Rio - Paolla Oliveira se tornou uma referência feminina por levantar bandeiras contra os padrões de beleza e comportamentais impostos pela sociedade. Após seu corpo ser alvo de críticas no período do carnaval, a atriz de 41 anos, que é Rainha de Bateria da Grande Rio, passou a utilizar suas redes sociais como ferramenta para propor reflexões acerca de alguns estereótipos. A artista, inclusive, tem se mostrado cada vez mais "real" para os fãs. Deixou de usar filtros em seus vídeos, de editar fotos, e se delicia da liberdade de ser quem é. Com isso, ganhou uma legião de admiradoras que se identificam cada vez mais com ela.
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"Fico tão feliz, você não tem ideia. Sou apaixonada por gente, por relações... Então, é um privilégio (ser um símbolo para as mulheres)", destaca a artista, que sente o carinho das fãs. "A gente gosta de se identificar. Todas nós gostamos. Fico feliz quando consigo passar por esse lugar de que outras mulheres se identifiquem comigo, sabe?".
Madura e consciente, Paolla tem ensinado muitas meninas com seus conteúdos relacionados à pressão estética, liberdade e aceitação. "Porque eu aprendi. Passei muito tempo em sofrimento. E vi outras mulheres, vi minha mãe. O aprendizado vem normalmente de coisas que a gente sente. Quando a gente sente, vivencia, a gente busca o que é melhor. Falo para você que puxei esse assunto, porque me dei conta. Quando eu falo de tomada de consciência, é porque eu tomei consciência de algumas coisas", ressalta.
E essa mudança não foi repentina. "O processo de conscientização é uma vida. Leva tempo. Mas o que me agrada nisso é que vejo meninas mais jovens, hoje em dia, com um nível de consciência muito maior, aprendendo coisas que levei uma vida. Talvez, elas vão ter outros questionamentos. A internet, por exemplo, é um grande questionamento da juventude... Quando alguém fala sobre a minha idade, eu falo: 'Que bom que estou aqui, que tive tempo de ser quem eu sou hoje'", comenta.
"Eu me inspiro muito em lutas de outras mulheres. A internet abriu um mundo maravilhoso para a gente, que é assistir outras mulheres, ver e ir ao programa de outras mulheres. A gente também se identifica uma com as outras. Mulheres da vida, que estão próximas a nós. Então, essa identificação ajuda na minha maturidade e a construir essa mulher mais confiante", completa.
Saúde mental
Após apresentar o especial "Falas Femininas", exibido na última sexta-feira, sobre exaustão feminina, Paolla conta como lida com sua saúde mental. Ciente de seus privilégios, a artista, que recentemente estava nas Ilhas Maldivas com o namorado Diogo Nogueira, diz que gosta de viajar e afirma ser adepta da terapia.
"Acho que tem muitos recortes dos privilégios também, nos colocam muitas possibilidades. A terapia é uma possibilidade muito privilegiada. Então, tenho essa. Tenho como fazer uma viagem, eu tenho como tirar uns dias do meu trabalho, porque eu basicamente me dou as férias, né? Tenho uma equipe que me ajuda. Quem tem família, quem tem outras situações, às vezes não conseguem fazer isso... Estou falando muito do emocional, no meu caso, porque os meus privilégios também me permitem que eu não tenha exaustão física. Às vezes, a gente tem uma exaustão de trabalho e tudo, mas muitas mulheres têm a exaustão física, porque todo dia que muda, passa e faz", ressalta.
Atento às questões femininas
A artista também conta que Diogo Nogueira é atento às questões femininas e que eles conversam sobre o assunto. "Todo homem tem que estar atento a alguma coisa. São novos tempos. Diogo é um homem criado por mulheres, percebo que desde cedo algumas coisas que já vem sendo colocadas na mente dele. Mas a gente troca muito com isso. Às vezes, ele fala: 'puxa, não sabia disso'. Acho que é quase uma obrigação masculina nos ouvir. Não estou falando em concordar, mas fazer um paralelo com a vida, questionar e e ver como vai caminhar a partir dessas informações. Gosto de dizer que a ignorância é uma bênção. Quando a gente não tem as informações, a gente pode ficar parado. Mas quando a gente tem, tem que caminhar diferente".
'Passei um tempão com vergonha disso'
Aos 41 anos, Paolla optou não ter filhos, no momento. A atriz, que tem óvulos congelados, fala sobre sua decisão e comenta a pressão que sentia para suprir a expectativa de outras pessoas. "Eu passei um tempão com vergonha disso. Eu comecei essa frustração dentro da minha casa. Achava que estava frustrando o meu pai, que queria que eu casasse certinha de véu e grinalda, e tivesse filhos. Você passa uma vida frustrando os outros. Começa dentro de casa, depois você começa a frustrar a sociedade. Então, que horas que a gente vai se fortalecer? Quando a gente vai se satisfazer e não satisfazer os outros? Quando eu falo isso, e eu demorei muito tempo, você não sabe o peso que saiu de mim. E não tem a ver com maternidade, não teve com nada. Tem a ver com uma vida, que é a minha pequenininha, diante do todo. Se eu não puder decidir sobre essa, o que vai ser de mim?", reflete.