Além de atriz, Jacqueline Sato já se destacou como apresentadora Tiago Carvalho / Divulgação
Jacqueline Sato revela que já teve dependência emocional: 'Não é saudável'
Intérprete de Yuki em 'Volta por Cima', a atriz celebra retorno à TV Globo, fala sobre representatividade asiática e entrega planos para 2025
Rio - Jacqueline Sato, de 36 anos, vive uma grande fase na carreira com o retorno à TV Globo após seis anos de ausência. Conhecida por papéis em novelas como "Além do Horizonte" (2013), "Sol Nascente" (2016) e "Orgulho e Paixão" (2018), a atriz agora dá vida a Yuki em "Volta por Cima", folhetim das 19h, com uma personagem marcada por um passado doloroso e um relacionamento abusivo com Gerson Barros (Enrique Diaz).
A atriz compartilha que a preparação para interpretar a personagem foi desafiadora e emocionalmente intensa. "É bem difícil e angustiante, mas é nesse sofrimento e na ânsia por superar essa dor, essa dependência, que construí o caminho da Yuki em relação ao amor. Acredito que quem vive relacionamentos abusivos, em geral, demora muito a perceber que está vivendo isso, e é um processo muito doído assumir para si e tomar uma atitude. Custa muito. Porque é necessário se despedir de uma relação que, embora doente e que te faz mal, envolve amor, ao menos por parte da vítima", opina.
Para Jacqueline , Yuki sofre com a Síndrome de Estocolmo, um estado psicológico que ocorre quando uma pessoa desenvolve uma ligação emocional com seu agressor. "Ela ficou completamente dependente dele, que, detendo o poder, a mantinha presa. Era vigiada a todo o momento, tendo que se manter sempre impecável, maquiada e pronta para agradá-lo. Fora os maus tratos. E, sabendo dos crimes que ele comete, até medo de perder a vida ela teve e tem; há uma relação de dependência psicológica gravíssima. Existe esse entendimento racional, e depois é trazer isso para o corpo. E aí, uso de diversas ferramentas, a depender da cena, mas o principal é se colocar naquela situação e viver verdadeiramente essa circunstância imaginária. Que só de imaginar já é horripilante, traz diversas sensações e sentimentos."
Apesar de nunca ter vivido um relacionamento abusivo, a artista admite que já passou por experiências de dependência emocional. "Me permiti chegar a um estado de dependência emocional que não é saudável", confessa ela, que celebra seu retorno à TV Globo.
"É maravilhoso! Há uma sensação de familiaridade que me estimula e traz conforto, segurança de voltar para um lugar que conheço e onde já fui muito feliz trabalhando. O que mais gosto nesse momento da carreira é poder dar vida a uma personagem tão interessante e intensa como a Yuki, e estar confiante com o desafio. Com frio na barriga, sim, mas aquele frio na barriga bom, que nos impulsiona."
Programa "Mulheres Asiáticas"
Além da trajetória como atriz, Jacqueline se destacou como produtora e apresentadora do programa "Mulheres Asiáticas", exibido pelo canal E!. O programa celebra a diversidade e desconstrói estereótipos sobre mulheres nipo-brasileiras, tema que é particularmente pessoal para Jacqueline. "Eu materializei pela primeira vez uma ideia minha que saiu do papel em branco. Meu primeiro projeto como criadora, roteirista e produtora, e aprendi que eu posso ir muito além do que eu acreditava que podia."
Ela, então, revela qual foi o maior aprendizado nesse projeto. "Experienciar o poder do coletivo e o poder de cura que há quando conversas necessárias, em ambientes seguros, acontecem. O que eu vivi de momentos de vulnerabilidade com as convidadas, o que eu me surpreendi com a história de cada uma delas, com seus desafios e superações, o que cada uma de nós despertou umas nas outras através dessa partilha, tem um valor imensurável."
Jacqueline acredita que o audiovisual pode ser um agente transformador na desconstrução de estereótipos sobre as culturas asiáticas. "O imaginário coletivo é altamente alimentado pelo audiovisual, que pode, sim, colaborar para grandes transformações, pois tem um poder de influência enorme. Acredito que quanto mais bons personagens, e espaço para pessoas reais, como fizemos no 'Mulheres Asiáticas', mais chances temos de que o mundo veja que somos muito além do que o que projetam sobre nós."
Representatividade
Como mulher nipo-brasileira, Jacqueline relembra os desafios que enfrentou durante a juventude pela falta de referências na TV e no cinema. "Influenciou desde a baixa autoestima, o desejo de ser diferente de quem eu era quando criança — especialmente no que dizia respeito às características ligadas à racialidade —, até a vontade de, de certa forma, negar esse lado da minha ancestralidade. Também no meu jeito de ser, justamente por não querer corresponder aos preconceitos que eram projetados sobre mim".
Ela afirma que essa ausência impactou seus sonhos. "Eu duvidei, quase desacreditei ser possível fazer o que, hoje, faço: ser atriz, apresentadora, e, mais recentemente, roteirista e produtora. Quando a gente não tem referências de pessoas ocupando aquele espaço, o que já parece distante e difícil, como é essa carreira, passa a parecer impossível."
Carreira e vida pessoal
Com uma carreira multifacetada, a artista tenta equilibrar as demandas profissionais com a vida pessoal. "É um aprendizado constante. Tem horas em que é muito difícil manter tudo equilibrado, mas busco realizar tudo com o maior estado de presença, seja na intensidade do trabalho, quanto nas horas livres. Fico atenta a realizar pausas. Medito diariamente, isso me ajuda demais. E recarrego minha bateria no silêncio em meio à natureza, sempre que possível. É o que mais me traz de volta para o eixo."
Com muitas conquistas profissionais, a atriz revela os projetos que ainda deseja se aventurar: "Quero protagonizar filmes e séries, trabalhar internacionalmente e criar projetos que promovam mais representatividade para nós, asiático-brasileiros", lista.
Expectativas para 2025
Neste ano, Jacqueline quer acreditar mais em si e ter mais realizações profissionais. "Espero que 2025 me surpreenda positivamente, que aquilo que eu desejo, a vida vá lá e me traga ainda mais e melhor, pois é isso que vem acontecendo. Que eu realize os outros projetos em que estou como produtora e roteirista, e que eu protagonize e antagonize projetos pelos quais eu esteja apaixonada".