Enredo "Baião de Mouros" da Unidos de Padre Miguel mostrou a influência árabe na cultura nordestinaMarcos Porto

Rio - O primeira dia de desfiles das escolas da Série Ouro, nesta sexta-feira (17), foi marcado pela celebração de manifestações e personalidades da cultura brasileira. São Clemente e Unidos de Padre Miguel foram os grandes destaques da noite, que teve, ainda, apresentações da Acadêmicos de Vigário Geral, Estácio de Sá, Acadêmicos de Niterói, Arranco do Engenho de Dentro e Lins Imperial.  
Campeã da Série Prata em 2022 e de volta à Sapucaí após dez anos, a Arranco do Engenho de Dentro abriu a festa com o enredo "Zé Espinguela - Chão do meu terreiro", sobre o jornalista, escritor, pai de santo e sambista José Gomes da Costa, fundador da agremiação que completa 50 anos e organizador da primeira disputa entre escolas de samba. A azul e branca se destacou pela combinação de cores e bom gosto das fantasias. 
A fantasia da porta-bandeira Anderson Morango remetia ao bloco Arengueiros, que deu origem à Estação Primeira de Mangueira. A rainha de bateria norte-americana, Heather Anchieta, e os ritmistas estavam de rosa, também representando a Mangueira. A escola enfrentou dificuldades na evolução, depois que o abre-alas e o último carro tiveram problemas e acabaram formando buracos no primeiro e segundo módulos. Por conta da chuva e do vento, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Yuri Souzah e Gislaine Lira, apresentou movimentos mais lentos. A falta de canto uniforme entre as alas também chamou atenção.
Segunda da noite, a Lins Imperial entrou na avenida com o enredo "Madame Satã - Resistir para existir", uma releitura contemporânea do tema apresentado no Carnaval de 1990, que homenageou João Francisco dos Santos, o Madame Satã, um dos personagens mais representativos da vida noturna da Lapa do século XX. Apesar dos destaques positivos, como a bateria, que ousou nas paradinhas, e fantasias leves e de fácil leitura, a agremiação acumulou problemas ao longo de todo o desfile.

A escola começou a atravessar a passarela do samba em ritmo lento e até chegou a ficar parada em alguns momentos, precisando correr ao final, para não estourar o tempo. A segunda alegoria da agremiação apresentou problemas ainda na concentração e passou incompleta pela Sapucaí, com apenas a parte frontal, e o restante dela precisou ser rebocado. A barra de direção quebrada do carro comprometeu o trajeto, que acabou abrindo clarões e buracos. O canto da escola também deixou a desejar.
A Acadêmicos de Vigário Geral levou para a avenida o universo infantil com o enredo "A Fantástica Fábrica da Alegria". Um dos principais destaques foi a bateria Swing Puro, que fez toda a escola cantar o refrão principal e homenageou o icônico personagem que marcou gerações, Chapolin Colorado. Também chamou a atenção o casal de mestre-sala e porta-bandeira Diego Jenkins e Thainá Teixeira, que se movimentou pelo Sambódromo com graciosidade, alegria e leveza.

A passagem da agremiação ocorreu sem grandes problemas e evoluiu de forma correta, com uma abordagem leve e divertida, que conseguiu animar a Sapucaí. Na segunda alegoria, artistas circenses interagiram com o público e distribuíram guloseimas. Apesar do conjunto de belas fantasias coloridas, alguns figurinos não apresentaram o mesmo padrão de execução e componentes foram perdendo adereços ao lango da passagem pela passarela do samba.
A Estácio de Sá realizou o quarto desfile da noite com o enredo "São João, São Luís, Maranhão! Acende a fogueira do meu coração", que homenageou o ciclo de festas juninas que acontece em São Luís, na capital do Maranhão. A agremiação cruzou a Passarela se destacando com o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira Feliciano Júnior e Alcione Carvalho.
A escola apostou em alas com bom volume de pessoas e componentes espontâneos que conseguiram transmitir alegria para a Sapucaí. Mesmo com um bonito conjunto visual, a Estácio deve perder pontos na apuração, já que a fantasia das passistas não chegou a tempo e elas desfilaram apenas de biquíni e com adereço na cabeça.

Quinta a entrar na Sapucaí, a Unidos de Padre Miguel foi um dos grandes destaques da noite. Com o enredo "Baião de Mouros", que mostrou a influência árabe na cultura nordestina, a escola emocionou o público com o samba na ponta da língua dos componentes, com o conjunto visual pela qualidade das fantasias e o bom acabamento dos elementos cenográficos.

Com 2,5 mil componentes, a evolução da escola seguiu de forma correta, bastante organizada e não enfrentou grandes problemas. Ao final do desfile, a Unidos de Padre Miguel precisou acelerar para não estourar o tempo e a bateria não se apresentou no último módulo de julgamento.
Em sua estreia na Marquês de Sapucaí, a Acadêmicos de Niterói apostou em alegorias gigantescas e fantasias bem acabadas. A escola foi a sexta a passar pela a avenida e o enredo "O Carnaval da Vitória" celebrou os 450 anos da cidade-natal, abordando a volta das festas carnavalescas, após o fim da Segunda Guerra Mundial, que simbolizou um momento de revolução para a folia niteroiense. O desfile levou uma atmosfera leve e romântica dos festejos antigos e soube contar a história com clareza por meio das alegorias e figurinos.

A São Clemente encerrou a noite e levou para o Sambódromo um desfile leve e bem-humorado. Com o enredo "O Achamento do Velho Mundo", a escola da Zona Sul apresentou uma história em que os povos originários americanos seguiram para a Europa para descobri-la. Os grandes destaques foram a comissão de frente, que apresentou uma coreografia com elementos da cultura latina, como o funk. O ator Marcelo Adnet participou da encenação.
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Alex Marcelino e Raphaela Caboclo, chamou atenção pelo sincronismo, segurança e as referências à letra do samba. O bom desenvolvimento e a clareza do enredo também foram pontos altos da preta e amarela, que estava longe da Série Ouro há mais de dez anos. Sem dificuldades, a evolução da agremiação foi fluida, divertida e contou com bastante interação dos componentes com o público. Entretanto, a harmonia pode ser o fator que não garanta o título para a escola, já que algumas alas passaram cantando apenas os refrões.
*Com informações do site Carnavalesco