Botafogo pode conquistar dois títulos em uma semana: Brasileirão e LibertadoresVítor Silva/Botafogo
'É tempo de Botafogo': relembre a campanha do título da Libertadores
Glorioso foi o primeiro campeão da história a vir das fases iniciais da competição continental
Rio - A espera acabou. O Botafogo de Futebol e Regatas conquistou seu primeiro título de Libertadores coroando uma campanha de muita força passando por campeões, mas também marcada por trocas no comando e incerteza ainda no início da trajetória, na fase de grupos. Superação em um primeiro momento e qualidade de sobra para levantar a taça no Monumental de Núñez. "É tempo de Botafogo", como disse o atacante Matheus Martins, em fala que virou lema da temporada.
Foi um caminho difícil para o Glorioso devido ao contexto. Ainda com os traumas da perda do título do Brasileirão 2023 mesmo depois de abrir 14 pontos de vantagem, a equipe etão comandada por Tiago Nunes foi para as fases preliminares da Libertadores e iniciou a campanha contra o Aurora, da Bolívia, na altitude de 2.600m de Cochabamba.
No jogo de ida, empate em 1 a 1 sofrendo gol aos 51 da segunda etapa. Fim da linha para Tiago Nunes, que já balançava no cargo devido ao rendimento ruim também no Estadual. Quem assume é Fabio Mathias, auxiliar permanente na época, que comanda a goleada por 6 a 0 na volta, no Nilton Santos, e também a vitória por 2 a 1 e o empate em 1 a 1 com o Red Bull Bragantino, que colocou o Botafogo na fase de grupos.
Ainda com o interino, o Botafogo começou a fase de grupos da Libertadores com derrota dura dentro de casa por 3 a 1 para o Junior Barranquilla, da Colômbia. Era chegado o momento de uma busca no mercado por um técnico definitivo para comandar o grande elenco. Artur Jorge foi contratado e, em seu primeiro desafio, perdeu por 1 a 0 para a LDU (EQU) na altitude de 2.850m de Quito. Tempo era o que o Alvinegro precisava.
Na sequência foram dois jogos dentro do Nilton Santos para recolocar o Botafogo na luta por uma vaga nas oitavas de final, e o fator casa decidiu. Vitórias por 3 a 1 e 1 a 0 sobre Universitario (PER) e LDU, respectivamente, e combinação de resultados que permitiu apenas mais três pontos para confirmar a classificação.
Contra o time peruano, em Lima, o gol de Jeffinho no triunfo por 1 a 0 levou o time carioca ao mata-mata. A equipe avançou na segunda colocação com o empate sem gols fora de casa com o Junior Barranquilla pela última rodada do Grupo D. O sorteio, então, reservou logo de cara o principal duelo eliminatório: vinha pelo caminho o tricampeão Palmeiras, algoz de 2023 com a virada por 4 a 3 no Nilton Santos, pelo Brasileirão, e presidido por Leila Pereira, que vivia clima tenso nos bastidores com o empresário John Textor, dono da SAF.
Para as oitavas de final, o Botafogo já contava com duas grandes contratações do segundo semestre: o meia Thiago Almada e o centroavante Igor Jesus. No jogo de ida, no Nilton Santos, vitória por 2 a 1 com gols de Luiz Henrique e Igor Jesus - que contribuiu com assistência na abertura do placar. Vantagem construída e decisão no Allianz Parque.
Em São Paulo, o cenário, que parecia ser tranquilo para o time de Artur Jorge, quase virou novo pesadelo diante do Verdão. Igor Jesus e Savarino abriram 2 a 0 já no segundo tempo, mas o Palmeiras reagiu. Flaco López diminuiu aos 41 e Rony deixou tudo igual aos 45. O fantasma assombrava novamente o Botafogo, que implorava para o fim. "De novo, Botafogo?", perguntavam os torcedores.
Quando o relógio se aproximava dos 49 minutos, confusão na área e Gustavo Gómez fez o terceiro, para levar a decisão à marca de cobranças de pênaltis. O VAR, no entanto, anulou o gol por toque no braço do zagueiro paraguaio. No último suspiro, Gabriel Menino ainda acertou o travessão de John em cobrança de falta. De novo não. No sufoco e com placar agregado de 4 a 3, Botafogo classificado para as quartas de final. Passo gigante rumo à Glória Eterna ao eliminar o tricampeão.
Embalado também pela crescente no Brasileirão, o Botafogo teve uma atuação de gala contra o São Paulo no primeiro jogo das quartas de final, no Nilton Santos. No entanto, o volume apresentado pela equipe alvinegra não foi suficiente para tirar o zero do placar no Rio de Janeiro. A decisão ficou para o Morumbis, em partida eletrizante e decidida nos pênaltis.
Fora de casa, o Glorioso foi superior na primeira etapa e abriu o placar cedo, aos 15 minutos, com o argentino Thiago Almada. O São Paulo cresceu na volta do intervalo e, depois de muito pressionar, empatou aos 42 com gol do atacante Calleri. Nos pênaltis, mais uma vez do "jeito Botafogo", com emoção, vitória do Alvinegro por 5 a 4. Calleri e Vitinho perderam para as equipes na primeira série de cobranças, e John defendeu de Rodrigo Nestor nas alternadas. Matheus Martins converteu o que colocou o Botafogo na semifinal contra o pentacampeão Peñarol, que tirou o Flamengo.
O dia do jogo com os uruguaios foi marcado pela confusão no Rio de Janeiro protagonizada pelos torcedores do Peñarol, no bairro do Recreio dos Bandeirantes. Clima quente para a abertura da semifinal, mas, em campo, o Botafogo tratou de "atropelar" os Carboneros pelo placar de 5 a 0. Um show para confirmar o favoritismo.
Na volta, nova confusão nos bastidores e a partida inicialmente marcada para o Campeón del Siglo foi para o Centenário. O Peñarol venceu por 3 a 1 - Almada marcou para o clube da estrela solitária - e o placar agregado ficou 6 a 3. Partida disputada, com todas as dificuldades fora de casa e do tamanho da competição, mas mostrando o merecimento. Havia chegado a hora.
Veio então a primeira decisão de Libertadores da história do Botafogo, para deixar marcado o dia 30/11/2024. O primeiro campeão da principal competição do continente vindo da chamada Pré-Libertadores enfrentou o Atlético-MG no Monumental de Núñez pintado de preto e branco.
O Botafogo do passado da década de 1960, de Manga, Nilton Santos, Garrincha, Quarentinha e Zagallo não conseguiu e parou na semifinal contra o Santos de Pelé em 1963. Em 1973, o time de Jairzinho, Marinho Chagas, Roberto Miranda, Fischer e Ferretti parou também na semifinal - na época em formato de triangular.
Já o Botafogo de 2024, do presente e também do futuro, construído por uma nova gestão liderada pelo empresário John Textor, dono da SAF, conseguiu tal feito. O Botafogo de John, Vitinho, Bastos, Alexander Barboza, Alex Telles, Gregore, Marlon Freitas, Savarino, Thiago Almada, Luiz Henrique e Igor Jesus, que ainda conta com grandes nomes no elenco, como o artilheiro Júnior Santos, Adryelson, Marçal, Cuiabano, Allan, Danilo Barbosa, Óscar Romero, Tchê Tchê, Eduardo, Matheus Martins, Jeffinho e Tiquinho Soares. Do ídolo Gatito Fernández, ainda que no banco, e de nomes menos badalados, como Carlos Alberto, Lucas Halter, Hugo, Mateo Ponte, Kauê, Yarlen e Fabiano.
Chega de tristeza. É o fim da espera do único dos 12 gigantes que ainda não havia conquistado o continente. É tempo de Botafogo, que disputará o Intercontinental e o Mundial de Clubes da Fifa.
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