Viver do Riso - Ingrid Guimarães - Globo/Paulo Belote
Viver do Riso - Ingrid GuimarãesGlobo/Paulo Belote
Por BRUNNA CONDINI

Rio - "É melhor ser alegre que ser triste". O trecho é de 'Samba da Bênção', de Vinicius de Moraes, mas bem que poderia ser o lema dos humoristas, que se satisfazem nos divertindo. Com a atenção voltada para a preservação da história destes profissionais, e também fazendo-lhes a justa homenagem, Ingrid Guimarães criou a série 'Viver do Riso', exibida ano passado no canal Viva.

O projeto deu tão certo que rendeu frutos. A série documental ganha versão enriquecida com imagens de arquivo inéditas, a partir de amanhã, depois do 'Jornal da Globo', na Globo. "É um projeto pessoal. São 25 anos de carreira. Sem dúvida, é um dos meus projetos mais importantes. Veio de uma questão minha de, aos 45 anos, refletir sobre como vou envelhecer nessa profissão e no que eu quero fazer daqui pra frente", analisa Ingrid, que se dedicou ao programa durante um ano e entrevistou 90 pessoas.

"A maneira como a comédia era tratada, sendo vista como gênero fácil, sempre me incomodou. Muitos têm esse olhar sobre a comédia, como se ela fosse o primo pobre da arte, como se fosse um gênero fácil, como se fazer chorar tivesse mais credibilidade do que fazer rir, e essa questão sempre me intrigou. Até porque a gente que faz sabe o quanto fazer rir é difícil", diz.

EMOÇÃO

A série conta a história do humor no país, mostrando em cinco episódios a participação das mulheres no gênero, discutindo os limites do humor, lembrando as duplas mais marcantes e homenageando o mestre Chico Anysio, que tem o episódio de estreia dedicado a ele. "Todos que entrevistei citam o Chico como a maior unanimidade. Sempre achei que os comediantes mais velhos não eram exaltados como deveriam. Eu, Marcius Melhem e Daniela Ocampo, que fazemos a supervisão artística, decidimos começar com o Chico Anysio também como uma lembrança pelo aniversário dele", diz sobre o humorista que faria 88 anos em 12 de abril. "Para este episódio, fiz uma entrevista muito bacana com o Bruno Mazzeo, filho dele. Choro toda vez que assisto. É de uma emoção enorme".

Jô Soares e Ingrid Guimarães no 'Viver do Riso' - fotos Ellen Soares/Divulgação

MEMÓRIA VIVA

Destaque também para o segundo episódio, com as duplas cômicas. "Nossa história no humor foi contada por muitas delas. Hoje, temos Fernanda Torres e Luiz Fernando Guimarães, Marisa Orth e Miguel Falabella, Andréa Beltrão e Fernanda Torres e eu e Heloisa Périssé", lista. "Fazendo o programa, me dei conta de que eu e Lolô fomos a primeira dupla feminina do Brasil. Ficamos juntas durante 15 anos, fizemos teatro adulto e infantil, TV, programa de rádio, campanha publicitária", completa.

O projeto que vai ao ar na Globo também celebra Jô Soares, Renato Aragão e Dedé Santana, no episódio que fala em 'Envelhecer no humor'.

MULHERES NA COMÉDIA

A atriz revela ainda que o terceiro episódio, que fala das mulheres no gênero, é o seu preferido. "Observei que as próprias mulheres não percebiam o quanto nós vivíamos num mundo tão machista e que o universo do humor também era. É bacana ver como os homens reconhecem isso no programa e não fariam esse tipo de cena machista hoje", divide. "Pertenço a uma geração de transição, de mulheres que deixaram de ser coadjuvantes, escada para a piada masculina, que passaram a fazer também os papéis principais. Quando comecei, meus ídolos eram Jô Soares, Chico Anysio e os Trapalhões. Não tínhamos nessa época referências de mulheres. Como isso sempre me incomodou, fiz a minha própria história. Criei o 'Cócegas' com a Heloisa Périssé, fiz o 'De Pernas para o Ar', um dos primeiros filmes em que a mulher comediante era a protagonista, falando de prazer e sexo. Participei e estava presente em várias mudanças no humor".

Ela se prepara inclusive para estrear o terceiro filme da franquia no próximo 11 de abril. "Filmamos em Paris. É o primeiro filme da série dirigido por uma mulher (Julia Rezende) e também assino junto o roteiro, que é o mais maduro dos três. É sobre a coragem de continuar casada. Sobre o preço que pagamos pessoal e profissionalmente pelo sucesso", adianta a atriz, que vai estar nas telonas mais uma vez no papel de Alice, a workholic que conquistou o mundo com sua empresa de produtos eróticos femininos.

Acima, Ingrid Guimarães com Jô Soares. Abaixo, com Marcius Melhem e entre Luiz Fernando Guimarães e Fernanda Torres no 'Viver do Riso' - Ellen Soares/Divulgação

PLANOS

Há 25 anos, Ingrid pensava em construir uma trajetória como essa? "Não. Imagina, era uma menina de Goiânia, que via os ídolos na TV e hoje os entrevista", reflete. "Estou satisfeita e hoje só quero fazer trabalhos que me acrescentem como atriz, me façam crescer como pessoa, como 'Viver do Riso'. Em agosto, estreio outro programa bacana lá no GNT, sobre o mundo virtual, chama 'Sem Wi-Fi'".

E para os próximos 25 anos, o que deseja?

"Ah, quero viver com menos ansiedade, curtir mais minha filha, Clara, viajar. Tentar separar mais a vida pessoal da profissional e envelhecer com alegria. Todos os comediantes mais velhos ainda têm um olhar de criança, quero ficar assim. O humor realmente salva da dureza da vida", diz.

Você pode gostar
Comentários