Feyjão reflete sobre nova fase ao lançar ’Lado B’ de ’Passageiro do Bem’: ’Resultado da minha raíz e essência’Divulgação
– Feyjão, o "Lado B" de Passageiro do Bem teve várias inspirações na MPB, na música regional do Nordeste, do pop brasileiro e até do pop rock dos anos 1990 e 2000. De que maneira você transmitiu esses elementos no novo álbum? Qual a importância deles na sua arte?
O "Lado B" de Passageiro do Bem é exatamente isso, uma grande mistura de influências entre MPB, música regional ali dos cantos do país – dos miolos –, muita influência do pop e do pop rock dos anos 1990 e 2000. Eu acho que isso pode ser visto nos timbres ali, na sonoridade dos coros, dos teclados, das guitarras, sempre misturadas nos pandeiros, nos cavaquinhos, nas cuícas. Então, acho que essa fusão acaba forjando um novo som, que é o Passageiro do Bem, que é o som do Feyjão, que está se apresentando como uma novidade.
– Para você, o que é ser um "passageiro do bem"? Qual o segredo para se "conformar com o que tem e ser feliz agora"?
Eu acho que ser um passageiro do bem é realmente entender que essa vida passa uma vez só, que ela é uma grande viagem, que é muito melhor ser do bem, levar as coisas boas na bagagem, deixar as coisas ruins e mazelas – que inevitavelmente vão aparecer pelo caminho – nas estações passadas e focar nas próximas estações para se ter felicidade sempre. Ou pelo menos para buscá-la sempre. Porque isso é ser um passageiro do bem: fazer o bem sem olhar a quem. Parece um clichê, mas é um fato que eu acredito que deve ser seguido.
– De que maneira o novo álbum celebra a sua ancestralidade?
Esse álbum celebra minha ancestralidade quando eu pego como exemplo os grandes da música preta da história, que já são os meus ancestrais, indiretamente. Então, tem muita expressão da música deles, tem muito exemplo do tipo de sentir, que é fazer música sem rotular gênero. Eu acho que os meus grandes ídolos, que são Djavan, Gilberto Gil, Luiz Melodia, Tim Maia, Jorge Ben Jor, Elza Soares, Alcione, todas essas pessoas são artistas que, não por acaso, cantam uma música que vem da alma e do coração, que independem do gênero. Isso tudo está transmitido ali através dos tambores, dos ritmos e das claves. Tudo isso leva de volta para o lugar ancestral, apesar de ser moderno sempre.
– A partir de agora, você pretende trilhar a sua carreira musical com esses elementos que inspiraram o "Lado B", seguir nas suas raízes – o "Lado A" – ou mesclar ambos?
Eu acho que, a partir de agora, quando eu faço essa transição do "Lado A" – o que foi tradicional na minha vida e o que são as minhas raízes – e passo para o "Lado B" – que é o que isso me gerou sonoramente, todas essas influências e raízes que se transformaram dentro da minha música –, acho que daqui para frente eu serei mais o "Lado B", que é o produto, o resultado de toda a minha raiz e essência. E é esse caminho que eu vou seguir, esse tipo de som que eu vou fazer.
– Apesar de inspirações em outros estilos, o projeto reafirma suas raízes através do tamborim, cavaquinho, pandeiro e da cuíca. Qual a importância do samba na sua vida?
O samba vai sempre ser o apoio da minha música, a espinha dorsal ali, a coluna. Depois dali vêm as vértebras, que são os outros gêneros, as outras influências. Mas a coluna, a espinha, o alicerce, as vigas, é o samba. Eu sou um músico que veio do samba, eu vivi do samba durante a minha vida inteira, então acho que o samba vai estar sempre perfumando a minha música para qualquer gênero que eu ataque. Vai sempre ter aquele cheirinho ainda de samba, porque o samba está dentro de mim e todo o resto veio depois.
– Na primeira parte do álbum, você recebeu participações para lá de especiais com Zeca Pagodinho, Mart’nália e Xande de Pilares. Como foi o trabalho com esses artistas?
Essas três participações legitimam a minha permanência nesse lugar, que é o samba. Serviram para me incentivar, me reconhecer nesse lugar e me entender como um par desses grandes artistas. E eles me reconhecerem como um par e aceitarem estar ali no meu disco, do meu lado, sendo meus amigos e carimbando ali a legitimidade da minha presença nesse ambiente, que é o samba, foi muito valioso para mim.
– O novo álbum é um misto de diferentes referências. Seu gosto musical é eclético? Quais canções e ritmos integram a sua playlist pessoal?
O meu gosto musical é muito eclético, e o "Lado B" também retrata isso. Eu acho que eu sou um eclético doentio, porque eu amo o Chico Buarque, mas também adoro o É o Tchan! e Claudinho & Buchecha. Não vou cometer a soberba de falar toda, mas também conheço a maioria da obra do Djavan, Gilberto Gil, Chico Buarque, Caetano Veloso, Luiz Melodia, Tim Maia e do Jorge Ben Jor. Mas, ao mesmo tempo, eu também sou Thiaguinho, Ferrugem, Mumuzinho e os caras da minha geração, que eu admiro muito... Belo... alguns um pouco mais velhos, outros um pouco mais novos, mas todos da mesma faixa, do mesmo tempo. E as músicas dos cantos do país eu amo, não só amo como conheço e ouço as do Nordeste, como Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Raimundo Fagner, Elba Ramalho, Dominguinhos, Fafá de Belém... Eu sou uma pessoa absurdamente eclética, e o retrato disso é a minha música.
– Feyjão, você nasceu em Campo Grande, Zona Oeste do Rio. Sendo cria de "Big Field", como foi seu início na carreira artística e como avalia o momento atual?
Eu sou cria de "Big Field". Morei lá por 32 anos da minha vida. Fui sair de Campo Grande oito anos atrás apenas. E no meu início de carreira eu tive muita sorte, porque, logo no começo da minha entrada na música, eu conheci o Mumuzinho, que foi um amigo que caminhou comigo durante muitos anos. Sempre estivemos juntos, nunca nos perdemos, apesar de ter um momento em que eu descobri que queria aparecer com Luiz Melodia e ele queria aparecer com Alexandre Pires [risos]. A gente tinha uma estética sonora diferente, e em algum momento eu entendi isso, mas a gente nunca se soltou. A gente continuou caminhando paralelamente. Então, isso influenciou muito ali essa coisa da Zona Oeste. Depois, até o Ferrugem, que também é cria de Campo Grande, foi um grande aliado meu. A gente se ajudou muito nessa vida e segue se ajudando e sendo parceiro. Eu acredito que meu início de jornada ali em Campo Grande foi de muita sorte, uma geração que gerou frutos muito preciosos e valiosos. Acho que o momento atual é o resultado de toda a luta que começou lá, todo o aprendizado e todos os ensinamentos que começaram lá. E depois eu andei muito pelo Rio de Janeiro, pelas rodas de samba, pelas bandas, toquei com o Pretinho da Serrinha, toquei com a Maria Rita cinco anos na estrada... então tudo isso foi me dando essa casquinha, que ainda é uma casquinha. Minha carreira é muito recente, mas é uma casquinha grossa, cheia de significado, aprendizado e bagagem.
– Quais são os projetos futuros?
Tenho um projeto de exaltação dos meus heróis, que eu ainda não sei como vai se chamar, mas é um projeto em que eu quero cantar um pouco do repertório dos grandes heróis da música preta brasileira, heróis e heroínas. E esse é o projeto que eu tenho mais claramente, assim, na minha cabeça. E que já, já vamos desenhar um pouco melhor e tirar do papel.
– Você foi um dos autores do samba-enredo da Unidos da Tijuca no Carnaval 2025. Como foi a experiência? Pretende compor mais sambas-enredo?
Foi uma experiência incrível atravessar a avenida cantando um samba-enredo que a gente fez na sala de casa. E uma experiência inusitada também. Foi um samba-enredo composto com a Anitta, uma artista pop que colaborou profundamente e imensamente na composição desse samba. Ao contrário do que muitos pensam, ela foi uma pessoa extremamente importante nesse processo de composição. Não tirando a importância dos outros parceiros, mas ela foi muito importante. Foi uma experiência incrível, inusitada e imensuravelmente feliz. Uma sensação que jamais vou esquecer da minha vida. Agora, se eu vou compor outro samba-enredo na minha vida, não sei. Eu quero seguir invicto, porque foi a primeira vez que eu compus e ganhei na primeira, ou se eu vou me colocar, me expor ao risco das frustrações de tentar outra vez, mesmo sabendo que é muito difícil ganhar samba-enredo.
– Você tem muitas amizades, incluindo Carolina Dieckmann. Como é a sua relação com ela? Você, inclusive, cantou no aniversário de 47 anos da atriz, em setembro. Como foi fazer parte desse momento especial ao lado dela?
Uma amizade muito preciosa. Eu toquei não só no aniversário dela de 47 como no de 40 anos. Foi muito marcante. Foi o início da minha carreira solo praticamente, porque eu ainda fazia parte de outras bandas, e foi ali que as pessoas começaram a olhar para mim como um artista solo. Depois desses 40 da Carol, a gente teve, nesse intervalo, o Karolkê, um projeto que a gente fazia em dupla no teatro com uma espécie de karaokê cantando sucessos da música brasileira, só eu e ela, de violão e vozes. É uma amiga muito preciosa. Uma amizade muito agregadora na minha vida. Tenho muita sorte de ter tão bons amigos.






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