Ananda se pronuncia depois de prestar queixa contra Ana Paula MineratoReprodução de vídeo / Instagram
"Foi muito difícil fazer esse pronunciamento mas resolvi fazê-lo trazendo uma dose de letramento racial e um pouco da minha história. O que não podemos mais é aceitar que atitudes racistas fiquem impune. Racistas não passarão! Quero justiça e destinarei o valor da indenização para projetos de educação antirracista e de gênero", escreveu Ananda na legenda da publicação.
No vídeo, ela fala sobre as ofensas racistas que recebeu. "Eu fui a pessoa a quem foram proferidas essas palavras. Mas aí ela 'cutucou' um negócio muito maior. Ela foi num lugar muito maior. Fui vítima disso por conta dos meus traços de africanidade, onde ela fala sobre minha família, meus pais, minhas tias e falam sobre os meus colegas de trabalho", iniciou a cantora.
"Eu estou muito chateada de ter sido exposta dessa forma. Eu sou bem reservada, bem na minha, embora vocês conheçam como potente e forte. Sou potente e forte, mas sou na minha, mais introvertida. Então, isso pra mim vai ser positivo porque a gente vai poder falar sobre isso mais uma vez", disse a artista.
Ela aproveitou para rebater as críticas de que estaria se "aproveitando" da situação. "Se é pra dar palco para isso, que seja. Mas não era a minha vontade. Então, para de falar que eu estou me aproveitando dessa pauta porque não é sobre isso, não é mais sobre mim. Não se distraiam, foquem no que realmente é importante. 'Ai, porque ela é branca'. Foram palavras racistas que foram direcionadas a mim", continuou.
A cantora também contou sobre a dificuldade de se encaixar por ter traços miscigenados. "Mas que é uma pessoa racista, ela cometeu um crime. Ela fez um pedido de desculpas mas cometeu um crime, e isso tem que ser visto como crime, dando a seriedade que o assunto tem. Existe essa questão de eu ser vista dessa forma por conta dos meus traços negroides. Essa confusão porque tenho a pele muito clara. Então como é isso? Como ela se encaixa? Porque ela é muito branca pra ser preta, mas muito preta pra ser branca? Então, entra outro assunto que não vou falar agora sobre isso, porque ainda não tenho o letramento correto pra falar sobre, e aí a gente vai falar com especialista, que são os pardos de pele clara. Onde eu me encaixo por ter traços negroides, mas ser uma pessoa de pele branca".
"É um assunto que é pouco explorado, embora pessoas como eu sejam muitas no Brasil. É um assunto muito complexo de se falar. Então, a gente vai entrar em outro momento. Porque eu, como disse, estou fazendo um letramento racial para entender melhor isso. Porque é um assunto novo pra todo mundo. Infelizmente, a gente não aprende isso na escola. O que é muito contraditório porque é lá que começa isso [racismo]. Porque na escola você entende que é diferente."
"É ali [na escola] que começa tudo isso. É onde você se sente humilhado, eu sofri algumas humilhações e algumas violências em relação a isso. Não só com bullying, mas com falas que me atravessaram. Então, esse problema começa aí e tem que ser tratado aí. Porque talvez não estejam explorando de forma adequada as nossas diferenças. E a gente vive em um país extremamente miscigenado, aqui a gente tem uma mistura de tudo. Eu sou uma pessoa miscigenada. Você olhar pra mim e dizer que não, você estará sendo leviano. Nesse momento, onde eu sou agredida e sofro essas violências e esse bullying, eu fico com raiva de ser quem eu sou. Com vergonha de ser quem eu sou. E ali eu desejo ser branca do cabelo liso. Chego em casa e digo para minha mãe: 'Eu não quero mais ser assim", relembrou.
Ananda recordou que passou 10 anos alisando o cabelo por conta dos comentários racistas. "Eu passei muito tempo com cabelo alisado, foi uma década. E dentro desse tempo, eu entrei na fase adulta, onde tenho uma transição [capilar] interna. Primeiro uma aceitação interna, onde eu me encho de consciência e de amor-próprio, e eu entendo que devo ser quem sou, que sou adequada do jeito que sou, não só pelo meu cabelo, mas pelo meu jeito".
"E dentro desse processo interno, ele invade o meu externo, e eu escolho fazer uma coisa chamada transição capilar. Graças ao movimento do feminismo negro acerca desse assunto, a gente ganha um lugar na prateleira, nos produtos", concluiu.
Entenda
Segundo ela, o ex-namorado dizia que queria três coisas dela: "Que eu indicasse ele para um reality, que a música dele tocasse na Band, que eu postasse ele nas minhas redes sociais e isso eu escutei várias vezes", disse, sem citar o nome dele.
"Essa pessoa voltava na minha vida, fazia o maior inferno, fazia uma pressão psicológica gigantesca falando que queria me engravidar, que queria fazer um filho em mim. Eu até fui ver se estava tudo certo comigo, com meu corpo, porque eu não queria me engravidar... Só eu tinha medo também de me afastar e acontecer o pior".
"Quando foi na última sexta-feira, eu consegui colocar um ponto final porque eu já tinha sido invadida de tudo que era jeito, tudo que era jeito. Já pegou meu celular, pegou coisas minhas, muitas coisas minhas. Ele tava sendo muito abusado. Até vídeo nosso íntimo, ele gravava e eu ficava com muito medo também de algum vídeo dele vazar. Esses eram um dos motivos que eu ficava próxima também", revelou.
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