Cleo grava clipe de Bom Ator com Number TeddieDivulgação

Rio - Cheios de personalidade, Cleo, de 39 anos, e Number Teddie, de 25, se identificaram logo de cara. Os dois se conheceram através dos empresários e dividem os vocais na música 'Bom Ator', que faz parte do primeiro álbum do jovem, intitulado “Poderia ser pior”. O projeto traz reflexões do cantor em relação a temas sensíveis como saúde mental, morte e até sobre o 'divino'. Os artistas comemoram a parceria musical e abrem o coração em relação aos diversos assuntos tratados neste trabalho. 
O encontro dessas duas gerações na música foi muito feliz. "A gente se conheceu por conta dos nossos empresários, que são amigos. Meu empresário ouviu 'Bom Ator' e falou: 'Você precisa ouvir isso porque essa música é você falando. Você precisa conhecer esse menino, você vai ficar louca, ele é a sua cara'. Realmente, fiquei louca e falei: 'Preciso conhecer ele, é meu filho perdido. Não acredito que ele está fazendo essas coisas maravilhosas, que estou me identificando", comenta Cleo. 
Number, então, elogia a parceira. "Foi muito gostoso gravar com a Cleo. Lembro que fui no estúdio no dia que ela foi gravar. Foi aí que a gente se conheceu pessoalmente, e 'bateu' na hora. A gente passou horas conversando no sofá, até que o empresário dela disse: 'Cleo, você precisa gravar'. A gente gravou e foi uma delícia, de verdade".
A canção 'Bom Ator' traz questões de convívio social, comparando-as com um “grande filme”, no qual somos atores interpretando personagens de quem não gostamos muito. "Essa música fala sobre uma coisa que sempre foi uma questão pra mim: como era difícil existir, entender. Não tem um manual. Tudo o que eu olho em volta não parece comigo, como vou navegar nisso? Essas experimentações e sentimentos. É sempre muito especial cantar alguma coisa que você se identifica. E ele tão novo. O que me mais me toca é que é um menino tão novo, talentoso, corajoso, de falar essas coisas, porque as pessoas não falam sobre isso", reflete a artista. 
Number Teddie, então, explica: "Só sei falar disso. Quando eu comecei a fazer o álbum, sempre teve aquela vozinha no fundo da minha cabeça falando: 'vou me expor tanto assim? Vou falar que odeio meu corpo, que me acho horroroso, odeio estar vivo e que quero morrer as vezes', porque minhas músicas vão ficar eternizadas por aí. As pessoas vão ter essa imagem de mim por muito tempo. Mas o que eu escreveria se não fosse isso?", questiona. 
O nome do álbum "Poderia ser pior” pode ser interpretado de duas maneiras por Cleo. "Essa expressão 'poderia ser pior', pra mim, tem esse viés de parecer essa coisa positiva, de estou mal, mas poderia estar pior. Mas existe aquele viés das pessoas não saberem o que estão sentindo, se é uma coisa negativa, e chegam e falam: 'não, mas pensa que poderia ser pior'. E aí você se sente completamente invalidada naquilo que você está sentindo, pensando. Pra mim, vai mais por aí", comenta a cantora. Number também deixa claro que não é uma pessoa muito positiva: "Sou muito negativo".  
Rock in Rio
Number Teddie vai fazer sua estreia nos palcos em grande estilo. Ele se apresenta no palco Supernova, no dia 10 de setembro, no Rock in Rio. "Primeiro show da vida no Rock in Rio. Estou muito nervoso. Todo artista quando é anunciado no festival fica feliz, mas na hora que me deram a notícia que eu tocaria no Rock in Rio, eu falei: 'acho que não vou, vou inventar que estou doente', diverte-se. "Mas começamos os ensaios e está muito legal, estou tocando com uma banda que tem várias meninas incríveis e a gente está fazendo um show de rock. Teremos muita diversão", completa.
O artista também cita o desejo de receber Cleo em seu show para uma participação. E se depender da cantora esse encontro acontecerá. "Com certeza participaria, tem todos os elementos que gosto. Estou bem ansiosa. Somos muito parecidos nesse quesito que quando vem uma coisa muito incrível, dá um medo danado, você fala 'não vou, vou inventar alguma coisa nesse dia', por mais que seja parte do seu sonho. Tenho sonhos e desejos, mas tenho medo dessas coisas. É uma relação complexa, mas estou muito ansiosa, estou muito feliz, com certeza", afirma Cleo, que aceitaria o convite para cantar em um dos palcos do Rock in Rio e mostrar suas músicas para o público. "Claro, com certeza. Vou com medo mesmo, essa é a história da minha vida", frisa, aos risos. 
Vida pessoal
Com a exposição na mídia, muitos fãs acreditam que conhecem o artista em seu íntimo. Cleo diz que aprendeu a lidar com a situação e que a curiosidade em relação a sua vida pessoal não a incomoda. "Acho que é normal. As pessoas se acostumam a ficar te vendo, a consumir as coisas que você faz. É uma sensação mesmo de que você é uma pessoa íntima, conhecida. Hoje em dia não me incomoda mais, entendo o processo, a dinâmica, mas quando eu tinha a idade do Number Teddie, eu ficava me sentindo um alien, invadida, desrespeitada. Mas entendi que isso é uma dinâmica de quando você é uma pessoa que está sendo conhecida por um certo público. E que isso pode ser uma coisa positiva. Isso tem a ver com o seu sucesso, alcance", afirma a filha de Fábio Jr. e Gloria Pires.
Recentemente nas redes sociais, ela, inclusive, tem respondido muitas dúvidas dos internautas. "É uma forma de se conectar de verdade com as pessoas, porque são muitas suposições, achismos... Quando você pega o touro pelo chifre, acho que a coisa muda de figura. Me interessa mais", conclui. 
Number Teddie concorda com Cleo. "Isso é uma coisa que eu tenho em comum com ela, da gente ter essa sinceridade. Qualquer coisa estou abrindo uma live, falando. Nossa, é um péssimo gerenciamento de crise, mas falo tudo. Ou então falo: 'depois escrevo uma música sobre determinada coisa'. Tenho uma relação com meu público, que tem muita gente nova, de irmão mais velho. A gente tem essa relação muito boa. Temos piadas internas, a gente tem essa relação de amizade. Eles sabem de todo o universo da minha vida".
Espiritualidade
Na música 'Deus não quer me conhecer', Number Teddie traz reflexões como' Deus iria me ajudar quando eu sou tão difícil de lidar?'. O cantor fala sobre sua relação com a espiritualidade. "Sinto que estou descobrindo isso agora, sempre tive uma relação traumática com religião, como quase todas as pessoas LGBTQIA+. Agora estou começando a descobrir sobre espiritualidade, sobre me conectar com uma força que pode ser qualquer coisa", comenta o artista. 
Cleo também se manifesta sobre o assunto e diz que está no Candomblé: "Não sou religiosa, sou muito espiritualista. Já estudei algumas doutrinas, cabala, espiritismo. Gosto muito dos dois. Estou há um tempo no Candomblé, é uma doutrina que sou muito apaixonada e que tem me feito muito bem. Me espiritualizar é uma coisa que me ajuda muito, mas nem sempre é fácil, tenho fases muito rebeldes que não acredito em nada. Mas no fim das contas não me faz bem e tenho que voltar para o caminho da espiritualidade. Mas sem dogmas, sem moralismo, espiritualidade e não religião", frisa. 
Medo da morte
Number Teddie constata que vai morrer um dia na música 'Mickey'. Cleo revela que não tem medo da morte. "Só não gosto dela. Acho uma coisa escrota. É um erro no sistema. Uma coisa mal feita da existência. Tenho medo de perder quem eu amo. Não tenho medo de morrer, tenho medo de perder as pessoas. Mas não gostaria de morrer, não, já quis muito. Hoje em dia penso 'aprendi a gostar de viver, agora eu estou aqui. É muita sacanagem me tirarem'. Agora vou ficar aqui também e vão ter que me engolir", brinca ela, que explica porquê já quis morrer. "As vezes você tem sentimentos complexos. Não é tudo tão simples. Pra mim valeu muito a pena investir na vida, a terapia me ajudou muito, amigos, trabalho, arte. Então, hoje eu penso gosto de viver e ninguém vai me tirar daqui".