Isabel Fillardis fala sobre sua trajetória, os filhos atípicos e seu trabalho socialReprodução
A minha criação foi a mais típica da Menina Zona Norte do Rio de Janeiro. Fui acostumada a brincar na rua, passar as férias com a avó, uma infância sadia... Subir em árvore, comer fruta. Sou a mais velha de três irmãos. Minha relação com a família é a mais afetuosa, amorosa e parceira. Minha família é muito parceira, minha rede de apoio. Somos alegres, gostamos de festejar, celebramos os momentos em família sempre que podemos. Um olhando o outro, vibrando pelo outro.
A ideia de escrever uma biografia, na verdade, veio primeiro de um desejo. E como a minha relação com a Editora Ubook já é antiga, eles quiseram escrever e contar a minha história. Eu só não esperava que fosse através das minhas mãos, né? Eu mesma escrever essa autobiografia. Então foi um prazer foi bem gratificante e importante reviver, repassar esses momentos, lembrar da minha infância, lembrar de coisas que me construíram, que me fizeram ser essa mulher que sou. Eu tive memórias de infância relembradas, adolescência, coisas não tão boas, mas que também me forjaram a ser essa pessoa resiliente, forte e corajosa. É assim que eu me vejo hoje.
Ser mãe atípica três vezes foi algo que a vida foi me trazendo. Não revelei isso antes porque até então eu era mãe atípica uma única vez. Conforme o meu terceiro filho nasceu e como o diagnóstico da minha primeira filha surgiu só agora, há dois anos, só agora eu revelei. Achei importante compartilhar isso com a sociedade, o quão difícil é ser gestora, provedora de uma família onde três filhos necessitam de terapias, acompanhamentos escolares. No caso do Kalel, de fisioterapia, fono e psiquiatra, então são coisas que tornam a minha jornada desafiadora e difícil por muitas vezes, principalmente pelo ponto de vista econômico, porque não é barato. Do ponto de vista emocional, eu preciso também de suporte para lidar com todas essas adversidades dentro da minha família.
Muitas vezes a gente sofre em um relacionamento e só entende que ele é abusivo depois de algum tempo. Isso vem sendo uma crescente, porque a mulher está cada vez mais forte, tomando conta da sua real grandeza na sociedade e com isso tomando força para tornar público as relações abusivas que vêm vivendo. Isso faz com que a gente observe as nossas histórias e entenda que aquilo não é legal. Então, ao longo da minha juventude eu vivi relações assim, de médio porte, algumas mais sutis, outras mais gritantes. Só ao longo do tempo é que a gente vai entendendo que aquilo está passando do ponto. Então, para superar isso, muita terapia, amor próprio, entendendo o que faz parte de você, o que é seu, e separando entre o que é seu e o que é o do outro.
Sim, todo artista deveria encontrar uma causa social para se engajar, para alertar a sociedade. Nós temos várias pautas que precisam ser olhadas com muita atenção, com muito carinho, várias, inúmeras. Acho que quando cada um de nós se engaja em pelo menos uma, a gente vai prestar um serviço por uma sociedade inteira. Fora que é um grande celeiro de estudo humano para mim que sou artista.
Eu escrevi essa biografia pensando nas mulheres. Nos sonhos, na questão da autoestima. Toda mulher deve correr atrás para realizar seus sonhos e se priorizar. Isso não é um ato de egoísmo, é um ato de fortalecimento e sobrevivência. Você será uma mulher melhor, uma mãe melhor, cuidando de si mesma. Se tem um recado que eu possa dar a todas as mulheres é que acreditem nelas mesmas e que que tenham a certeza que elas são enormes.
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