Monica e a filha Duda: separadas pela pandemia - Arquivo pessoal
Monica e a filha Duda: separadas pela pandemiaArquivo pessoal
Por O Dia
Rio - Coração de mãe fica apertado quando se fala em doença. Seja um recém-nascido, um bebê em fase de desenvolvimento, uma criança em idade escolar ou até mesmo um adulto já independente, o fato é que, quando filhos correm o risco de ficar doentes, ou sentem o menor sinal de febre, colo parece ser remédio universal para acalmar as dores emocionais.
Com a pandemia de coronavírus, a necessidade de estar junto em família encontrou força no isolamento social, em que muitas mães e pais conseguem ficar mais perto dos filhos. Outros, porém, acabaram afastados por força da ocasião. Pensando nisso, nossas 'Aventuras Maternas' das próximas semanas mostrarão histórias de mães que estão mais perto, mais distantes ou até mesmo daquelas que precisam se afastar por segurança.
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Confiram a história da brasileira Monica Rosenzweig, que vive em Portugal e está a quilômetros da filha, que vive em Paris.
SEPARADAS PELA FRONTEIRA
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Por Monica Rosenzweig, designer de joias carioca que mora em Cascais, Portugal.
Moro em Portugal e minha filha, Eduarda, em Paris. Apesar da distância, costumamos nos encontrar uma vez por mês, pelo menos. Somos muito amigas e sinto uma saudade que dói na alma. Acho que todas as mães sabem exatamente o que quero dizer.
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Antes de pandemia ser anunciada, eu já havia comprado a minha passagem para a França, para nosso encontro de março. Comprei com mais de um mês de antecedência e iria no último dia 12 de março. Como ela é super antenada com redes sociais e canais de notícias, sempre me telefonava e ia me atualizando sobre a situação que estava em Paris, e a cada dia ela estava mais assustada. Eu, que não sou nada alarmista, confesso, não dei muita bola. Mas, em uma das vezes que falamos, ela foi categórica: “mãe, se prepara que a coisa está feia”.
Uma semana antes da viagem, Duda começou a me prevenir sobre a situação, que não estava fácil e que talvez fosse melhor eu não ir. De fato, o anúncio da pandemia chegou apenas no dia 16 de março. Eu ainda não tinha visto a divulgação no noticiário em Cascais naquele momento. Até que ela me ligou dizendo que havia sido decretada quarentena em Paris. Eu, que nunca havia imaginado passar por uma situação dessas, fiquei apavorada – em Portugal, o anúncio oficial da quarentena veio no dia seguinte, 17.
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Foi um grande susto, meu coração disparou, e só então a minha ficha caiu que não eu realmente não poderia ter ido vê-la. Mas essa certeza chegou junto com a frustração de não encontrá-la, o medo de como ela ficaria em Paris longe de mim, isolada, e a ansiedade de não saber quando poderia vê-la novamente.
Para amparar meu coração de mãe, agradeci com todas as forças por existir a tecnologia, que tem nos permitido encurtar essas longas distâncias, ainda que seja por uma tela. Embora a minha vontade seja olhar para ela o dia todo, tento ser moderada e falar pelo menos uma vez ao dia, nem que seja apenas para ouvir a voz dela e mandar um beijo. Porém, como ela conhece a mãe que tem e sabe que apenas um “oi” não é suficiente para acalmar meu coração, nos falamos várias vezes por dia. Somos muito parceiras e temos uma relação de grande cumplicidade.
Ela está aproveitando o tempo em casa para pintar e bordar – seus bordados e suas aquarelas são lindas, e não é papo de mãe. Já por aqui, eu também estou pintando – embora meu estilo seja diferente - e desenhando novas peças para meu atelier. E quando falamos por vídeo, mostramos nossas criações uma para a outra. Também conversamos sobre a vida, debatemos algum tema, um filme. E assim, a gente vai matando a saudade. Claro que nada se compara com estar com a filha ao nosso lado, mas é esse o jeito que estamos conseguindo. Às vezes, inclusive, até tomamos café da manhã “juntas”.
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A saudade é grande, é claro, e eu queria muito que ela estivesse ao meu lado em um momento desses. Mas sei que dias melhores virão e em breve vamos poder nos beijar, abraçar e deitar de conchinha para eu fazer um cafuné na cabeça dela. Bons tempos em que eu era a "mamãe ursa" e andava com ela embaixo do meu braço.