Por thiago.antunes

Rio - Exaltadas no samba de enredo deste ano, 17 lideranças indígenas do Xingu foram recebidas ontem no barracão da Imperatriz Leopoldinense, na Cidade do Samba, ao som da bateria da escola. Com o tema ‘Xingu, o clamor que vem da floresta’, a Verde e Branca vai levar os indígenas à Avenida para celebrar a cultura dos povos das florestas e fazer uma crítica aos desastres ambientais causados pela ação do homem branco.

Uma das figuras mais aguardadas, o cacique Raoni, da tribo dos Caiapós, ressaltou a importância do respeito às diferenças e lembrou que, para que a humanidade evolua, é preciso, antes de tudo, cuidar da natureza.Em seu discurso, Raoni disse que sua luta não se limita ao bem de seu povo, mas ao de todo ser humano, e fez um apelo ao mundo.

Mestre-sala e porta-bandeira fizeram uma apresentação para os homenageados do enredo no barracãoEstefan Radovicz / Agência O Dia

“Não gosto de desmatamento, nem poluição das águas. Não aceito Belo Monte. Não aceito branco fazer mineração. Quero que o mundo ouça isso. A água está acabando, temos menos chuva que antes, o planeta está pegando fogo. Fui criado em um mundo de muita violência, mas aprendi uma coisa: é preciso ter respeito pelos seus parentes.Somos os primeiros habitantes do Brasil”, discursou, na língua de seu povo.

Outras lideranças do Parque Nacional do Xingu também se colocaram contrárias à construção da Usina de Belo Monte, chamada por eles de ‘Belo Monstro’. O Pajé Sapain lembrou que seu povo é o verdadeiro dono das águas e das florestas. “Brasil está fazendo projeto para tirar nosso direito”, pontuou.

Sonia Guajajara, liderança feminina de direitos humanos da tribo, acredita que levar o tema para a Sapucaí vai ajudar a dar mais visibilidade aos problemas decorrentes da construção da usina. “A Imperatriz acertou. Esse samba é um instrumento de defesa dos nossos direitos e pode fortalecer muito a luta”, disse.

Alexandra Montgomery, assessora jurídica do povo do Xingu no caso de Belo Monte, elogiou a agremiação pela escolha do enredo. “Vemos como a secagem do rio tem afetado de maneira brutal a vida deles”. Também participaram o presidente da escola, Luiz Pacheco Drummond, e o carnavalesco Cahê Rodrigues. A Imperatriz será a terceira escola a desfilar amanhã.

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