José Leandro de Souza Ferreira, ou, simplesmente, Leandro, o Peixe Frito, está no hall dos maiores ídolos do clube por tudo o que conquistou, além, claro, de sua classe, técnica e categoria com a camisa 2 do Mengão e da Seleção BrasileiraMarcelo Cortes/Flamengo

Um dos maiores laterais da história do futebol é do Flamengo. Mais, é flamenguista. José Leandro de Souza Ferreira, ou, simplesmente, Leandro, o Peixe Frito, está no hall dos maiores ídolos do clube por tudo o que conquistou, além, claro, de sua classe, técnica e categoria com a camisa 2 do Mengão e da Seleção Brasileira. Coisa rara e inimaginável nos dias de hoje, o ex-lateral foi jogador de um clube só. Desde a base até pendurar as chuteiras, o craque só vestiu a camisa do Mengão.
"Só um Rubro-Negro sabe o que é Flamengo. É difícil definir. É um misto de amor, alegria, sentimento puro. Aquele negócio que, quando escuta o hino, vê o time entrar em campo, quando tá na arquibancada, sobe no corpo, mexe com a alma, com o coração, você se arrepia. Isso, para mim, é Flamengo. Uma paixão louca. Um amor imenso. indecifrável", diz Leandro.
A paixão pelo Mais Querido começou cedo. Criança, ainda em Cabo Frio, Leandro já acompanhava os jogos do Fla com seu pai, um maranhense fanático pelo Vermelho e Preto. No rádio ou viajando 150 km até o Maracanã, o garoto já nutria um sentimento pelo Rubro-Negro.
Minha maior lembrança é de 1969. Eu tinha 10 anos e estava em casa vendo o Fla x Flu com ele. Mas antes já tínhamos ido ao Maracanã, eu com seis, sete anos. Porém, em 1969, o Flamengo tava perdendo o jogo. Eu fui para a sala e rezei para o Fla empatar. E empatou. Na hora eu fiquei muito feliz, arrepiado, em ver a alegria e o semblante do meu pai. Bateu forte o sangue Rubro-Negro", lembra o ídolo.
Leandro chegou ao Flamengo em 1976, aos 17 anos, para fazer parte do time juvenil. Após duas temporadas, já figurava na equipe profissional ao lado de ídolos como Cantareli, Raul, Rondineli, Júnior, Carpegiani, Andrade, Adílio, Zico, Cláudio Adão, além do técnico Cláudio Coutinho. O encontro do garoto vindo de Cabo Frio com os jogadores da equipe principal deu certo. Foi o começo de uma linda história.
Garoto no meio das feras
Ao chegar no Flamengo, Leandro encontrou seu maior ídolo, com quem pôde jogar e ganhar muitos títulos. "Eu tenho o Zico como meu ídolo máximo. Eu o vi jogar aqui em Cabo Frio em 1974, muito antes de eu pensar em jogar no Flamengo. Depois, eu já no juvenil, o nosso vestiário era do lado do profissional. Então, a gente chegava cedo e ficava vendo os caras entrando no vestiário. E você, depois, estar junto é emocionante. Eu só tenho que agradecer a todos eles. Nos tratavam como irmãos, filhos. Éramos muito bem recebidos. Davam muitas dicas, ajudavam", diz o ex-lateral, que também revela o lado "ruim" de ser o jogador subindo da base.
O chato era depois, na concentração, que nós virávamos garçons deles. Eles ficavam jogando baralho lá em cima e me chamavam para pegar alguma coisa. Pega lanche, pega bolacha… a batata da perna e as coxas inchavam de tanto subir e descer a escada. Mas foi um aprendizado muito grande", completa.
A melhor partida
Leandro conta que sua melhor partida pelo Fla foi na final de 1983, na vitória sobre o Santos por 3 a 0, no Maracanã. "Eu estava na concentração e falei para o jornalista Silvio Dantas que seria 3 a 0. Gol meu, do Zico e do Adílio. Não foi nessa ordem, mas foi impressionante. Eu marquei um ponta esquerda, o João Paulo, talvez o mais difícil que marquei na minha vida, ainda tinha que apoiar. O time todo naquele dia estava muito inspirado. Depois de perder por 2 a 1. O Zico abriu o placar. Eu faço o segundo, depois ainda chuto uma bola no travessão. Aí era querer demais, fazer dois numa final de Brasileirão. E o Adílio fez o terceiro. A gente não sabia, mas acabou sendo a despedida do Galo."
O jogo mais difícil
Já o duelo mais complicado, o ídolo lembra de outra final, a da Libertadores. "Contra o Cobreloa-CHI foi muito difícil. Ganhamos aqui no Maracanã por 2 a 1. O jogo lá no Chile teve muita pressão da torcida, da polícia, tinha até cachorro dentro de campo. Deram cotovelada, pedrada no Adílio e no Lico, que não jogou o terceiro jogo por isso. Aquilo virou uma guerra. Ainda mais pela situação que vivia o país. Perdemos de 1 a 0, gol contra meu, e acho até que foi providencial para a gente poder sair do Estádio. Por toda a trajetória até chegar lá, as partidas contra o Atlético-MG, Olimpia-PAR, o conjunto da obra deixou tudo mais difícil."
O duelo inesquecível
Não poderia ser outro. O eterno camisa 2 fala da maior partida da história do Flamengo. A final do Mundial diante do poderoso Liverpool. "Esperávamos que fosse um jogo ainda mais difícil por ter sido contra o Liverpool, tricampeão da Champions League até então (1976–77, 1977–78 e 1980–81), com jogadores famosos da seleção inglesa. Mas, quando começou e a bola rolou, o Flamengo dominou o jogo e metemos 3 a 0 no primeiro tempo. Demos uma "meia" parada na etapa final esperando eles, mas não vieram para cima. Se tivessem vindo, tomariam mais. Essa vitória coroou aquela geração toda. O Mundial ficou nos anais. Foi bom demais. Muito emocionante também."