Rio - A cantora Leci Brandão, 79 anos, rebateu o comentário polêmico feito por Ed Motta, que afirmou que quem gosta de hip-hop é burro. Bastante incomodada, a cantora e deputada por São Paulo fez uma publicação nas redes sociais segurando recados direcionados ao músico, nesta sexta-feira (14).
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"'Quem ouve hip-hop não é burro', 'ouvir e fazer hip-hop é resistência'; e 'quem ataca hip-hop é elitista'", foram algumas das mensagens mostadas pela sambista, com mais de 50 anos de carreira.
"Quem acha que representa a cultura preta e não reconhece o hip-hop, tá de chapéu atolado", seguiu ela. "Entendedores entenderão. E fim de papo", concluiu a cantora, que recebeu muitas mensagens de apoio de internautas. Teresa Cristina exaltou: "Rainha faz assim!!! Viva Leci!".
"Tão difícil ver e ouvir essa expressão 'burro' vindo de quem veio né? Impressionante como algumas pessoas desprezam a cultura e suas origens É isso, somos resistências, na verdade, nunca saberá o que é ser resistência… Ele nunca precisou fazer militância, ele nunca precisou lutar por nada e sim sempre usou referência para abrir portas infelizmente kkk talento são para poucos", escreveu uma seguidora.
Madrinha do rap
A ligação de Leci com gêneros como rap e hip-hop é antiga. A artista é considerada a "madrinha de rap". Em 2001, ela gravou o primeiro clipe da carreira e contou com uma ajuda especial. "Não por acaso, o artista que me deu este presente foi o meu afilhado Rappin' Hood, com a parceria 'Sou Negrão', no álbum Sujeito Homem", contou ela no Instagram, em fevereiro de 2015.
"Este é um momento na minha carreira do qual me orgulho muito porque o samba e o rap dialogam de várias maneiras, além de serem gêneros que foram criminalizados e combatidos pelo Estado em suas origens", completou.
Após trocarem homenagens em suas composições, Mano Brown e Leci gravaram juntos, em 2006, "Deixa, Deixa", faixa do DVD e CD "Canções Afirmativas".
"Também compus uma canção chamada 'Pro Mano Brown' e tenho dito, há anos, que o gênero musical que mais aborda a verdadeira realidade das periferias hoje no Brasil é o rap", escreveu Leci na rede social em outra ocasiao.
A artista também é conhecida pela forte defesa da cultura popular em seu mandato. "Os MCs cantam verdades que a sociedade em geral finge não ver e isso incomoda muito. A nossa história com o hip-hop começa muito antes de nós chegarmos ao Parlamento Paulista. Ao ocupar uma cadeira na Alesp, fiz questão de legislar em favor do fomento e do respeito a esta manifestação, que só eleva e enriquece a cultura brasileira com tantas formas de expressão diferentes", disse a cantora em fevereiro de 2014, ano em que a escola de samba Vai-Vai foi criticada por homenagear os 50 anos do movimento hip-hop no Carnaval.
Entenda a polêmica
Ed Motta, de 52 anos, se tornou assunto nas redes sociais por causa de uma declaração polêmica feita durante uma live no Instagram. O cantor disse que quem ouve hip-hop é 'burro' e gerou revolta em alguns internautas. Na ocasião, ele ainda detonou o apresentador Rafinha Bastos e se declarou preto.
"Eu não sou branco, p*rra. Eu sou preto, mas eu represento o que a raça tem de mais sofisticado. Qualquer um que ouve hip-hop é burro. Qualquer um, qualquer um. Sem exceção. Outro dia, eu vi um trecho de uma entrevista desse bobalhão, Rafinha Bastos. ‘Ah, porque hip-hop é o tipo de música que eu mais gosto de ouvir’. O cara é um imbecil" afirmou o artista.
Em seguida, Ed respondeu o comentário de um internauta e revelou o que uma pessoa inteligente costuma a ouvir. " O que alguém inteligente ouve? Jazz, música clássica".
Os usuários das redes sociais repercutiram a declaração do cantor. "Quem ouve Ed Motta é burro", disse um. "Essa fala do Ed Motta é uma das coisas mais preconceituosas que já ouvi de um músico, ainda mais sendo negro como ele é. O Ed Motta não vem de onde a gente vem, logo ele se sente numa posição superior", comentou um usuário do X, antigo Twitter. "No dia que eu for burro igual Black Alien, Emicida, Coruja, Djonga e Mano Brown eu estou bem", provocou outro. Alguns internautas também lembraram que Ed já cantou com Mano Brown, em 2017.
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