Vazamentos estão provocando bolhas de vários metros de comprimento na superfície do mar que impossibilitam a inspeção das tubulaçõesDanish Defence/AFP

A Guarda Costeira da Suécia detectou nesta quinta-feira, 29, o quarto vazamento nos gasodutos Nord Stream que ligam a Rússia à Alemanha através do Mar Báltico, incidentes denunciados pela Otan como uma sabotagem "imprudente". Os gasodutos estão no centro das tensões provocadas pelo corte no fornecimento de gás russo à Europa como resposta às sanções ocidentais pela invasão da Ucrânia.
O escoamento identificado nesta quinta-feira foi localizado ao nordeste da ilha dinamarquesa de Bornholm, acima do gasoduto Nord Stream 2, explicou a Guarda sueca. O anúncio acontece após a divulgação dos três primeiros vazamentos na segunda-feira, 26, sucedida por duas supostas explosões próximas da ilha que pertence à Dinamarca. Dos quatro detectados, dois estão na zona econômica exclusiva da Suécia e dois na área da Dinamarca, todos em águas internacionais, mas quase paralelos um ao outro.
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) denunciou nesta quinta-feira que os danos parecem ser resultado de "atos de sabotagem deliberados e irresponsáveis". Os dois gasodutos, operados por um consórcio controlado pela empresa russa Gazprom, não estavam em funcionamento devido à guerra na Ucrânia, mas ainda estão repletos de gás.
Os vazamentos estão provocando bolhas de vários metros de comprimento na superfície do mar que impossibilitam a inspeção imediata das tubulações, segundo os países afetados. As autoridades dinamarquesas afirmaram que eles continuarão até o fim do gás nas tubulações, o que deve acontecer no domingo, 2 de outubro.
O que dizem os suspeitos
Alvo de suspeitas ocidentais pela suposta sabotagem, a Rússia se defendeu e afirmou que suspeita "do envolvimento" de um Estado estrangeiro, além de ter convocado uma reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre o tema na sexta-feira. "É muito difícil imaginar que um ato terrorista deste tipo possa acontecer sem a participação de um Estado", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, pedindo novamente "uma investigação urgente".
"Os vazamentos estão provocando riscos para os navios e um dano substancial ao meio ambiente", afirmou a aliança militar em um comunicado. A Rússia negou envolvimento nas explosões. O governo dos Estados Unidos fez o mesmo e afirmou que as insinuações de Moscou eram "ridículas".
O Serviço de Segurança da Rússia iniciou uma investigação de "terrorismo internacional" sobre o caso e destacou que os incidentes provocaram "dano econômico significativo" ao país. Institutos sismológicos afirmaram nesta terça-feira, 27, que registraram "com toda probabilidade" explosões na região antes da detecção dos escoamentos.
Medidas
Um navio da Guarda Costeira sueca especializado em descontaminação está na região com um veículo submarino controlado remotamente. Embarcações dinamarquesas também foram enviadas ao setor. "De acordo com a tripulação, o fluxo de gás visível na superfície continua sendo constante", afirmaram as autoridades suecas.
Fatih Birol, diretor da Agência Internacional de Energia, afirmou que é "muito óbvio" quem está por trás dos incidentes. Ele também destacou que a escassez de gás natural devido à guerra na Ucrânia pode provocar um inverno complicado na Europa. "Na ausência de uma surpresa negativa de grandes proporções, acho que a Europa, em termos de gás natural, pode sobreviver a este inverno. Com muitos problemas em termos de preços e aspectos econômicos e sociais, mas podemos superar", disse.
Os grupos de defesa do meio ambiente afirmam que os gasodutos Nord Stream 1 e 2 continham quase 350.000 toneladas de gás natural-metano. O Greenpeace afirma que os vazamentos podem liberar quase 30 milhões de toneladas de dióxido de carbono, o que equivale a dois terços das emissões anuais da Dinamarca.