Rio - Natural de São Paulo, Letícia Rodrigues, de 35 anos, ganhou notoriedade do público como Sandrão, na série "Tremembé", inspirada em crimes reais que chocaram o Brasil, sucesso no Prime Video. A personagem é uma das detentas do presídio feminino e se envolve em um triângulo amoroso com Elize Matsunaga (Carol Garcia) e Suzane von Richthofen (Marina Ruy Barbosa).
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Desde a estreia da série, a atriz tem recebido diversas mensagens de apoio e reconhecimento das pessoas. "Eu tenho recebido mensagens muito amorosas, muitas bênçãos e desejos de que eu tenha uma vida próspera e feliz, apesar da temática da série. O público brasileiro é extremamente exigente e eu fico comovida de receber esse carinho imenso. Não existe unanimidade, então, tenho focado na alegria de ver tanta gente maravilhada com o meu trabalho. Sempre foi o meu objetivo", vibra Letícia.
Sandrão, apelido de Sandra Regina Ruiz, foi condenada há 27 anos - e depois teve pena reduzida para cerca de 24 - de cadeia ao se envolver em um sequestro e assassinato de um vizinho adolescente. Apesar do pagamento do resgate, a vítima foi encontrada com tiro na cabeça, amordaçado, com saco plástico na cabeça, punhos e tornozelos amarrados. Embora ela não tenha disparado o tiro, foi parte ativa no sequestro e no cativeiro, inclusive tendo atuado em ligações com a família da vítima.
No presídio, a personagem é respeitada pelas colegas e movimenta as alianças do local. A preparação de Letícia para o papel começou cerca de dois meses antes do início das filmagens. "Foi um longo processo, mais ou menos dois meses antes da gravação, de preparo diário a partir do roteiro desenvolvido dos livros do Ulisses Campbell. O roteiro já demonstrava características e possibilidades dessa personagem, então, junto às preparadoras Maria Laura Nogueira e Carol Fabri, pudemos aprofundar essas possibilidades. Junto a isso, teve a caracterização, figurino, preparação de cenas íntimas, direção de arte, para que chegássemos ao set com o maior desenho possível dessa personagem. É realmente uma personagem complexa, que precisou de muitas mãos antes de chegar ao público, analisa.
Ao refletir sobre os bastidores das cenas mais fortes, a artista relata a dificuldade de lidar com o realismo do enredo. "Para mim, o mais desafiador foi compreender que as cenas de violência do roteiro foram reais. A brutalidade quando está longe da gente já é difícil de ser assimilada, mas em um trabalho como esse, tivemos que passar por isso, de maneira ficcional, mas muito fiel aos fatos porque não podemos inventar ou fazer nada que vá contra a versão dos fatos do Ministério Público", diz.
"Então, foram cenas que exigiram muita concentração e que colocamos nosso corpo em trauma para atingir a realidade da cena, o que para mim, foi bem notável. Após as gravações das cenas mais chocantes eu fiquei uma semana doente, porque acredito que meu corpo não havia entendido que fabriquei emoções, ele sentiu como se tivesse vivido aquilo", revela.
Letícia ressalta ainda o compromisso artístico da equipe da série e o cuidado de todos em retratar os fatos sem ultrapassar os limites do roteiro. "A realidade não participa do nosso projeto sob esse ponto de vista, somos artistas da cena e artistas técnicos completamente comprometidos a contar essa história de 'Tremembé', baseado nos livros de Ullisses Campbell. Nos atentamos a isso e nos restringimos a isso para que pudéssemos fazer o melhor do audiovisual brasileiro, que é contar bem uma história, e sinto que foi o que atingimos".
Reflexões sobre o sistema prisional feminino
A atriz se impressionou com o sistema prisional feminino depois de ler o livro "Prisioneiras", do Dráuzio Varella", durante suas pesquisas para a produção. "Ele relata a experiência dele como médico no sistema prisional feminino e eu não sabia, mas, quando uma mulher é encarcerada ela fica abandonada à própria sorte. Perdem seus parceiros, familiares, entes queridos, e as deixam ali para cumprir a pena sozinhas. Outro fato muito chocante são as mulheres grávidas, que após o período de amamentação são separadas de seus bebês e podem, inclusive, perder a guarda deles. Enfim, são fatos que eu não conhecia exatamente. Inclusive, Johnny Salaberg, um dramaturgo paulista, tem um espetáculo chamado 'Parto Pavilhão' cuja direção é de Naruna Costa e a interpretação de Aysha Nascimento, que fala sobre esse segundo ponto que mencionei, fica de super dica para o público".
Um novo momento na carreira
Com 17 anos de carreira, incluindo uma trajetória consolidada no teatro e experiências anteriores em outras produções audiovisuais, Letícia vê o papel em "Tremembé" como um divisor de águas. "Eu sou uma atriz, demorei muito tempo para me afirmar como uma, mas hoje já tenho bastante firmeza nessa constatação. O teatro me deu uma casa, um lugar no mundo, e a gente sempre volta pra casa. Se depender de mim, jamais deixarei de subir em um palco; mas meu sonho era ser atriz de cinema, hoje já chamamos de audiovisual, demorei muito para conseguir abrir essa porta, ainda estou perto da saída, mas quero continuar trilhando um caminho nessa indústria, creio que posso contribuir muito para contar as histórias que o público brasileiro anseia e espero poder fazê-las".
Além de atriz, ela é dramaturga e diretora, e acredita que todas as experiências acumuladas ao longo da vida influenciam a forma como constrói suas personagens. "Eu acredito que cada trabalho que a gente faça ou a maneira que a gente passou por determinadas situações vão nos ajudar a compor qualquer personagem em qualquer história. Uma grande atriz e professora que tive, Lucienne Guedes, me disse uma vez que a maior escola de atuação é a vida, e eu acredito mesmo nisso. Não só as minhas experiências profissionais, mas muito do que já vivi me auxiliou nessa construção, às vezes numa coisa super trivial como cheirar uma camiseta esquecida numa pilha para ver se precisa ser lavada".
Planos
Após o sucesso de "Tremembé", a artista revela os planos para o futuro. "Sou uma trabalhadora da arte, já tive muitos ‘nãos’ e segui, cheguei até aqui. Não vou parar, tenho muito amor por esse ofício e por tudo que já construí, eu quero mais. Quero mais desafios, mais oportunidades e poder, finalmente, viver plena com essa escolha que eu fiz. Quero dar conforto para a minha família, especialmente para os meus pais, quero poder viajar a trabalho e lazer, quero poder colocar as contas em débito automático, e poder acreditar que há muitas histórias para contar e que posso ajudar nisso".