
Rio - "É melhor ser alegre que ser triste". O trecho é de 'Samba da Bênção', de Vinicius de Moraes, mas bem que poderia ser o lema dos humoristas, que se satisfazem nos divertindo. Com a atenção voltada para a preservação da história destes profissionais, e também fazendo-lhes a justa homenagem, Ingrid Guimarães criou a série 'Viver do Riso', exibida ano passado no canal Viva.
O projeto deu tão certo que rendeu frutos. A série documental ganha versão enriquecida com imagens de arquivo inéditas, a partir de amanhã, depois do 'Jornal da Globo', na Globo. "É um projeto pessoal. São 25 anos de carreira. Sem dúvida, é um dos meus projetos mais importantes. Veio de uma questão minha de, aos 45 anos, refletir sobre como vou envelhecer nessa profissão e no que eu quero fazer daqui pra frente", analisa Ingrid, que se dedicou ao programa durante um ano e entrevistou 90 pessoas.
"A maneira como a comédia era tratada, sendo vista como gênero fácil, sempre me incomodou. Muitos têm esse olhar sobre a comédia, como se ela fosse o primo pobre da arte, como se fosse um gênero fácil, como se fazer chorar tivesse mais credibilidade do que fazer rir, e essa questão sempre me intrigou. Até porque a gente que faz sabe o quanto fazer rir é difícil", diz.
EMOÇÃO
A série conta a história do humor no país, mostrando em cinco episódios a participação das mulheres no gênero, discutindo os limites do humor, lembrando as duplas mais marcantes e homenageando o mestre Chico Anysio, que tem o episódio de estreia dedicado a ele. "Todos que entrevistei citam o Chico como a maior unanimidade. Sempre achei que os comediantes mais velhos não eram exaltados como deveriam. Eu, Marcius Melhem e Daniela Ocampo, que fazemos a supervisão artística, decidimos começar com o Chico Anysio também como uma lembrança pelo aniversário dele", diz sobre o humorista que faria 88 anos em 12 de abril. "Para este episódio, fiz uma entrevista muito bacana com o Bruno Mazzeo, filho dele. Choro toda vez que assisto. É de uma emoção enorme".

MEMÓRIA VIVA
Destaque também para o segundo episódio, com as duplas cômicas. "Nossa história no humor foi contada por muitas delas. Hoje, temos Fernanda Torres e Luiz Fernando Guimarães, Marisa Orth e Miguel Falabella, Andréa Beltrão e Fernanda Torres e eu e Heloisa Périssé", lista. "Fazendo o programa, me dei conta de que eu e Lolô fomos a primeira dupla feminina do Brasil. Ficamos juntas durante 15 anos, fizemos teatro adulto e infantil, TV, programa de rádio, campanha publicitária", completa.
O projeto que vai ao ar na Globo também celebra Jô Soares, Renato Aragão e Dedé Santana, no episódio que fala em 'Envelhecer no humor'.
MULHERES NA COMÉDIA
A atriz revela ainda que o terceiro episódio, que fala das mulheres no gênero, é o seu preferido. "Observei que as próprias mulheres não percebiam o quanto nós vivíamos num mundo tão machista e que o universo do humor também era. É bacana ver como os homens reconhecem isso no programa e não fariam esse tipo de cena machista hoje", divide. "Pertenço a uma geração de transição, de mulheres que deixaram de ser coadjuvantes, escada para a piada masculina, que passaram a fazer também os papéis principais. Quando comecei, meus ídolos eram Jô Soares, Chico Anysio e os Trapalhões. Não tínhamos nessa época referências de mulheres. Como isso sempre me incomodou, fiz a minha própria história. Criei o 'Cócegas' com a Heloisa Périssé, fiz o 'De Pernas para o Ar', um dos primeiros filmes em que a mulher comediante era a protagonista, falando de prazer e sexo. Participei e estava presente em várias mudanças no humor".
Ela se prepara inclusive para estrear o terceiro filme da franquia no próximo 11 de abril. "Filmamos em Paris. É o primeiro filme da série dirigido por uma mulher (Julia Rezende) e também assino junto o roteiro, que é o mais maduro dos três. É sobre a coragem de continuar casada. Sobre o preço que pagamos pessoal e profissionalmente pelo sucesso", adianta a atriz, que vai estar nas telonas mais uma vez no papel de Alice, a workholic que conquistou o mundo com sua empresa de produtos eróticos femininos.

PLANOS
Há 25 anos, Ingrid pensava em construir uma trajetória como essa? "Não. Imagina, era uma menina de Goiânia, que via os ídolos na TV e hoje os entrevista", reflete. "Estou satisfeita e hoje só quero fazer trabalhos que me acrescentem como atriz, me façam crescer como pessoa, como 'Viver do Riso'. Em agosto, estreio outro programa bacana lá no GNT, sobre o mundo virtual, chama 'Sem Wi-Fi'".
E para os próximos 25 anos, o que deseja?
"Ah, quero viver com menos ansiedade, curtir mais minha filha, Clara, viajar. Tentar separar mais a vida pessoal da profissional e envelhecer com alegria. Todos os comediantes mais velhos ainda têm um olhar de criança, quero ficar assim. O humor realmente salva da dureza da vida", diz.