A apresentadora Mariana Gross dá detalhes sobre a vida de jornalista, maternidade e paixão pelo RioFabio Rocha / TV Globo

Rio - Mariana Gross é um rosto famoso e querido pelos cariocas. Mesmo sem conhecê-la pessoalmente, muitos se sentem íntimos, já que a acompanham diariamente durante o almoço, enquanto ela apresenta as principais notícias do Rio. Há mais de 10 anos à frente do "RJ1", telejornal da TV Globo, a jornalista de 45 anos, carrega em sua bagagem profissional coberturas marcantes, como o sequestro do ônibus 174, em junho de 2000 - na época, ela tinha 21 anos e trabalhava na rádio CBN, onde iniciou a carreira.
No Dia do Jornalista, celebrado neste domingo (7), Mariana conversa com o D Mulher sobre profissão, Carnaval, maternidade e Flamengo, seu time de coração.

A decisão de ser jornalista não aconteceu em determinada fase da vida, como adolescência ou às vésperas do vestibular. "Foi uma construção ao longo do tempo", define ela, que sempre foi uma criança comunicativa e curiosa, já dando sinais de sua vocação.

"Sempre gostei muito de escrever, de ler e contar as notícias para os outros. Tudo que acontecia eu gostava de reportar. Então, eu vi que desde cedo era uma comunicadora, só não sabia disso. E aí eu fui descobrindo", explica.

Segundo Mariana, as pessoas percebiam e destacavam o seu talento e jeito comunicativo, expansivo e pensativo, antes mesmo de ela definir sua profissão futura.

"Era uma verve minha mesmo, desde criança. De contar histórias, de conversar, de apurar, até de investigar. Eu acho que sempre fui jornalista e não sabia", analisa.

Entrada na Globo

Ainda na faculdade, Mariana correu atrás de estágio e participou de um processo seletivo concorrido para a rádio CBN, que durou cerca de um mês. Após passar por várias etapas, foi aprovada. Na empresa, que pertence ao Grupo Globo, ela ficou por quatro anos e foi de estagiária à repórter da rádio. Depois disso, foi convidada a fazer um teste para a televisão, de onde não saiu mais.

"Eu nunca achei que fosse trabalhar na TV. Na faculdade, sempre pensava que seria uma jornalista de mídia impressa, ou seja, eu sonhava em trabalhar em algum jornal ou em alguma revista ou editora. Eu gostava de escrever textos longos, me imaginava viajando pelo mundo, tinha uma visão um pouco glamorosa da profissão. Acho que todo mundo quando entra na faculdade talvez tenha essa visão no início", comenta.

Apesar de toda a desenvoltura e carisma na frente das câmeras, o convite para trabalhar na televisão veio sem ela se programar. "Esse foi o meu caminho. Meio inesperado. Eu fui deixando a vida me levar, como diz Zeca Pagodinho. E cá estou", brinca.

Entre as coberturas mais difíceis em sua trajetória profissional, ela destaca a tragédia na Serra de Petrópolis e Teresópolis, em janeiro de 2011, quando uma forte chuva atingiu a Região Serrana do Rio de Janeiro, deixando mais 900 pessoas mortas.

"Foi muito dura. Eu passei uma semana morando em Petrópolis de uma forma improvisada, porque o município ficou muito atingido. Não tinha luz, não tinha água no hotel, e a gente percorrendo as áreas muito devastadas. As pessoas procurando seus parentes, cavando o chão... Foram cenas muito fortes. Acho que talvez essa tenha sido a cobertura mais difícil que eu já fiz", relembra.

Outra tragédia que também comoveu a jornalista foi o deslizamento do Morro do Bumba, em Niterói, que deixou 48 mortos em abril de 2010. "Sempre tenho uma lembrança dessas coberturas de tragédias porque a gente tem que lidar com o sentimento. O sentimento das famílias, obviamente, que perderam tudo, mas isso também nos afeta profundamente. E você tem que se segurar. Você tem que reportar, você está ali para ajudar aquela família. Então, é sempre um desafio".

Carnaval

Se tem uma pauta alto astral que Mariana faz muito bem - e fez falta esse ano na Globo - é a cobertura do Carnaval do Rio. Em 2024, a Globo não escalou a equipe de jornalismo para a transmissão ao vivo e deixou muita gente insatisfeita pela falta de informações e pesquisa sobre enredos, personagens e histórias das escolas de samba. O nome da apresentadora foi um dos mais comentados nas redes sociais por sua ausência, já que ela entende do assunto e visita os barracões antes da Sapucaí produzindo matérias especiais e com entradas ao vivo no "RJ1".

"Há muitas reportagens que me trazem um sentimento de orgulho. Adoro poder revelar talentos. Isso a gente faz muito no Carnaval. Revelar talentos artísticos, pessoas que não seriam descobertas nunca se a gente não mostrasse suas histórias para o Brasil e para o mundo", conta a jornalista, acrescentando o seu carinho por reportagens de pessoas que são solidárias com os outros. "Acredito que, a partir do momento que você divulga uma reportagem que conta a história de um ato de solidariedade, isso cria uma corrente que inspira e melhora o mundo".

Foi na infância que também surgiu o interesse e gosto pela folia, quando, por volta dos 8 anos, já ia para bailinhos e foi para Sapucaí pela primeira vez.
"Fomos eu e a Olívia, que é filha da minha madrinha e minha grande amiga. Nunca esquecemos daquele momento e tentávamos ir todos os anos. Eventualmente conseguíamos ir de novo, até que comecei a trabalhar no Carnaval. Virei jornalista, fui escalada e não perdi mais nenhum. É muito bom. Eu sempre adorei a festa, admiro muito o trabalho artístico, a dedicação, o amor, as escolas e o amor das comunidades, aquilo une as famílias. É tão bonito. É um trabalho espetacular, que me emociona. Eu choro assistindo! É um espetáculo inesquecível sempre", opina.

Carioca da Zona Sul

Mariana nasceu no Rio de Janeiro, tem mais duas irmãs e foi criada pela mãe, Maluh Pinheiro, em um apartamento na Lagoa, na Zona Sul. Como os pais se separaram quando ela tinha três anos, cresceu acostumada a ter duas casas.
"O que eu mais gosto na cidade é o carioca, obviamente. Gosto da praia, da beleza natural, mas eu acho o povo carioca um povo bem-humorado, o que ajuda muito. Acho que o bom humor está enraizado na personalidade carioca e diante de tantos problemas, tantas dificuldades, o povo ainda é bem-humorado. Eu aprecio muito, porque eu acho que o bom humor ajuda demais a gente a vencer, a sobreviver, a conviver, a viver", conta.
Paixão pelo futebol

A apresentadora também não esconde de ninguém que é rubro-negra. Já apareceu na TV com figurinos vermelho e preto para torcer e comemorar, em dias de grandes vitórias. O time de coração veio por influência da mãe, já que o pai, Carlos Fernando Gross, é tricolor.

"Essa história de usar vermelho e preto é só quando o Flamengo conquista campeonato. Não uso em cada jogo que o Flamengo ganha até porque ia ficar um pouco exagerado. É uma brincadeira. Certa vez, alguém na rede social sugeriu: 'Mariana, duvido que você use vermelho e preto amanhã. Flamengo campeão da Libertadores. Duvido'. Eu fui e usei. Aí começou essa história, mas é uma grande brincadeira", conta ela, frisando que é "bem carioca mesmo".

"Adoro Carnaval, praia, futebol. Eu amo futebol, minha mãe sempre foi uma torcedora do Flamengo, meu pai é tricolor, minhas irmãs são tricolores, mas eu fui pelo caminho da minha mãe e virei rubro-negra. Amo, acompanho, vou ao Maracanã, fui à final do Flamengo na Libertadores, em Lima, e meu filho está indo pelo mesmo caminho. A gente curte muito o futebol. Eu adoro ver meu filho jogando. Nunca consegui jogar bem. Até bato uma bolinha com ele, mas não levo jeito. Sou fã".

Mãe e jornalista

Casada com o economista Guilherme Schiller com quem tem um filho, Antônio, 8 anos, Mari Gross sabe bem como é atribulada a rotina de uma mãe que trabalha - principalmente de uma jornalista - que muitas vezes abdica de finais de semana e feriados coma família por conta da escala de trabalho. Mas ela não faz o tipo de carregar o peso de culpa da maternidade e jornada dupla - que afeta muitas mulheres - e prefere se apegar ao exemplo que passa ao herdeiro.

"Acho que nove meses de gestação é bastante tempo. A gente tem que aproveitar esses meses não só para os preparativos para a chegada do bebê, mas também para o momento do retorno ao trabalho, porque não é fácil. Eu adorei ficar grávida, adorei trabalhar grávida, não me atrapalhou em nada. Mas, de repente, você tem um breque: vira uma mãe profissional, o que também dá bastante trabalho, e quando volta tem que juntar as duas coisas", detalha.

"É uma equação para a qual você precisa estar preparada desde muito antes. A organização é fundamental para saber o que você vai fazer com seu filho quando estiver no trabalho ou uma emergência. Hoje em dia eu acho que o Antônio admira isso e está super habituado. Um dia ele vai ter bastante orgulho de mim."

Conselho para futuros jornalistas

E já que é Dia do Jornalista, e Mariana Gross inspira muitos estudantes e profissionais, ela finaliza com um conselho para quem quer se destacar na profissão.

"O que eu diria para alguém que está começando a estudar jornalismo é que esteja ligado nas novidades tecnológicas e às novas formas de comunicação. Já há algum tempo, inclusive, que você pode entrar ao vivo de qualquer lugar, usando vários tipos de equipamentos. E tudo vai mudando e muito rápido. Então, se você está atualizado nesse sentido, já é meio caminho andado. Lógico que a pessoa que se dispõe a ser jornalista tem que estar informada. É o básico, mas eu diria que é preciso também estar ligado nas questões tecnológicas, ter muita energia e saber que é uma profissão fascinante. Dá trabalho, mas é fascinante", conclui.