Santinhos são materiais impressos de campanha eleitoralReginaldo Pimenta / Agencia O Dia
Se o marketing tem o objetivo de vender um produto, no campo eleitoral, essa busca é pelo voto. Consultor político, Marcelo Vitorino explica que o trabalho do marqueteiro político é identificar as características que a candidatura representa, e conectá-las com o que os eleitores esperam do candidato. Essa conexão muitas vezes é estabelecida pelo viés emocional, ressalta.
"O marqueteiro faz a tradução entre o que o político quer e o que o eleitor quer dele. É difícil fabricar alguma imagem, mas deve-se identificar o que aquela imagem pode representar para o eleitor", explica Marcelo Vitorino, experiente em campanhas, como as de Marcelo Crivella em 2016 e de Geraldo Alckmin à Presidência em 2018.
A estratégia eleitoral inclui os conteúdos que serão disponibilizados a cada semana, de acordo com a situação do candidato na disputa. "Você não fala a mesma coisa do início ao fim da campanha. É como se fosse um filme blockbuster: primeiro apresenta o candidato, para que os eleitores o conheçam, e confere se as pessoas gostam. Depois, entra com as propostas, ou seja, o que a candidatura vai resolver na vida do eleitor. A última fase é a mobilização para o voto, quando falta uma semana para a eleição", explica Marcelo Vitorino.
O consultor ressalta que a distribuição desse conteúdo é feita de acordo com as características de cada meio de comunicação. "Todos os meios precisam estar integrados e os conteúdos, adequados a cada um. O programa de TV tem o tempo dele, que não é o mesmo da rede social ou do material impresso. O eleitor é o mesmo, mas para cada meio, tem uma expectativa de conteúdo", comenta o especialista.
Quem está por trás dessas estratégias são os marqueteiros, que não costumam aparecer durante as campanhas. "Quem tem que aparecer é o candidato. O marqueteiro é como se fosse um técnico de clube, depende do momento, aparece ou não conforme for melhor para o pleito", explica Vitorino. Na disputa pela prefeitura do Rio, trabalham Marcelo Faulhaber na campanha de Eduardo Paes (PSD), Paulo Vaconcellos, na de Alexandre Ramagem (PL), e Amauri Chamorro, na de Tarcísio Motta (PSOL), para citar as três campanhas com mais intenções de votos captadas pelas pesquisas.
Especialistas analisam campanhas
A pesquisadora da ESPM Adriane Buarque de Holanda afirma que o marketing político apresenta o candidato enquanto o marketing eleitoral foca na conversão em votos. "Quem não tem a imagem consolidada precisa primeiro construir o marketing político para depois entrar no marketing eleitoral. As pessoas têm que ser conhecidas para ganhar eleição", resume. "Tem candidatos que já vêm trabalhando a imagem pública há muitos anos", acrescenta a pesquisadora da ESPM.
Por outro lado, o segundo colocado nas pesquisas, Alexandre Ramagem (PL), tem o desafio de se apresentar ao eleitorado enquanto mostra as propostas e tenta tirar votos do atual prefeito. "Ramagem está ancorado ao ex-presidente Jair Bolsonaro porque não é um candidato que as pessoas conheçam. Ele teve que usar o início da campanha para mostrar o que já fez na Polícia Federal porque não teve um papel estratégico eleitoral anterior", menciona a professora.
O professor do Departamento de Ciência Política da UFF José Paulo Martins Junior avalia que o prefeito Eduardo Paes tem procurado se manter distante da polarização das últimas eleições gerais, apostando na imagem de gestor técnico. O prefeito tem amplo leque de apoio partidário, que inclui desde o partido do presidente Lula ao pastor evangélico e deputado federal Otoni de Paula (MDB), do campo da direita.
"Ainda que a candidatura do Paes tenha o apoio da federação do PT, ele pode se dar ao luxo de dispensar a participação de Lula. Está com posição bastante confortável, tem bom tempo de televisão, é uma pessoa que tem carisma, consegue dialogar bem com vários setores da sociedade", analisa José Paulo.
O professor da UFF acrescenta que assim como em São Paulo, o Rio também tem divisão entre dois candidatos associados a Bolsonaro: Alexandre Ramagem e Rodrigo Amorim (União). "Ramagem, como delegado da Polícia Federal, procura se apresentar como candidato da segurança e como candidato de Bolsonaro, com apoio do governador Cláudio Castro. A campanha vai precisar conseguir crescer nas pesquisas e forçar um segundo turno. Tem um setor conservador que está com Paes, então Ramagem vai ter que pegar voto do atual prefeito e do Amorim", analisa José Paulo Martins Junior.
Terceiro colocado nas pesquisas, Tarcísio Motta, acabou mais isolado politicamente, avalia José Paulo Martins Junior. "Na cidade do Rio, o PSOL é o maior partido da esquerda. O PT sempre foi maltratado na capital, agindo por conveniência, e o PSOL tem maior destaque, mas Tarcísio está um pouco emparedado. Não tem a quem se apegar para conseguir um crescimento e já é conhecido, por ter participado de outras eleições", avalia o cientista político.
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