Volta Priscila estreia no Disney+Divulgação

Rio - O caso do desaparecimento de Priscila Belfort, irmã do lutador Vitor Belfort, que está completando 20 anos sem ser elucidado, virou tema de um documentário disponível no Disney+ a partir desta quarta-feira (25). Com quatro episódios, "Volta Priscila" resgata a trajetória da jovem, que sumiu aos 29 anos, no dia 9 de janeiro de 2004, depois de deixar o trabalho, na Secretaria Municipal de Esportes e Lazer do Rio, no Centro, no horário de almoço, 


"Nossa ferida ainda não foi sarada e nunca vai ser. Pelo fato da Priscila não estar aqui com a gente, porque a gente não sabe o paradeiro dela, o que foi que aconteceu... No documentário a gente vai ver as lacunas, o que tem que se voltar a fazer porque eu falo que não existe o culpado. O culpado é aquele cara que não quer voltar atrás e fazer o certo. Tenho certeza que quem está cuidando do caso da Priscila hoje, que foi aberto, vai poder voltar atrás e entrar nas lacunas que foram deixadas. Isso é uma coisa que a gente espera", afirma Vitor Belfort.
Na época do ocorrido, o lutador estava recém-casado com Joana Prado, a Feiticeira do "H", de Luciano Huck, na Band, programa que fez muito sucesso no final dos anos 90. O casal cancelou a lua de mel com o desaparecimento.

Com direção de Eduardo Rajabally e direção de conteúdo pesquisa de Bruna Rodrigues, a série documental convidou autoridades policiais que investigaram o desaparecimento de Priscila, assim como as atuais, a gravarem depoimentos. No entanto, ninguém foi autorizado pela Polícia Civil a comentar. A reportagem de O DIA procurou William Medeiros, atual delegado titular da Delegacia Antissequestro, que orientou que o caso deveria ser tratado com a assessoria de imprensa da corporação. 

Em resposta ao e-mail enviado, a Secretaria de Estado de Polícia Civil (Sepol) disse que "se solidariza com a dor da família. Desde os primeiros momentos, todos os recursos disponíveis foram empregados a fim de elucidar o caso e esclarecer o paradeiro da vítima. Inúmeras diligências foram realizadas e diversas linhas de investigações foram checadas. Vale ressaltar que todas as denúncias relacionadas ao caso foram e continuam sendo exaustivamente apuradas pela Delegacia Antissequestro (DAS)".

A assessoria confirmou que o inquérito "segue aberto", mas não informou desde quando.
Passos reconstituídos

Além de mostrar inúmeras linhas de investigações frustradas, prisões, operações em morros cariocas, abordar temas que aumentaram a dor da família - como boatos de que a jovem teria envolvimento com drogas e dívida com o tráfico - e até falsas autorias para o suposto crime, o projeto mostra momentos de Priscila com a família e viagens em vídeos e fotos, trechos de um diário e cartas para amigas e ex-namorados. Nos depoimentos, familiares relembram um período em que ela teve depressão na adolescência após uma temporada de intercâmbio nos Estados Unidos.
Jovina Belfort, mãe de Priscila, conta que passou quatro anos mergulhada nas memórias da filha durante  pesquisas e gravações.

"Foram quatro anos de dor, e eu fiquei doente mesmo, porque era muita emoção. Peguei filme deles crianças, slides de uma viagem que a gente fez ao Havaí, que foi muito bom para todos dois. Foi muito difícil, rever, escutar a voz dela. Isso foi muito difícil, mas, como o Vitor fala, eu tinha um objetivo, e realmente isso me levou até o final feliz, de poder mostrar quem era a Priscila verdadeira, como ela era amada pelas amigas, foi um parto diário, mas realmente foi muito bom o resultado", revela.

Para amenizar a dor e o vazio de ter uma filha sumida, Jovita abraçou a pauta e atua como Superintendente de Pessoas Desaparecidas e Documentação Básica, da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro.

"Só conhece mesmo essa dor, quem passa por ela porque ela é tão sobrenatural, tão desumana. Conhecer essa dor só quem passa por ela, diferente da morte", diz Jovita, destacando a importância do acolhimento às mães de desaparecidos.


'A investigação em si deixou muito a desejar', diz Joana Prado
Joana Prado, cunhada de Priscila, participou do documentário e contribuiu para definir a personalidade e o jeito tímido e reservado. A família questiona o porquê da polícia não ter investigado melhor o ex-namorado da jovem, descrito como filho de um homem poderoso do Rio de Janeiro. 
"A investigação em si deixou muito a desejar", disse Joana, que precisou ser o suporte do marido. O lutador enfrentou depressão e muita revolta após o sumiço.
Poucos dias após o desaparecimento, Vitor Belfort conquistou o cinturão do meio-pesado do Ultimate Fighting Championship (UFC). Na ocasião, ele usou uma camisa com a foto da irmã e fez uma homenagem. "Só pensava nela quando entrei no ringue", recorda o lutador.