Presidente russo Vladimir Putin AFP

O presidente russo Vladimir Putin começará nesta sexta-feira, 30, a anexar formalmente 15% do território ucraniano, presidindo uma cerimônia de assinatura no Kremlin para adicionar quatro regiões ucranianas — cerca de 15% do território — à Rússia. 

"Uma cerimônia de assinatura de acordos sobre a entrada de novos territórios na Federação da Rússia acontecerá amanhã (sexta-feira) às 15h (9h de Brasília) no Kremlin", afirmou o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov. "Vladimir Putin pronunciará um discurso no evento", acrescentou.

O anúncio foi feito nesta quinta-feira, 29, depois da organização de "referendos" de anexação em quatro regiões da Ucrânia controladas parcialmente por Moscou: Donetsk e Lugansk no leste, Kherson e Zaporizhzhia no sul. A Rússia anexou em 2014 a península da Crimeia (sul), o que também não foi reconhecido pela comunidade internacional.

A união dos territórios ucranianos representa uma escalada na ofensiva da Rússia. Várias autoridades e analistas russos afirmaram que, quando estas áreas forem anexadas e consideradas por Moscou como parte de seu território, a Rússia poderá usar armas nucleares para "defendê-las".
Ainda com o anúncio das anexações, aumentaram os rumores de que Putin poderia declarar uma lei marcial, fechando as fronteiras e impedindo a fuga da convocação de 300 mil recrutas decretada por ele na semana passada — e vem provocando um êxodo de jovens em idade militar.
Reconhecimento

Os referendos foram criticados por Ucrânia e Ocidente, que não reconhecerão as anexações. Os países do G-7 também prometeram nunca reconhecer os resultados. Os EUA citaram uma resposta "rápida e severa" por meio de sanções econômicas adicionais às anexações. A China, aliada importante da Rússia, não criticou abertamente os referendos, mas pediu o respeito à "integridade territorial de todos os países".

O que pode complicar as reivindicações de Putin é o fato de a Rússia não controlar totalmente nenhuma das quatro regiões. Mesmo assim, autoridades russas nas áreas ocupadas se comprometeram a oferecer passaportes, pagar assistência social, remédios gratuitos e contas de telefone mais baratas.

Na prática, Moscou passaria a considerar as quatro regiões como parte de seu próprio território, tornando uma agressão ucraniana a essas áreas um ataque à Rússia, o que abriria as portas para uma resposta mais violenta — que poderia incluir o uso de armas nucleares.

"A situação legal mudará radicalmente do ponto vista do direito internacional e isto também terá consequências sobre a segurança nestes territórios", admitiu o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

Os ucranianos temem que uma consequência da anexação seja o recrutamento forçado para o Exército russo contra seu próprio país. Em partes de Luhansk e Donetsk, regiões ocupadas pela Rússia desde 2014, isso já acontece.
Ucrânia pede ajuda militar

A Ucrânia solicitou à Otan e União Europeia um aumento da ajuda militar nesta quarta, e novas sanções contra a Rússia. O pedido foi feito depois que as autoridades pró-Moscou declararam vitória nos referendos controversos de anexação de quatro regiões ucranianas ocupadas. A solicitação de mais armas foi anunciada apesar das advertências reiteradas da Rússia de que poderia utilizar seu arsenal nuclear para proteger estes territórios.

O governo ucraniano fez um apelo aos aliados para que transformem as críticas em fatos concretos. "A Ucrânia pede à UE, Otan e ao G7 que aumentem a pressão sobre a Rússia de maneira imediata e significativa, incluindo a imposição de novas sanções duras, assim como um aumento significativo da ajuda militar à Ucrânia", afirmou o ministério das Relações Exteriores em um comunicado.
A pasta mencionou em particular "tanques, aviões de combate, veículos armados, artilharia de longo alcance, material antiaéreo e equipamento de defesa antimísseis".