Bandeira do VascoFoto: Leandro Amorim | Vasco da Gama
No dia de hoje se encerra o mandato desta Diretoria Administrativa, que foi responsável pela gestão de nosso Club de Regatas Vasco da Gama ao longo dos três últimos anos. Este é um momento de reflexão sobre tudo o que vivemos e, também, de agradecimentos. Passamos por uma quadra dura e transformadora na história de nosso clube, e fazer essa travessia não seria possível sem o apoio e a grandeza de associados, conselheiros, beneméritos, funcionários, atletas e torcedores do Vasco da Gama. A todos, o nosso carinho e gratidão.
Iniciamos nossa gestão em um momento de crise sem precedentes. O mundo estava paralizado por uma pandemia e nosso clube praticamente insolvente, às portas de um trágico novo rebaixamento no futebol profissional. Naquele janeiro de 2021 tínhamos cinco meses de salários atrasados, FGTS sem ser recolhido, impostos não pagos, inadimplência com fornecedores, endividamento contabilizado saltando de R$ 650 milhões para R$ 820 milhões, caixa zerado, sem crédito e credibilidade no mercado, além do risco iminente de bloqueio de contas e penhoras. No lado das receitas, a queda para a Série B do Campeonato Brasileiro ensejaria a perda de arrecadação de cerca de R$ 100 milhões (quase 50% do orçamento inicialmente projetado para 2021), isso sem contar que receitas vitais como direitos de televisão e patrocínio já haviam sido antecipadas por gestões anteriores. Da mesma forma, contratos importantes, como o de fornecimento de material esportivo, também foram renovados antecipadamente, deixando o clube praticamente sem receitas e correndo o risco iminente de sua operação entrar em colapso.
Do ponto de vista político e institucional, estávamos recém saídos de um processo eleitoral extremamente conturbado, judicializado, e com os resultados das eleições contestados com grande alarde. A extrema fragilidade financeira do clube, somada a uma percepção de insegurança jurídica tornou o cenário ainda mais desafiador para a Diretoria Administrativa recém eleita. Alguns mecanismos de levantamento de recursos projetados à época da campanha eleitoral não se viabilizaram. A saída foi implementar, ainda no primeiro trimestre de gestão, uma ampla reestruturação administrativa que obrigou, inclusive, a dura decisão de demitir mais de 200 funcionários do CRVG.
Paradigmas foram quebrados, como na implantação da política de autossustentabilidade dos esportes olímpicos e a implantação de novas e arrojadas práticas no marketing e captação de receitas. Acordos inéditos de consolidação de execuções de dívidas cíveis e trabalhistas e a transação tributária com a Procuradoria da Fazenda Nacional possibilitaram uma primeira redução do endividamento, a racionalização de pagamentos e a suspensão de risco de arrestos. Mesmo assim, nos momentos mais agudos, foi necessário o aporte de recursos de sócios do clube, principalmente do próprio presidente.
No campo esportivo, iniciamos com o Vasco enfrentando seu quarto rebaixamento para a Série B. As circunstâncias financeiras e a péssima performance esportiva exigiram uma ampla reformulação do elenco para a temporada 2021, que foi implementada. Apesar de todas as dificuldades, foi garantido ao futebol profissional um orçamento cerca de 30% superior que os dos demais clubes que disputaram a competição, para buscar o obrigatório acesso à Série A. O departamento de futebol foi profissionalizado, metas e processos foram implementados. Infelizmente, a classificação para a Série A não foi alcançada. Reconhecemos e assumimos a responsabilidade por não termos alcançado o objetivo almejado por todos. Pedimos desculpas aos vascaínos ao final daquela temporada e renovamos agora nossas desculpas.
Desde o início da nossa gestão estava absolutamente claro que a virada para a longa e lenta decadência, esportiva e financeira, enfrentada por nosso clube ao longo das duas últimas décadas só seria possível com a equalização do gigantesco endividamento que asfixiava o Vasco e com uma injeção de capital para que o clube pudesse voltar a fazer investimentos importantes no futebol. Era indispensável que o ciclo vicioso de receitas baixas – porformance esportiva fraca – aumento do endividamento fosse rompido de maneira decisiva.
A aprovação da Lei da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) abriu um novo caminho. O Vasco da Gama embarcou nesse processo contratando os mais capacitados e experientes assessores financeiros e escritórios de advocacia do mercado. Um longo processo de avaliação dos ativos do futebol e da marca Vasco da Gama foi feito, assim como a apresentação e negociação com potenciais investidores. Foram estabelecidas pelo Vasco as diretrizes para o potencial negócio: equalização do endividamento, garantia de investimento de capital com metas de performance esportiva, CRVG com participação acionária relevante e salvaguardas contratuais, e manutenção de São Januário como propriedade do CRVG.
Foi dado início a um amplo processo, que passou por duas memoráveis deliberações, por maioria qualificada, no Conselho Deliberativo e por duas Assembléias Gerais, onde os sócios do CRVG, por ampla maioria, fizeram história e aprovaram a constituição da Vasco da Gama SAF, e a venda de 70% das ações para a 777 Partners. Estava claro para os vascaínos que o modelo vigente até então estava falido e que uma nova estruturação era absolutamente indispensável para o Vasco retomar seu caminho de conquistas e vitórias. Temos muito orgulho de termos tido a oportunidade de liderar este processo que transformou nosso clube, e gratos pelo apoio recebido.
Apesar de um início difícil, em razão de decisões equivocadas tomadas por nossos parceiros internacionais, a Vasco SAF fez, em junho de 2023, importante correção de rumo na sua gestão administrativa e também no futebol. Essa mudança foi decorrente da diligente, enfática e decisiva atuação do sócio CRVG. Com isso, foi estabelecida a fundamental e necessária harmonia entre CRVG, 777 Partners e Vasco SAF. Nossa empresa se fortaleceu em todas as áreas e garantiu a permanência do Vasco da Gama na Série A. Foram consolidadas as bases para que os objetivos esportivos de voltar a ser protagonista no futebol brasileiro e sul-americano sejam alcançados. Temos uma empresa sólida, capitalizada, com profissionais de primeira linha, tanto na gestão administrativa quanto no futebol. E, principalmente, temos uma base sólida na equipe de futebol profissional e recursos para investir em sua necessária qualificação.
Hoje, com orgulho, podemos dizer que o Vasco avançou muito nestes últimos três anos. Todos os nossos funcionários, da Vasco SAF e do CRVG, estão há quase dois anos com salários em dia, FGTS e impostos recolhidos no prazo, fornecedores em dia, endividamento equacionado, voltamos a ter crédito e credibilidade, além de previsibilidade financeira e operacional. Na temporada de 2024 já temos aprovado o maior orçamento da história do clube para o fubetol. A Vasco SAF já pagou mais de R$ 100 milhões em dívidas e valorizou o elenco profissional em mais de 200%. A camisa do Vasco que, quando assumimos, arrecadava R$ 14 milhões, esse ano vai ultrapassar os R$ 60 milhões em receitas, uma valorização de mais de 400%. Nossa VascoTV é a melhor TV de clube do Brasil, e foi líder de audiência no Brasileirão. As receitas de licenciamento são crescentes e o número de lojas teve um aumento superior a 100%. Tudo isso numa temporada que teve um primeiro semestre muito ruim que obrigou o Vasco a trilhar um difícil caminho de recuperação.
O CRVG tem muitos feitos a orgulhar os vascaínos neste triênio que se encerra. Nos esportes olímpicos e paralímpicos alcançamos a autossustentabilidade financeira e ótimos resultados esportivos. O basquete voltou ao Vasco em todas as categorias, com um patrocínio forte e uma equipe profissional que está superando expectativas na sua primeira temporada. O Parque Aquático de São Januário também tornou-se autossustentável e a natação vascaína obteve grandes resultados. O Futsal se fortaleceu ainda mais e conquistou os principais títulos na temporada. Os esportes paralímpicos alcançaram resultados fantásticos no triênio, tendo o Vasco da Gama medalhistas dos Jogos Paralímpicos, campeões mundiais e parapanamericanos. Se o remo e as demais modalidades também experimentaram crescimento, é certo que ainda temos muito a conquistar.
O Vasco da Gama sempre foi e segue sendo um grande líder nas causas sociais. Ao longo de todo nosso mandato foram implementadas inúmeras iniciativas para valorizar e fortalecer A Mais Bonita História Do Futebol. Entregamos dois novos espaços museológicos, o Espaço Experiência, em São Januário, e o Centro Cultural da Lagoa. O Centro de Memória implementou importantes ações voltadas à valorização do papel histórico do Vasco como o traço de união Brasil – Portugal e a história do clube, como a exposição do centenário dos Camisas Negras. O Vasco ampliou seu alcance social através de inúmeros projetos e iniciativas que beneficiam crianças e jovens da Barreira do Vasco, Tuiuti, Arará e moradores do entorno de São Januário. O Vasco também foi pioneiro em ações contra a homofobia, transfobia e a violência contra a mulher, envolvendo a comunidade e seus torcedores. A pauta da luta contra o racismo foi reforçada com posicionamentos institucionais firmes, ações com o futebol e a criação da Honraria Pai Santana. O Colégio Vasco da Gama, orgulho dos vascaínos, foi reformado, ampliado e ganhou o anfiteatro Clementina de Jesus.
Procuramos dar segmento aos bons projetos que recebemos das gestões anteriores. Mas temos um particular orgulho com o trabalho que fizemos para resgatar a vida política e associativa do maior ídolo da história de nosso clube. Roberto Dinamite voltou a conviver diáriamente em São Januário, participando de todas as atividades do clube. Os vascaínos tiveram a felicidade de eternizar, em vida, o MAIOR DE TODOS, com a instalação da estátua de Roberto no campo de jogo de São Januário. Os Poderes do Clube puderam honrar uma vida dedicada ao Vasco, como aleta e presidente, concedendo a Roberto Dinamite o título de Benemérito do CRVG.
Apesar das restrições orçamentárias, com muita luta pudemos também avançar em frentes relativas ao nosso patrimônio. Ainda no início da gestão realizamos a manuteção estrutural emergencial nas arquibancadas, na social e nas marquises de São Januário. Também inaguramos os novos e modernos estúdios da VascoTV e Sala de Imprensa. No CT Moacyr Barbosa ampliamos as áreas de preparação fisica e de atenção médica de nossos atletas, além de outras melhorias. O CT da Base, em Duque de Caxias, ganhou três novos campos de futebol, em parceria com a Prefeitura. Na Sede do Calabouço também foram implementadas reformas e melhorias que beneficiaram os associados. E a Sede Nautica da Lagoa foi totalmente reformada, ganhou novas instalaões administrativas, e um Centro Cultural, tudo financiado voluntariamente por sócios do Vasco.
Decisões estratégicas foram tomadas em dois pontos fundamentais para o futuro de nosso clube: a reforma de São Januário e o retorno do Vasco ao Maracanã. Com relação a São Januário, a diretoria decidiu dar continuidade ao projeto de reforma do estádio elaborado pela gestão anterior, que foi melhorado e teve a capacidade ampliada para 47 mil espectadores. Com a desistência da W Torre, que seria parceira da viabilização da reforma, o Vasco partiu para encontrar uma alternativa junto ao Poder Público Municipal. Com o decisivo apoio do Prefeito Eduardo Paes, foi construído um projeto de Lei, de autoria do Poder Executivo, que viabiliza a reforma e ampliação do estádio através da cessão do potencial construtivo. O Projeto de Lei de São Januário foi encaminhado para a Câmara de Vereadores em novembro passado. A expectativa é que possa ser votado, aprovado e sancionado até 7 de abril de 2024, no centenário da Resposta Histórica.
Com relação ao Maracanã, revertemos uma política histórica de afastamento do mais importante estádio de futebol do mundo, implementada há mais de 25 anos. O Vasco da Gama voltou a pleitear jogar no Maracanã e para isso teve que enfrentar seu rival na justiça, vencendo as disputas por oito vezes, em primeira e segunda instância. No campo institucional, o Vasco da Gama passou a cobrar o Estado do Rio de Janeiro o seu legitimo direito de disputar a gestão do Maracanã, entregue em caráter précário, sem licitação, para Flamengo e Fluminense. Depois de mais dez renovações automáticas, finalmnte foi lançada a licitação pública do Maracanã, no qual a Vasco SAF foi habilidada e já entregou sua proposta, em parceria com a W Torre, principal operadoda de arenas do país. Assim como a reforma de São Januário, o retorno ao Maracanã é estratégico para o Vasco.
Reconhecendo que não conseguimos implementar todas as nossas propostas, mas na certeza que doamos todo nosso empenho, esforço e amor ao nosso clube, entendemos que transformações fundamentais para o futuro do clube foram concretizadas. Sempre com o apoio e colaboração dos vascaínos. Em muitos e decisivos aspectos o Vasco é outro. Foram realizadas três Assembleias Gerais impecáveis no último triênio, sempre em formato hibrido, com expressiva participação dos associados. A transferência de Poder está se dando de forma harmonica, serena e institucional.
Mais do que ninguém, estamos certos dos enormes desafios e, também, das oportunidades que o CRVG tem diante de si. Não entregamos uma obra acabada, longe disso. Por isso desejamos à futura gestão todo o sucesso na condução dos destinos do Vasco da Gama. Temos absoluta confiança nos propósitos e na capacidade do presidente Pedrinho, do 1º Vice-Presidente, Paulo Salomão e do 2º Vice-presidente Renato Brito. Temos a crença absoluta que o Vasco unido é invencível. Por isso, estaremos sempre disponíveis para colaborar, a qualquer tempo ou circunstância.
Saudações vascaínas!
Jorge Salgado
Presidente
Carlos Roberto Osorio
1º Vice-presidente
Roberto Duque Estrada
2º Vice-presidente
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