Glenda Kozlowski em frente ao Spartak Stadium
 - Reprodução
Glenda Kozlowski em frente ao Spartak Stadium Reprodução
Por Gabriel Sobreira

Rio - O tão sonhado hexa não veio desta vez (que venha 2022!), mas isso não tira o brilho de Glenda Kozlowski, 43 anos, que durante sua cobertura acompanhou todos os passos da seleção brasileira. Ela já mergulhou no Mar Negro (para o 'Mais Você'), foi a um supermercado russo com as mães de Fernandinho e de Gabriel Jesus para comprar ingredientes para fazer uma feijoada (no 'Central da Copa') e revelou ter superstição ao carregar uma pedrinha sempre em dia de jogo do Brasil (no 'Bom Dia Rio). Na expectativa da Seleção ganhar o Mundial, a repórter da Globo, "gente como a gente", torceu com óculos engraçados, pintou as unhas de verde e amarelo, assumiu ser boa de garfo ("Eu gosto da culinária russa, sim. Amo estrogonofe, sopa de beterraba... Mas tenho comido muita salada, peixe, coisas mais leves"), fez selfies com familiares dos jogadores.

"Ficar fora do estúdio nos dá muitas possibilidades. Estar presente onde as emoções correm nos deixa ainda mais envolvidos. Esporte é emoção, e por isso é tão importante estar presente onde as coisas acontecem. Para sentir, para observar e poder passar a realidade do momento para quem está em casa", explica a jornalista que, antes da Copa, comandou 'As Matrioskas', programa que mostrou a Rússia pelos olhos das mães de Neymar, Gabriel Jesus e Fernandinho.

'Matrioskas'

‘As Matrioskas’ serviu de meio de campo para te dar mais intimidade com a família dos jogadores? “É um privilégio e uma responsabilidade muito grande profissionalmente ter a

companhia e a amizade da Ane (mãe do Fernandinho), da Nadine (mãe do Neymar) e da Vera (mãe do Gabriel Jesus). Preservei essa relação com muito carinho e responsabilidade, desde ‘As Matrioskas’ até a Copa do Mundo”, explica.

Glenda diz que a relação com as famílias deu certo por causa do respeito e da sinceridade entre as partes. “Nossa amizade vai além dos seus filhos e do esporte. É uma amizade entre mulheres que dividiram suas alegrias e dificuldades e se identificaram emvários aspectos. Mas sei onde o meu limite começa e termina, e faço questão de respeitar”, acrescenta ela, que sempre tem uma pauta para ‘Hora 1’, ‘Esporte Espetacular’, ‘Fantástico’ e ‘Jornal da Globo’.

“Precisamos ficar atentos a qualquer detalhe e, se conseguir antecipar alguma coisa, marcamos um golaço. Tudo é notícia durante uma Copa do Mundo. Sempre está acontecendo alguma coisa e, quando você está mergulhado na cobertura, as ideias aparecem”, defende.

Prós e contras

Em sua quarta Copa do Mundo - participou das coberturas na Alemanha (2006), na África do Sul (2010) e no Brasil (2014) -, Glenda diz que os jornalistas da Globo têm uma ferramenta inovadora no trabalho. “O LiveU, um sistema para entradas ao vivo portátil, que facilitou muito nossas entradas de qualquer lugar. Apertando apenas um botão, estamos no ar, de qualquer lugar, a qualquer hora. Sem precisar de caminhão nem de satélite. Tudo cabe em uma mochila”, detalha.

Mas como nem tudo é um mar de rosas, a profissional conta que tem uma dificuldade para quem cobre a

seleção brasileira: as longas distâncias entre as sedes. “Sochi, base do Brasil até as quartas de fi nal, fi ca a duas horas de Moscou e a três de São Petersburgo. Não tem jeito. A cada dois dias, estamos de malas prontas partindo para outra cidade”, afirma.

Enquanto acompanhou a Seleção, Glenda conta que a vantagem era estar no olho do furacão e ser testemunha ocular e sentimental da história da Verde e Amarela. “Não dá para vacilar, precisamos ter concentração máxima sempre. Estar com a seleção brasileira é um privilégio. Quando a Copa terminar, terei o maior orgulho de ter visto tanta coisa bacana, de ter estado lá e de ter contado essa história”, comemora.

Sochi

Moradora de Ipanema, na Zona Sul do Rio, Glenda nem sentiu muita diferença quando trocou o calor carioca pela ensolarada Sochi, com 104 km de costa. “Sochi é muito quente, uma cidade encantadora. Amo estar aqui e toda vez que retorno à Sochi, me sinto voltando para casa. É uma cidade acolhedora, alegre, solar, praiana. Como estamos hospedados no Centro de Sochi, conseguimos resolver tudo a pé aqui também: supermercado, farmácia, restaurante, tudo é muito perto”, vibra ela.

“Sou canceriana, sentimental, vou sentir saudades de Sochi. E, se puder, com certeza voltarei um dia com a minha família”, completa.

Família

E por falar em família, a saudade é grande, e Glenda aproveitou até para usar as redes sociais para prestar uma homenagem ao marido, o cirurgião dentista Luis Tepedino. “Luis ficou todo feliz. Que marido não gosta de ser lembrado com carinho? Mas a gente se fala bastante por telefone e por mensagem”, entrega ela, que não vai realizar a final dos sonhos. “Já não é mais possível. Seria Brasil x Alemanha”, lamenta ela, que é mãe de Gabriel, de 22 anos, e Eduardo, de 12.

Glenda revela que, quando dá tempo, ela e os colegas de trabalho saem para jantar. Mas os horários são muito diferentes e dificilmente conseguem juntar a equipe toda. “E confesso que, se eu saí pra jantar duas vezes, foi muito. Procuro ficar quieta e descansar o máximo possível. A partir das 21h (horário aqui da Rússia), já começo a falar com as equipes do Brasil, trocar mensagens para ver o que vamos mostrar nos jornais. Depois, já é hora de dormir”, detalha ela, que tem uma intensa rotina de trabalho, acordando às 4h para fazer o ‘Jornal da Globo’.

Narradora

Além de ex-atleta, repórter, apresentadora, Glenda traz no currículo a função de narradora. Ela foi a primeira narradora esportiva da Globo. Título que traz muito orgulho para a carioca. “Não me considero uma narradora clássica. Mesmo quando estou narrando, sou uma mistura de ex-atleta, repórter e apresentadora. Narrar é muito difícil, uma arte, e acho que algumas pessoas acharam diferente ter uma voz feminina nessa função”, lembra ela, que chegou a enfrentar críticas.

“As críticas são normais, lido bem com elas. Elas me fortalecem e me ensinam. Mas também recebi muitos elogios e muito apoio. Fiz com muita dedicação e fiquei feliz porque fui a primeira mulher na história dos Jogos Olímpicos a narrar a conquista de medalha”, observa ela, que em fevereiro narrou e apresentou os Jogos Olímpicos de Inverno.

“Ainda temos um longo caminho pela frente, mas fico muito feliz que a mulher esteja descobrindo mais uma função. Não é fácil, mas assim como já aconteceu em várias áreas do jornalismo, tenho certeza de que em breve teremos outras mulheres narrando. Se ela sonha um dia narrar uma partida de Copa? “Não faço muitos planos, mas estou sempre aberta às oportunidades. Adoro experimentar, aprender e realizar”, diz.

Você pode gostar
Comentários