No último dia 15 de agosto, o Talibã tomou a capital do Afeganistão e voltou ao poder após 20 anosAFP

Cabul - Os talibãs alertam, novamente, nesta terça-feira, 24, que as retiradas de afegãos devem terminar em 31 de agosto, e também exigiram que os países ocidentais não levem as pessoas mais qualificadas.

Até agora, cerca de 60 mil pessoas, estrangeiros e afegãos, foram retiradas do país do aeroporto de Cabul desde 14 de agosto, a maioria delas em voos militares dos EUA, segundo dados de Washington. Mas uma multidão ainda está reunida do lado de fora das instalações, esperando a oportunidade de ir embora.

A União Europeia pediu, durante uma reunião de cúpula virtual do G7 dedicada ao Afeganistão, aos Estados Unidos para garantir a segurança do aeroporto "pelo tempo que for necessário".

Os talibãs haviam reiterado pouco antes em Cabul que se opunham à prorrogação do prazo.

Potências estrangeiras estão levando "especialistas afegãos", como engenheiros, disse o porta-voz Zabihullah Mujahid. “Pedimos que interrompam essas operações”, exigiu.

"Eles têm aviões, eles têm o aeroporto, deveriam tirar seus cidadãos e empreiteiros daqui", disse. Mas não deveriam incitar os afegãos a fugirem do Afeganistão", acrescentou.

Mulheres funcionárias
Pondo fim a duas décadas de guerra com uma ofensiva relâmpago que os levou a assumir o controle de Cabul em 15 de agosto, assim como da maior parte do país, os talibãs afirmaram que o prazo de 31 de agosto, data prevista para a retirada total das tropas estrangeiras, é uma "linha vermelha".

"Se Estados Unidos ou Reino Unido buscam mais tempo para continuar as retiradas, a resposta é não (...) Haveria consequências", alertou outro porta-voz do grupo, Suhail Shaheen.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, deseja manter a data prevista, mas é pressionado pelas imagens de milhares de afegãos desesperados que aguardam no aeroporto de Cabul por um voo humanitário que permita a fuga do regime talibã.

Antes da reunião do G7, o ministro britânico da Defesa, Ben Wallace, considerou "pouco provável" que Washington aceite a prorrogação. "Mas com certeza vale a pena tentar e vamos fazer isto", declarou ao canal Sky News.

"A situação é francamente dramática e cada dia que passa é pior, porque as pessoas têm consciência de que os prazos estão acabando", afirmou a ministra espanhola da Defesa, Margarita Robles.

No Afeganistão, os cidadãos que trabalharam para governos ou empresas estrangeiras nos últimos anos, artistas ou pessoas que defenderam a abertura do país e os direitos das mulheres ou minorias sabem que são alvos dos extremistas.

Na terça-feira, em sua coletiva de imprensa, o porta-voz talibã garantiu que as mulheres afegãs poderão retornar ao trabalho quando "a segurança estiver garantida".

"Queremos que trabalhem, mas também que a segurança seja boa" para isso, disse Zabihullah Mujahid, que frisou que, por enquanto, as mulheres devem ficar em casa.

"Linha Vermelha"
Publicidade
A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, advertiu que a forma como o Talibã pretende tratar as mulheres, especialmente no que diz respeito ao seu direito à educação, representará uma "linha vermelha".

Bachelet, que no início de agosto havia mencionado "relatórios que mostravam violações que poderiam constituir crimes de guerra" no Afeganistão, destacou que recebeu "informações confiáveis sobre graves violações do direito humanitário internacional e ataques contra os direitos humanos em várias zonas sob controle talibã".

A Organização Mundial da Saúde (OMS), por sua vez, alertou que só tem no país suprimentos de saúde suficientes para "uma semana".
Os talibãs, que trabalham na formação de um novo governo, afirmam que mudaram em comparação com o regime que administrou o país há 20 anos, quando estabeleceram um regime brutal e fundamentalista entre 1996 e 2001.

Um relatório da ONU divulgado na semana passada afirma, no entanto, que os islamitas seguem de "porta em porta" para procurar pessoas que trabalharam com o antigo governo, ou com as tropas internacionais.

Os fundamentalistas conseguiram impor uma calma relativa na capital, onde patrulham as ruas, mas o medo continua presente. Muitos cidadãos, sobretudo mulheres, não se arriscam a sair de casa.

Um núcleo de resistência aos talibãs persiste no vale de Panshir, ao nordeste de Cabul, chamado Frente Nacional de Resistência (FNR). O movimento é liderado por Ahmad Masud, filho do célebre comandante Masud, assassinado em 2001, e por Amrullah Saleh, vice-presidente do governo derrubado.

Na segunda-feira, os talibãs afirmaram que cercaram a região de Panshir, mas que preferiam negociar antes de combater.

O porta-voz da FNR, Ali Maisam Nazary, disse à AFP que se prepara "para um conflito de longa duração" com os talibãs, caso não seja alcançado um acordo para um "sistema de governo descentralizado".