Heloísa PérisséAndré Wanderley/Divulgação

Rio - Heloísa Perissé, ao longo de sua carreira, tem interpretado personagens mais jovens do que sua própria idade, como a Tati de "Escolinha do Professor Raimunho" e "Papo Irado". Para a atriz, a idade de um personagem não é uma limitação, mas sim uma oportunidade para explorar diferentes facetas.
Ela enxerga os personagens como uma expressão de liberdade, permitindo-lhe transitar entre idades e gêneros conforme a necessidade. Heloísa encara esse aspecto com naturalidade, ressaltando que sua filosofia de vida é mais sobre atualizar do que envelhecer, colocando ênfase na mentalidade.
Em sua peça "Loloucas", em cartaz no Teatro das Artes, na Zona Sul do Rio, até 31 de março, Heloísa desafia estereótipos ao interpretar uma personagem mais velha que ela mesma. Resultado das próprias reflexões da atriz, que também é autora do espetáculo, Périssé, de 57 anos, analisa a entrada na casa dos 50.
"Eu acho que personagem não tem idade, ele te dá liberdade de ser mais novo, mais velho, homem, mulher, ser o que for. Lido com naturalidade e com tudo o que o personagem me oferece. Eu não envelheço, eu atualizo. A minha cabeça é quem manda. Poderia ter feito as personagens com as nossas idades reais, mas achei melhor romper com o tempo e o espaço, afinal acredito que tudo realmente esteja acontecendo ao mesmo tempo. A criança que fomos ainda é viva dentro de nós. Por vezes, damos vazão ao nosso lado adolescente e quando chegamos à 'melhor idade', teoricamente já passamos por tudo isso, então já está tudo ali, dentro de nós. É só acessarmos. E podemos brincar com tempo, ir e vir e descobrimos finalmente a liberdade da existência É realmente para quem decide escolher assim, a melhor idade", diz em entrevista ao O DIA.
A comédia ainda exalta a amizade com a parceira de longa data Maria Clara Gueiros, sua companheira de cena. As atrizes vivem duas velhinhas, assíduas frequentadoras de teatro, que chegam atrasadas a uma peça e, ao tentarem ir embora, se dão conta que estão no palco, onde, a partir daquele ponto de vista inédito, acabam se abrindo sobre suas histórias de vida e virando protagonistas de seu próprio espetáculo. Com muito humor, falam dos amigos, das realizações, das frustrações, dos sonhos realizados e não realizados, da inexorável passagem do tempo e dos laços que as unem.
A estreia de "Loloucas" no Dia Internacional da Mulher é um evento marcante para Heloísa, especialmente após uma cirurgia. Ela vê isso como um movimento divino, uma celebração da mudança e da amizade feminina.
"A peça seria estreada no dia 1º, mas eu fiz uma cirurgia no dia 7. Acabou acontecendo de eu ter que estrear no dia 8, que é o Dia Internacional da Mulher. Então, acho que tudo conspirou para a comemoração dessa mudança", diz a atriz, que está feliz em contracenar com Maria Clara Gueiros, que tem como uma das melhores amigas.
A peça, uma comédia sobre uma longa amizade entre mulheres que perdura até a velhice, reflete a mensagem de amor e amizade que Heloísa deseja transmitir ao público, destacando a importância de se amar e se apoiar mutuamente como mulheres. "Essa é a prova de que nós, mulheres, podemos e devemos nos amar, e é assim que a gente quer passar para o público essa mensagem de esperança, de amizade e de amor, e que isso seja manifesto nas nossas vidas".
O envelhecimento não é um problema
A atriz não se sente ameaçada ou descartada na medida em que envelhece na indústria do entretenimento. Para ela, o que importa é seguir seu coração, buscar suas paixões, e ela se considera realizada por seguir esse princípio.
"Sempre fui uma pessoa muito fiel ao chamado do coração. Não tenho algo que eu deixei de fazer, assim, que me marcasse. Que eu dissesse 'puxa, disso eu me arrependo muito'. Eu acho que tudo que eu fiz, tudo que eu acreditei, eu fui atrás. Certas coisas consegui, outras não", define.
Sua amizade com Maria Clara Gueiros e outras mulheres tem se fortalecido com o tempo, destacando a importância de cooperar ao invés de competir. Heloísa afirma que valoriza suas amizades e não se deixa abalar por relações que não são recíprocas.
"Sou amiga da Clarinha há muito tempo, e sou uma pessoa que realmente preserva as minhas amizades desde sempre. Eu sou uma pessoa agregadora. Não acho que você precisa ser rival. As pessoas gostam de dizer que as mulheres são rivais, eu tenho grandes amigas e irmãs. Eu amo as minhas amigas, eu amo mulher. Beijo minhas amigas, abraço, enalteço, divido as coisas boas que acontecem comigo. E elas são assim comigo também. E as que não são, não perduraram e não perduram no meu caminho", detalha.
Quanto ao seu próprio envelhecimento, Heloísa encara de maneira positiva, buscando cuidar de seu corpo físico, mental e espiritual. Ela não se preocupa com comentários sobre parecer mais jovem do que sua idade cronológica, pois acredita que a verdadeira juventude reside na mente e no espírito.
Para ela, ser "vintage" é algo a ser celebrado, e ela se concentra em renovar-se constantemente, recusando-se a se descartar antes do tempo.
"Se eu conseguir ser vintage, eu já estou muito feliz, né? Eu sou uma pessoa que eu não lido com a idade cronológica. Eu me conecto ao meu ser interior e lido com a minha cabeça, com o meu desejo de renovação, com querer fazer sempre alguma coisa nova. Então, eu não fico preocupada que me descartem. Porque eu só serei descartada se eu me descartar antes. E isso eu não vou fazer", conclui.
Serviço

Espetáculo: Loloucas

Temporada: de 08 a 31 de março
Local: Teatro das Artes
Endereço: Rua Marquês de São Vicente, 52 - Shopping da Gávea, 2º Piso - Loja 264 - Gávea, Rio de Janeiro - RJ
Dias e horários: sextas e sábados, às 20h. domingos, às 19h.
Duração: 70 minutos.

Ingressos: R$ 90 (inteira) e R$ 45 (meia-entrada), vendas pelo site https://divertix.com.br/teatro/loloucas
Gênero: comédia
Classificação Indicativa: 12 anos.