A atriz Letícia Isnard completa 50 anos e comemora sua nova faseDivulgação

Ela ganhou o coração do público ao interpretar a Ivana em Avenida Brasil. Hoje, a atriz Letícia Isnard completa 50 anos e celebra a sua nova fase. A eterna irmã do Tufão, faz um balanço de sua trajetória, recalculando a rota e aceitando novos desafios.
A artista também é produtora, tradutora e foi bailarina profissional desde os 11 anos. Formada em Ciências Sociais pela PUC e mestre em Sociologia, foi nos palcos que encontrou o seu lugar.
Letícia tem uma forte relação com sua família. Apesar de ser carioca, quando criança, morou em Porto Alegre e em São Paulo. Aos 15 anos perdeu o pai e esse foi só um dos desafios que enfrentou. Recentemente, sofreu um assalto e o ladrão, pelo seu celular, apagou seu HD em casa e a artista perdeu anos de conteúdos e trabalhos, feitos ao longo da carreira. Ela precisou se reinventar e reorganizar tudo.
A maternidade chegou para a atriz um pouco mais tarde. Letícia deu à luz aos 40 anos. Hoje sua filha Tereza tem 10 anos. Mãe coruja, cria a menina com muita franqueza e liberdade. Uma criança estudiosa, sensível e inteligente.
Desde 2001, Letícia faz parte da Cia. de Teatro Os Dezequilibrados. Atuou e produziu mais de 20 espetáculos, entre eles “Como é Cruel Viver Assim”, “Terra do Nunca” e “Dona Otília e Outras Estórias”. Em 2011, foi indicada ao indicada ao Prêmio Shell de Melhor Atriz, pela sua atuação na peça “A Estupidez”, de Rafael Spregelburd. Na televisão fez também as novelas “Beleza Pura” e “Sangue Bom”, os seriados “Filhos da Pátria” e “Sob Pressão”, os programas “Grande Família”; “Cilada”, “Toma lá dá cá”, entre outros.
Atualmente, está em cartaz no Teatro Firjan Sesi com a comédia "Mostra a tua Cara", com texto do premiado Rogério Corrêa e direção do também premiado Isaac Bernat.
Vamos conhecer mais sobre essa mulher que inspira outras mulheres? Confira a entrevista completa!
Como foi sua criação? Sempre quis ser atriz?
Sou carioca. Minha família é de classe média e na infância morei também em Porto Alegre e em São Paulo. Meu pai era engenheiro e morreu aos 48 anos, quando eu tinha 15 anos. Minha mãe é professora de inglês, hoje aposentada. Comecei a fazer ballet aos 11 anos e me profissionalizei aos 16, mas achava que não conseguiria me sustentar com a dança, então fiz vestibular para faculdade de direito. Depois de dois anos entendi que queria mudar tudo, tomei coragem e no mesmo semestre mudei a faculdade para Ciências Sociais e comecei a fazer teatro. As duas mudanças estão relacionadas a um desejo de comunicação mais direta, de pensar, refletir e questionar a realidade de outras formas. Com o teatro ganhei a palavra e na sociologia a amplificação das reflexões sobre o mundo em que vivemos.
Como é sua relação com a família?
Muito harmoniosa. E quando há conflitos estou sempre no papel de mediadora. Tenho horror a briga, discussão e buscamos criar nossa filha, Teresa, de maneira progressista e com muita franqueza e liberdade. Mas é claro que as vezes é preciso ser um pouco mais rígida. Tenho dificuldade com isso. Ainda bem que ela é uma menina espetacular, estudiosa, responsável, muito sensível e inteligente. Então a gente sempre consegue resolver tudo com uma boa conversa. Ela faz 10 anos agora em dezembro, como o tempo passa rápido!!
Como se sente perto de chegar aos 50 anos?
Tem sido um momento de muita reflexão e redefinições. Minha filha está maior, menos dependente, e volto a ter mais espaço para dedicar a mim, a novos projetos. Tenho reavaliado as escolhas que fiz 20, 30 anos atrás, as metas e conquistas alcançadas, se ainda quero as não alcançadas, quais os novos desejos… O corpo também começa a mudar, comecei a fazer musculação. Estou detestando, mas entendo e aceito a necessidade de um fortalecimento específico nesta essa nova fase de mudança hormonal.
Já fez algum trabalho social? Qual sua relação com a religião?
Eu ajudo mensalmente instituições variadas, um pouquinho para cada uma: uma de idosos, uma de crianças, uma ambiental e uma ligada a área da saúde. Gostaria de fazer mais e sempre procuro atender às demandas de campanhas quando me pedem. Sou católica, mas não sou praticante e não sinto nenhuma relação com religião. O pai da Teresa, Isaac Bernat, é judeu, então optamos por não iniciá-la em nenhuma religião para que ela tenha liberdade de escolher qual vai lhe falar ao coração - se é que vai se identificar com alguma. Falamos sobre ambas, festejamos as datas importantes da religião católica com a minha família, e da judaica com a dele, então ela conhece ambas. E é livre para escolher não apenas entre essas duas, mas qualquer uma! Ou nenhuma. Acredito que a religião é algo muito íntimo e pessoal, e deve ser respeitado, sem nenhum tipo de imposição.
Como está sendo fazer a peça “Mostra a Sua Cara”?
Um desafio a cada noite porque a peça é muito original: é uma comédia e embora seja uma ficção, tem um fundo histórico/ documental sobre como foi viver no Brasil numa determinada época, o que não é um formato comum. Ao mesmo tempo em que é totalmente trágica, é uma comédia rasgada e desconcertante. Além do mais contracenamos apenas no final, durante a maior parte do tempo temos uma interlocução direta com a plateia e isso é muito divertido e desafiador porque muda muito a cada noite.
O que ainda falta fazer na carreira?
Muita coisa! Gostaria de conseguir viajar mais com teatro, de fazer mais TV e adoraria fazer mais cinema também. No momento estou me lançando ainda em um desejo antigo, que é escrever. Já tinha experiência com escrita acadêmica, na graduação, e no mestrado (em Sociologia), publiquei artigos, trabalhei com pesquisa, mas nessa área a escrita é totalmente diferente. Agora estou desenvolvendo uma série em parceria com a diretora e roteirista Anne Pinheiro Guimarães. No roteiro a escrita é muito mais livre e criativa. Como atriz eu já tinha a experiência de criar mundos, pessoas. Agora estou criando os rumos, as estórias, para além das pessoas. Estou encantada.
Como lida com a ditadura do corpo e o etarismo?
Como meu pai morreu cedo, a passagem do tempo tem para mim um sabor de vitória e não de derrota. Claro que as perdas do envelhecimento começam a se fazer mais presentes e isso requer adaptações, mas também acho que tem muitos ganhos. Não queria ter 20 anos novamente de jeito nenhum, me gosto muito mais agora, com a bagagem de tudo o que já vivi. Como disse Nelson Rodrigues: “jovens: envelheçam!” Mas não é fácil lidar com a hipervalorização da juventude, com o etarismo… Ainda não sinto muito os seus efeitos, mas sei que na próxima década terei que me defrontar com essas questões. Esse é um desafio coletivo que teremos que encarar seriamente porque no mundo todo a longevidade está aumentando muito. E isso é ótimo!
Você se acha um mulherão? O que é ser um mulherão para você?
É difícil responder isso, a baixa autoestima tenta calar a minha boca mas (risos). Claro que sim, sou um mulherão! Demorei bastante a descobrir isso. E depois demorei a me autorizar me achar um mulherão. Sou independente, gentil, empática, generosa, honesta, realizadora, comprometida, e uma boa pessoa, acima de tudo. E além disso, sou bonita, dentro das minhas possibilidades. Então, sou um mulherão! A gente é treinada para estar sempre insatisfeita com nossos corpos, nossas vidas, nossos bens, nossas escolhas… Por que isso gera consumo, né? Então não somos treinadas para ser felizes. Mas foram justamente as dificuldades, as faltas, as perdas e as dores que me ensinaram a valorizar cada conquista, a reconhecer cada privilégio e principalmente a sentir uma profunda gratidão pela vida que construí. Isso, para mim, é ser um mulherão.
Pode deixar um recado para todas as mulheres?
Não está fácil pra ninguém (risos). Já foi muito mais difícil! Nossas ancestrais penaram horrores até conquistarem toda liberdade que temos, então reconheçamos e honremos isso! Se autorizem, calem a boca da baixa autoestima, busquem seus sonhos, ajudem suas companheiras. Procurem parcerias na vida, no trabalho, na família - ninguém constrói nada sozinho. Afastem-se das relações tóxicas. Valorizem os afetos, é isso que levamos e deixamos nesse mundo. Ser é muito mais importante do que ter. E juntas somos ainda mais fortes, poderosas e felizes.