Moira Braga em cena com o espetáculo HereditáriaJunior Zagotto/Divulgação
Um deles é o mito grego das Moiras: três irmãs funestas que tecem o destino de todos os seres. "Hereditária" reflete sobre o quanto de nossas vidas é predeterminado e o quanto temos o poder de escolher.
“A ideia é dar uma resposta larga sobre de onde vem a doença”, explica Moira, “e abrir a reflexão para um leque mais amplo, investigando o que são nossas heranças e nossa hereditariedade, tudo que chega pra nós através da ancestralidade, tudo que fica pelo caminho, assim como as heranças que escolhemos ter”.
"A ideia foi trazer esse fio de uma história pessoal, mas para esgarçar em vários outros campos e aspectos, de modo que uma história pessoal, de tão pessoal e de tão honesta, seja muito universal também, e acabe falando com todo mundo que está assistindo, em algum momento se identifica com aquelas narrativas".
O cenário é uma instalação visual e sonora do músico e artista plástico Ricardo Siri, composto por objetos que, ao serem manipulados (pisados, percutidos, tocados, transportados) produzem os ambientes e sonoridades da peça.
As pessoas cegas e de baixa visão podem ter acesso ao cenário e são convidadas a entrar no teatro alguns minutos antes da abertura de portas e explorar os objetos cênicos de forma táctil.
Sucesso em 'Todas as Flores'
"Comecei a perder a visão aos 7 anos, é uma doença congênita que causa perda gradual da visão. Achava que não ia rolar de ser atriz porque não tinha representatividade. É muito recente a aparição de pessoas com deficiência em espaços públicos e principalmente em veículos de comunicação como TV, então eu achava que isso não era para mim", conta.
“Isso é muito importante pra gente, pessoas com deficiência, sermos chamadas não só para falar da deficiência. A gente quer trabalhar, fazer o que sabemos fazer”, explica a artista.
Mais do que acessibilidade
Libras e audiodescrição estão incluídas de forma orgânica desde a dramaturgia até as movimentações de cena, expandindo as fronteiras do que costuma ser conhecido como “acessibilidade".
“Esse é naturalmente meu ponto de partida", diz Moira. "Quero que o meu trabalho acesse o maior número de pessoas e, por isso, fomos concebendo mecanismos estéticos e dramatúrgicos que proporcionem a expansão desse acesso."
Um musical diferente
"A musicalidade é o norte que ajuda a encontrar o tom da atuação, a pulsação de cada cena, mesmo quando não há nenhuma nota musical sendo tocada", diz o diretor, indicado ao prêmio Shell em 2023 pela direção musical e canções originais do espetáculo “Em busca de Judith”.
'Esta exclusão é uma espécie de herança'
“Esta exclusão é uma espécie de herança: de desigualdades ancestrais, de preconceitos enraizados e solidificados em oportunidades que se abrem para alguns e fecham para outros. O projeto Hereditária nasce de um desejo de explorar, de forma criativa, poética, mas também política e lúcida, as diferentes dimensões das heranças que atravessam a vida do indivíduo com deficiência, e da sociedade como um todo”, explica a idealizadora do espetáculo.
Moira comenta ainda que existem boas políticas públicas para pessoas com deficiência, como o percentual mínimo de PCDs em produções artísticas, mas ela alerta sobre a falta de informação da população em geral.
“O que precisamos agora é a ampliação do acesso à informação. Me choca a falta de conhecimento sobre o que estamos fazendo, o que é uma audiodescrição, como faz, porque é necessária. A gente precisa falar muito sobre isso. Precisamos que os patrocinadores se interessem, que o público queira conhecer”, afirma.
Serviço
Hereditária
Data: Segundas e terças-feiras, até 22 de outubro
Hora: 19h
Local: Teatro Firjan Sesi (Avenida Graça Aranha, 1, Centro)
Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia), na plataforma Sympla ou bilheteria.
Classificação: Livre
Duração: 60 minutos
Todas as apresentações contam com acessibilidade atitudinal ou comunicacional para pessoas com deficiência
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