Jefferson (à esquerda) acompanhou a final da Libertadores com o irmão Jair (à direita) e o cunhado Michel, em Buenos AiresArquivo pessoal
Torcedor do Botafogo realiza sonho de irmão cego na final da Libertadores: 'É um guerreiro'
Jair e Jefferson viajaram para acompanhar a conquista inédita na história do clube
Rio - O Botafogo conquistou a Libertadores pela primeira vez na história. O título alvinegro é marcado por inúmeras histórias especiais, de gerações que acompanharam juntos ou daqueles que levaram em memória algum ente botafoguense. Entre tantos relatos, os irmãos Jair e Jefferson viralizou nas redes sociais e ganhou até mensagem de Júnior Santos, autor do gol que sacramentou a vitória sobre o Atlético-MG, no último sábado (30), em Buenos Aires, na Argentina.
Jair Conrado levou o irmão Jefferson, que é cego, ao Monumental de Núñez. Os gêmeos percorreram cerca de 6,400 quilômetros de Brasília até Buenos Aires, a capital argentina, para realizar um sonho. Jefferson perdeu a visão aos dez anos de idade em sequela da retirada de um tumor cerebral. Mesmo assim, Jair fez questão de dar vida ao título do Botafogo.
"Eu tenho hábito de narrar os jogos porque em muitos estádios se colocar no rádio no celular tem delay, já que não temos costume de usar rádio de pilha. Meu irmão gosta de sentir a atmosfera, de cantar com a torcida, então escutar o jogo no rádio perderia um disso. Eu só narro em lances importantes. Minha ideia era pegar o apito final e mostrar a reação dele. Meu irmão é um guerreiro. E pegar o gol foi melhor ainda. Caímos em lágrimas", disse em entrevista ao DIA.
Naturais de Brasília, os irmãos torcem para o Botafogo desde pequena. Foi uma herança de família, passada dos tios e primos. Jair e Jefferson são gêmeos e nasceram em 1995, ano do último título brasileiro e, até então, a última conquista relevante do clube. O jejum chegou ao fim no dia 30 de novembro, mas não foi fácil. Com apenas 30 segundos, Gregore foi expulso e deixou o time com um a menos. Jair reconhece que foi difícil falar para o irmão, mas ressaltou que a confiança permaneceu na arquibancada.
"A expulsão foi um choque. Falei que o jogador (do Atlético-MG) estava no chão e que um jogador nosso deveria ser expulso. Mas a própria torcida não desacreditou. Foi passando o tempo e recuperamos a confiança. Sabíamos que ia dar certo, mesmo com a expulsão do Gregore. Claro que vem o receio, mas o time correspondeu dentro de campo e começamos a acreditar", afirmou.
Maior referência do time para os irmãos, o atacante Júnior Santos entrou no segundo tempo e fez o gol que sacramentou a vitória por 3 a 1 sobre o Atlético-MG. O jogador foi o artilheiro da Libertadores e o principal responsável por levar o Botafogo para a fase de grupos. Porém, uma fratura na tíbia o tirou das quartas de final e semifinal. Ele retornou na reta final e, aos poucos, tem recuperado o ritmo. E mesmo assim não precisou de muito tempo para ser novamente decisivo.
"O Júnior Santos tem uma história de luta. A gente fala 'o negão vai entrar e decidir'. Ele é um cara que a gente gosta muito e se identifica porque também tem outras questões, ele é um cara cristão e de família", disse Jair, que contou que o irmão é atleta de golbol, uma modalidade paralímpica, e se inspira no ídolo e ex-goleiro Jefferson.
"O maior ídolo do meu irmão é o Jefferson. Ele pratica o esporte paralímpico golbol e é como se fosse um goleiro, e ele se inspira nele. Ele joga numa instituição de cego aqui em Brasília, já foram campeões brasileiro e já participou de jogos da seleção brasileira. Ele e a mulher tem um projeto com os deficientes aqui em Brasília. Ele já é realizado como atleta", finalizou.
O Botafogo ainda pode conquistar mais um título no ano. O Alvinegro entra em campo nesta quarta-feira (4), às 21h30 (de Brasília), contra o Internacional, no Beira-Rio, pela 37ª rodada do Brasileirão. Em caso de vitória e tropeço do Palmeiras, conquista o campeonato de forma antecipada. Já em caso de empate, precisa torcer por uma derrota do time paulista, que joga contra o Cruzeiro, no mesmo horário, fora de casa.
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