Jornalistas da GloboNews trocam acusações e discutem ao vivoReprodução de vídeo / X

Rio - A jornalista Sandra Coutinho e o comentarista Demétrio Magnoli protagonizaram uma discussão ao vivo durante o programa "Em Pauta", da GloboNews, nesta sexta-feira (1º), e trocaram acusações. O desentendimento começou quando os convidados debatiam sobre as eleições presidenciais dos Estados Unidos. Inicialmente, a correspondente da Globo em Nova York citou a dificuldade da candidata democrata Kamala Harris de conquistar votos de homens negros.
"Deveria ser um eleitorado que vota nela pela questão da representatividade", analisou. A jornalista destacou que muitos norte-americanos não votarão em Kamala "principalmente pelo fato de ela ser mulher".

Demétrio Magnoli, então, levantou o dedo pedindo a fala. "A maioria dos homens negros continua votando nos democratas, na Kamala Harris, não no Trump. Mas a redução da vantagem entre homens negros é explicada pelos homens negros em pesquisas qualitativas por razões econômicas. Eles dizem 'a economia não está funcionando para mim, então, eu quero mudança'"'.

Sandra, então, refutou a fala do colega. "As pessoas têm vergonha de dizer que são misóginas. Eu acompanhei várias na Geórgia e Carolina do Norte que não querem uma mulher na presidência. Desculpa, eu sei que pauta identitária ninguém mais tem paciência, mas nesse assunto quem tem lugar de fala sou eu. O caminho para as mulheres é mais difícil".

O comentário não agradou Demétrio. "Eu tenho lugar de fala também porque sou um analista político", rebateu ele. "Não, como mulher, não. Você é mulher?", disse Sandra, aos risos. A jornalista tentou explicar, mas foi interrompida pelo colega. "Eu estou querendo dizer... Mas você está fazendo 'mansplaining' para mim, em algo que estou tentando dizer como mulher. Curioso", disse Sandra. "Se você diz que não posso analisar o comportamento de parte do eleitorado dentro daquele país, você está proibindo que eu exerça a minha profissão", acusou Demétrio.

Coutinho tentou explicar. "Não disse isso. Não foi isso o que eu disse. Você está torcendo as palavras. Eu não estou de jeito nenhum dizendo isso. Se você entendeu dessa forma, também tenho o direito de explicar. O que estou querendo dizer é que a minha experiência de vida me mostra que é mais difícil a gente conseguir o que quer que seja pelo fato de sermos mulheres. Eu acho que as pautas identitárias que cresceram muito, com razão absoluta, são: racismo e homofobia. Mas a questão feminina não está resolvida, Demétrio".

Enquanto a colega de trabalho falava, Magnoli retrucou: "Mas eu não falei que estão resolvidas". Sandra criticou a atitude. "Você está me interrompendo. Está fazendo uma coisa chamada 'mansplaining'. Deixa eu terminar de falar. Só estou querendo dizer que além da questão econômica... Eu acho inclusive feio você rir debochadamente. Eu não faço isso com você, Demétrio. Tenho respeito pela sua opinião. Eu fiz uma brincadeira sobre o lugar de fala e acho importante a gente entender que não se trata de 'mimimi', muita gente fala que é sobre a questão econômica, mas também conta a questão dela ser mulher. Porque os Estados Unidos tem uma tradição de projeção de força no mundo, e existe um mito que só homens projetam força. [...] A questão do 'lugar de fala' foi uma provocação que acho que você tomou a ferro e fogo demais. Estou apenas dizendo que entre os motivos, existe sim a questão econômica que as pessoas de baixa renda sofrem, e entre as pessoas de baixa renda há também os eleitores negros que tem renda mais baixa do que os brancos, mas há também uma resistência de votar em mulher. [...] Tanto que nunca houve uma presidente nos Estados Unidos [...] Eu acho feio você tentar passar isso como um 'mimimi', não é. É uma realidade da vida".

Demétrio tentou refutar, mas estava com o microfone desligado e o âncora Marcelo Cosme pediu para ele ter paciência e falar depois. Após cerca de sete minutos, Magnoli continuou. "Eu nunca disse que a questão feminina está resolvida, mas eu constataria que Hillary Clinton teve 3 milhões a mais de votos do que Donald Trump", relembrou, referindo-se as eleições de 2016. "Então, não é verdade que a eleição de uma mulher presidente é um grande obstáculo nos Estados Unidos. Ela não ganhou devido ao mecanismo do colégio eleitoral e a votos em certos estados", opinou.

Após a discussão, a jornalista e comentarista Eliane Cantanhêde, que também participava da edição do "Em Pauta", apoiou Sandra. "Queria, como mulher, como jornalista, como analista política de muitos anos, concordar com a Sandra, porque a realidade é gritante, né, gente? Sim, nós, mulheres, temos muito mais dificuldade de afirmação. E toda vez que querem atacar a gente, atacam na credibilidade. A gente sempre é loira burra, a que não sabe nada, que não tem capacidade de liderar o país".
Mansplaining
"Mansplaining" é um termo em inglês que se refere quando um homem explica algo a uma mulher como se ela não entendesse sobre o assunto, mesmo ela sendo especialista no tema abordado. O termo junta as palavras "man" (homem) e "explaining" (explicar).
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