Rússia deflagra maior ofensiva contra Ucrânia desde o início da guerra em fevereiroAFP

Moscou - O presidente da Rússia, Vladimir Putin, confirmou nesta segunda-feira, 10, que a série de bombardeios coordenados e letais em várias cidades da Ucrânia, incluindo a capital do país, Kiev, foi em retaliação a um ataque de sábado, 8, que destruiu parcialmente a ponte do Estreito de Kerch, que liga o território russo à Península da Crimeia, considerado um valioso ativo logístico do Kremlin na guerra.
"Ataques maciços com armas de alta precisão de longo alcance foram realizados contra a infraestrutura de energia, militar e de comunicações da Ucrânia", disse Putin no início do Conselho de Segurança.
Trata-se da maior ofensiva na Ucrânia em meses. Os ataques deixaram pelo menos 11 mortos e 60 feridos. A manobra coincide com uma reunião do Conselho de Segurança convocada por Putin após a explosão na ponte de Kerch.
O Exército ucraniano informou que as forças russas dispararam 75 mísseis contra cidades de todo país, em uma série de ataques que incluíram o uso de drones iranianos lançados de Belarus. O último bombardeio contra a capital ucraniana remonta ao final de junho.
O chefe do Kremlin prometeu respostas "severas" em caso de novos ataques. Já o número dois do Conselho de Segurança, o ex-presidente Dmitri Medvedev, assegurou que os bombardeiros eram "o primeiro episódio" e exigiu o "desmantelamento total" do poder político ucraniano.
Ao mesmo tempo, o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, aliado próximo de Putin, acusou a Ucrânia de preparar um ataque contra seu país e, por isso, anunciou o envio de tropas conjuntas com a Rússia.
Em um discurso à nação, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que a manhã foi "difícil" e explicou que as forças russas tinham dois objetivos com seus bombardeios.
"Querem o pânico e o caos e querem destruir nosso sistema de energia", afirmou o presidente, anunciando que as bombas russas atingiram cidades como Dnipro e Zaporizhzhia, no centro do país, e Lviv, no oeste.
"O segundo alvo são as pessoas", denunciou, acusando o Exército russo de lançar os ataques com o objetivo de "causar o máximo de dano possível".
O Ministério russo da Defesa confirmou ter mirado nas infraestruturas energética, militar e de comunicações da Ucrânia e disse que os ataques "atingiram seus alvos".
O ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, considerou, por sua vez, que Putin está "desesperado, em função das derrotas no campo de batalha".
Por isso, acrescentou, usa "o terrorismo dos mísseis para tentar mudar o ritmo da guerra a seu favor".
"Estávamos dormindo quando ouvimos a primeira explosão. Acordamos, fomos ver o que estava acontecendo e então aconteceu a segunda explosão", relatou à AFP Ksenia Ryazantseva, uma professora de idiomas de 39 anos.
"Não entendíamos o que estava acontecendo (...) bem, estamos em guerra", acrescentou.
Zelensky afirmou que conversou com os líderes da Alemanha e da França e exortou-os a "aumentar a pressão" sobre a Rússia.
"Conversamos sobre o fortalecimento de nossa defesa aérea, da necessidade de uma forte reação europeia e internacional, bem como o aumento da pressão sobre a Federação Russa", escreveu Zelensky no Twitter.
Os líderes do G7 vão discutir na terça a situação na Ucrânia, segundo Berlim.
A União Europeia considerou os ataques russos contra civis são "crimes de guerra", cujos responsáveis "devem prestar contas", de acordo com Peter Stano, porta-voz do chefe da diplomacia europeia, Josep Borrel.
"Trata-se de uma nova escalada que é absolutamente inaceitável (...) esses ataques bárbaros mostram que a Rússia opta por uma tática de bombardeios cegos contra civis", declarou Stano.
O Reino Unido chamou os ataques de "inaceitáveis", e a França, que considerou um "crime de guerra", prometeu aumentar a ajuda militar a Kiev.
O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Jens Stoltenberg, também condenou os "horríveis e indiscriminados" ataques.
Em Kiev, a polícia disse que pelo menos cinco pessoas foram mortas e uma dúzia de outras ficaram feridas.
As autoridades ucranianas apontaram que o bairro central de Shevkenko da capital foi atingido e uma universidade, museus e o prédio da filarmônica foram danificados.
Um jornalista da AFP que estava na cidade relatou que um dos projéteis caiu perto de um parquinho infantil e que fumaça saía de uma grande cratera.
Vídeos postados nas redes sociais mostravam colunas de fumaça preta sobre várias áreas da capital.
Em grande parte poupada dos combates até o momento, Lviv também foi bombardeada. Parte da cidade ficou sem eletricidade e água quente, segundo o prefeito Andriy Sadovyi.
A Moldávia disse nesta segunda-feira que mísseis de cruzeiro russos lançados contra a Ucrânia entraram em seu espaço aéreo e convocou o representante de Moscou para explicações.
No domingo, Putin acusou os serviços secretos ucranianos de terem causado a poderosa explosão que no sábado destruiu parcialmente a ponte que liga a Rússia continental à península da Crimeia anexada em 2014, chamando o incidente de "ato terrorista".
O tráfego de trens e carros foi interrompido por várias horas após o incidente, que deixou três mortos e foi atribuído a um caminhão-bomba.
A explosão na ponte, inaugurada por Putin em 2018 e símbolo da anexação da Crimeia, foi vista como mais um revés para a Rússia, que perdeu terreno na Ucrânia nas últimas semanas.
O Exército ucraniano e os serviços especiais de Kiev (SBU) não confirmaram nem negaram seu envolvimento na explosão, e Zelensky apenas ironizou em um vídeo que o tempo estava "nublado" na Crimeia no sábado, uma provável referência à fumaça do incêndio.