Rio - Cinco meses depois de anunciar o corte de 50% dos recursos destinados às escolas de samba do Grupo Especial, oficialmente para priorizar as áreas da Saúde e da Educação, a gestão de Marcelo Crivella (PRB) anunciou nesta quarta-feira que seu "Projeto Carnaval Rio 2018" bateu recorde orçamentário, graças a investimentos privados da ordem de R$ 35 milhões, oriundos das empresas Uber e Dream Factory.
O presidente da Riotur, Marcelo Alves, que organiza o carnaval carioca, disse que o resultado mostra que a folia pode ser autossustentável, e garantiu que será "o maior carnaval de todos os tempos".
"É fruto de um trabalho árduo e conjunto entre as esferas do poder público e a iniciativa privada. Nossa missão de garantir que o espetáculo seja apresentado ao redor do mundo, diminuindo o investimento público e atraindo a atenção de patrocinadores para o potencial mercadológico da festa, está surtindo o efeito esperado", afirmou o presidente da Riotur.
Alves afirmou ainda que até o Carnaval, em fevereiro de 2018, a Riotur vai buscar outros investimentos para a festa. Os R$ 35 milhões cobrirão custos operacionais do carnaval de rua, como o fechamento de vias e o serviço de limpeza, os desfiles das escolas de samba na Avenida Intendente Magalhães, os blocos de embalo e enredo, e os palcos e bailes populares que a prefeitura organiza.
"O investimento será destinado a melhorias estruturais e de ordenamento, incluindo segurança, fiscalização, operação de trânsito, comunicação visual, postos médicos e banheiros químicos, além de cinco centros de videomonitoramento, instalados nas áreas de maior circulação", informou a Riotur.
Lei Rouanet
Uma parte também vai entrar na verba que é destinada anualmente a escolas do Grupo Especial. Segundo a Riotur, as 13 agremiações irão receber um total R$ 19,5 milhões, e a Liga das Escolas de Samba (Liesa), R$ 27,5 milhões. Na terça-feira, 28, o Ministério da Cultura divulgou que vai destinar R$ 8 milhões para as 13 escolas, via Lei Rouanet. Os recursos são da Caixa Econômica Federal.
Em junho, a prefeitura anunciou que a subvenção passaria em 2018 de R$ 2 milhões para R$ 1 milhão por escola, o que gerou forte reação das agremiações. Houve ameaça de cancelamento do carnaval e acusações de que Crivella, que é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), que condena o carnaval, age contra a folia por razões ideológicas.
Em fevereiro deste ano, em seu primeiro carnaval como gestor da cidade, ele deixou de ir ao sambódromo, o que é uma tradição entre prefeitos cariocas, e compareceu ao torneio de tênis Rio Open.
As difíceis relações com a prefeitura e a penúria inspiraram a Mangueira, uma das mais tradicionais escolas do Rio. Seu enredo para 2018 se chama "Com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco". A letra diz: "Se faltar fantasia, alegria há de sobrar/Bate na lata pro povo sambar/Eu sou Mangueira, meu senhor, não me leve a mal/Pecado é não brincar o carnaval".
A pouco mais de 70 dias para os desfiles, nos bastidores da Cidade do Samba, onde são montadas alegorias e fantasias, o que se comenta é que 2018 será o carnaval mais pobre dos últimos tempos, uma vez que as verbas estão demorando mais do que o usual a serem repassadas. A crise dificulta aquisição de patrocínios privados.
No mês passado, a Liesa informou que cancelaria os ensaios técnicos da Marquês de Sapucaí, que servem de treino para os componentes, por falta de recursos para realizá-lo. Na ocasião, a Riotur explicou que não repassa verba especificamente para os ensaios, e, sim, um montante fechado, que é usado pelas da forma como elas definem.