudo são flores. “Machuco mais ombro, por causa do esplendor, e os pés por causa do sapato”, lembra.

DICAS PARA NOVATAS
Para quem quer ser rainha de bateria, vai uma dica de Evelyn. Toda candidata, diz ela, deve ter uma história dentro da escola e precisa se dedicar à agremiação. “Tudo será natural, as pessoas te abraçarão, saberão que você está envolvida de verdade. Para ser uma rainha e reinar entre os seus súditos, é preciso amar e se entregar por completo”, ensina.

SOLTEIRA E FELIZ
Evelyn garante que está solteira (“estou bem e feliz!”) e tira de letra as cantadas que recebe, pessoalmente ou pela internet. “Sempre rolam em qualquer lugar, mas não lembro de nada muito diferente, não”, afirma. Ela não dá muita esperança a quem deseja vê-la nua em ensaio de revista masculina. “Não é algo que almejo, não é um plano. Só uma proposta irrescusável que ninguém vai fazer para eu sair pelada. Não vão ter cacife suficiente”, conta, aos risos, sem falar em cifras.

SEIOS TURBINADOS
A rainha mangueirense é dona de medidas de fazer inveja a muitas mulheres e deixar muitos marmanjos babando: com 1,65 de altura, tem 70 quilos, 166 cm de circunferência nas pernas, 108 cm de quadril. Mas ela também apelou a uma intervenção cirúrgica para dar aquela turbinada nos seios. “Tenho 93 cm de busto depois que comprei. Uso 450 ml de silicone. Fiz em 2015, foi quando apareceu a oportunidade. Não era um sonho de ter silicone, mas fiz natação por muito tempo e tenho estrutura larga de ombro. Quando era mais nova, já até coloquei bojo para ficar bonita na roupa”, confessa. “Fiz a cirurgia escondida da minha mãe, ela não ia aceitar”, entrega.

TREINO INTENSO
Para manter o corpão, Evelyn recorre à malhação. “Em novembro, pego mais pesado, vou no meu extremo. O peso depende muito de cada aparelho. Mas quando chega em janeiro, faço um treino mais de resistência para ganhar tônus muscular e aumento o número de repetições também”, conta.

FILHA DE RAINHA...
Como diz o ditado “filho de peixe, peixinho é”. Evelyn segue os passos da mãe, Valéria, de 47 anos, que foi rainha de bateria da Mangueira de 1987 até 1989. Nascida e crescida na comunidade da Mangueira, Evelyn samba desde os 4 anos, quando foi apresentada à Escola Mangueira do Amanhã, projeto voltado para estimular pequenos talentos na própria comunidade. “Tive uma infância tranquila. Minha mãe sempre foi rigorosa com os estudos e não mediu esforços para que eu estudasse”, derrete-se. “É muito gratificante ocupar um lugar que há 20 anos minha mãe estava ocupando”, completa, orgulhosa.

MOMENTO INESQUECÍVEL
Para Evelyn, 2016 foi especialmente importante. Não só por causa do primeiro título dela como rainha de bateria, mas também porque foi o primeiro desfile sem o intéprete Luizito, que morreu no ano anterior por causa de um infarto. “Quando comecei, ele era diretor dos projetos sociais da Mangueira e me viu crescer. Era como um pai para mim. Foi marcante entrar na Sapucaí sem ele”, recorda, emocionada.

EDUCAÇÃO FÍSICA
Um dos grandes sonhos de Evelyn é terminar a faculdade de Educação Física. Ela está no 7º período na Uerj. “Se acabarem as greves, termino este ano”, torce. Com conhecimento de causa, a morena usa todo o aprendizado na academia e malha pesado para manter o físico. “Eu gosto de pratão. Como tudo: pizza, fast food, feijoada. Não tem tempo ruim. Por isso, sou acompanhada por uma nutricionista. Como muito”, entrega.

CONCENTRAÇÃO E FÉ
No dia do desfile oficial da Mangueira — segunda-feira, dia 27 —, Evelyn acordará por volta das 10h, fará uma reunião com os amigos, almoço com todos e mais tarde vai para a Sapucaí (“Essa é a minha concentração”). A rainha conta que o nervosismo é inevitável minutos antes de entrar na Avenida, mas ela recorre sempre às orações.
“Tenho muita fé. Sou devota de Nossa Senhora de Aparecida. Faço minhas orações e não tem força maior do que a fé. É ela que me move, me tranquiliza e me dá forças para seguir em frente”, destaca. “E vamos vencer este ano novamente!”, promete. 

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