Presidente francês Emmanuel Macron foi reeleitoAFP

Os franceses confiaram neste domingo, 24, um novo mandato de cinco anos ao centrista Emmanuel Macron contra Marine Le Pen, que apesar de perder conseguiu o melhor resultado da extrema-direita em uma eleição presidencial na França.

Segundo estimativas iniciais, o candidato de La República en Marcha (LREM), de 44 anos, obteve cerca de 58,5% dos votos, uma diferença menor do que em 2017, quando derrotou sua adversária do Reagrupamento Nacional (RN) com 66,1% dos votos.

"De agora em diante, não sou mais o candidato de um campo, mas o presidente de todos", garantiu Macron durante seu discurso de vitória aos pés da Torre Eiffel, em Paris, onde chegou com o hino europeu ao fundo e, diferente de 2017, acompanhado por sua esposa Brigitte e um grupo de jovens.
"A raiva e as divergências que levaram muitos de nossos compatriotas a votar hoje pela extrema-direita devem encontrar uma resposta. Será minha responsabilidade e de todos ao meu redor", acrescentou, emocionado.

A França optou por continuar com um líder pró-europeu, que também se tornou o primeiro a conseguir a reeleição desde 2002, quando o conservador Jacques Chirac venceu o pai de sua rival deste domingo, o ultradireitista Jean-Marie Le Pen.

As reações dos líderes europeus foram imediatas. "Podemos contar com a França por mais cinco anos", disse o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel. É um "voto de confiança para a Europa", afirmou o chanceler alemão Olaf Scholz.

A vitória de Macron distancia o projeto de ruptura da candidata do RN, de 53 anos, que defendia a exclusão de estrangeiros dos benefícios sociais, inscrevendo a "prioridade nacional" na Constituição, e o abandono do comando integrado da Otan.

Porém, apesar das advertências sobre o "perigo" extremista, a extrema-direita tem feito avanços constantes a cada eleição desde 2002. Com 41,8% a 42,4% dos votos, segundo estimativas, Le Pen alcançou seu melhor desempenho.

"O resultado por si só representa uma brilhante vitória", disse a herdeira da Frente Nacional (FN) a seguidores desapontados em seu quartel-general. "Vou seguir meu compromisso com a França e os franceses (...) Vou lutar esta batalha", acrescentou.

Comemorações explodiram entre a população presente no Campo de Marte, ao pé da Torre Eiffel, onde Macron deve se dirigir a seus apoiadores, após a divulgação das primeiras estimativas. Mas "quando vemos uma extrema-direita acima de 40%, temos que continuar trabalhando, unir o país, ter um projeto político e uma maioria parlamentar", disse o ministro de Assuntos Europeus, Clément Beaune.

A "grande batalha eleitoral"
Com o nome do inquilino do Palácio do Eliseu claro, a segunda economia da União Europeia (UE) entra agora na campanha para as eleições legislativas de 12 e 19 de junho, que desta vez tem ares de um “terceiro turno”.

"Lançamos esta noite a grande batalha eleitoral das legislativas", disse Le Pen, a quem seu rival da extrema-direita Éric Zemmour pediu a construção de um "bloco nacional". "O sobrenome Le Pen é derrotado pela oitava vez", lembrou Zemmour, que a apoiou no segundo turno.

A reeleição de Macron ocorreu em um cenário de descontentamento entre os jovens e entre os eleitores desiludidos do esquerdista Jean-Luc Mélenchon, que recebeu quase 22% dos votos no primeiro turno.

"Entre a peste e a cólera, devemos tomar a decisão certa", disse Pierre Charollais, um aposentado de 67 anos em Rennes, no oeste do país, defendendo um "voto responsável" em um contexto "particular" devido à guerra na Ucrânia.

A abstenção, entre 27,8% e 29,8% segundo as estimativas, atingiu assim o seu nível mais elevado em um segundo turno desde 1969 (31,3%).

Macron é "o presidente mais mal eleito" desde o início da Quinta República em 1958, observou Mélenchon, que reiterou seu apelo aos eleitores para torná-lo um "primeiro-ministro" após as eleições legislativas.

De acordo com uma pesquisa BVA na sexta-feira, 66% querem que Macron perca sua maioria parlamentar. A última "coabitação" remonta ao período de 1997 a 2002, quando Chirac nomeou o socialista Lionel Jospin como primeiro-ministro.

"Renascimento"
Contar com uma maioria parlamentar será essencial para o presidente centrista concluir seu programa reformista, que deixou estacionado em um primeiro mandato marcado por crises: protestos sociais, uma pandemia com milhões de pessoas confinadas e a invasão russa da Ucrânia.
A guerra às portas da UE sobrevoou a campanha, mas a principal preocupação dos franceses era seu poder de compra, num contexto de alta dos preços da energia e dos alimentos. Suas promessas de transformar a França incluem o "renascimento" da energia nuclear, alcançar a neutralidade de carbono até 2050 e sua impopular proposta de aumentar a idade de aposentadoria de 62 para 65 anos.

Embora ele já tenha dito que está disposto a ir só até os 64 anos, essa medida, contra a qual milhares de pessoas já se manifestaram no início de 2020, anuncia novos protestos massivos, como os que abalaram seu primeiro mandato, especialmente o dos “coletes amarelos”.

Após a proclamação dos resultados oficiais nesta quarta-feira, Macron deve assumir seu novo mandato antes de 13 de maio. Seu primeiro-ministro, Jean Castex, já anunciou que renunciaria nos próximos dias e defendeu um "novo impulso" à presidência centrista.