Christine LagardeDaniel ROLAND / AFP

O Banco Central Europeu (BCE) voltou a aumentar, nesta quinta-feira (27), suas taxas de juros, dando prioridade absoluta ao combate à inflação, apesar dos riscos de recessão econômica. Os 25 governadores do banco emissor europeu concordaram em aumentar suas taxas de referência em 0,75 ponto percentual, levando-as a uma faixa de 1,5% a 2,25%.
Este é o terceiro aumento consecutivo desde julho, em um processo alinhado com a política de outros bancos centrais. A presidente do BCE, Christine Lagarde, também abriu as portas para novos aumentos.
"Teremos mais aumentos no futuro, então o processo de normalização continua", afirmou.
Esse aumento já era esperado pelos mercados. O BCE está sob forte pressão para conter a inflação recorde, causada pelo aumento dos preços dos alimentos e especialmente da energia desde a invasão russa da Ucrânia.
O aumento dos preços na zona do euro, composta por 19 países, atingiu 10% em setembro em relação ao ano anterior, cinco vezes mais do que a meta do BCE de 2% ao ano. O banco explicou que outros fatores reforçaram a subida dos preços, como "problemas na cadeia de abastecimento e da demanda na recuperação após a pandemia".
Lagarde afirmou que a subida dos preços poderá ser "maior que o esperado" nos próximos meses e admitiu que "a probabilidade de recessão está cada vez mais no horizonte". De fato, o aumento das taxas, principal ferramenta usada pelos bancos centrais para conter a alta dos preços, encarece o crédito ao consumo e ao investimento. No entanto, Lagarde defendeu a medida.
"A decisão que tomamos hoje é a mais adequada para restaurar a estabilidade dos preços, que também é fundamental para que a economia prospere e se recupere", afirmou.
A invasão russa da Ucrânia levou Moscou a reduzir suas exportações de gás para a Europa e alimentou temores de escassez e contas mais caras para os consumidores no inverno europeu. Se a Rússia cortar permanentemente suas entregas de gás para a Europa, a economia da zona do euro poderá contrair 1% em 2023, alertou o vice-presidente do BCE, Luis de Guindos.
Taxas e juros
O aumento das taxas também eleva os juros das dívidas públicas. É por isso que muitos governos europeus, que despejam bilhões de euros para sustentar o poder de compra da população e a atividade das empresas, nem sempre veem com bons olhos o endurecimento da política monetária.
A nova chefe de governo da Itália, Giorgia Meloni, destacou o "risco" que essas decisões representam "para Estados-membros com uma dívida pública alta". Já o presidente francês, Emmanuel Macron, pediu que se evite "quebrar a demanda" em prol do combate à inflação.
Mas Lagarde pediu prudência com os gastos.
"Os governos devem aplicar políticas fiscais que demonstrem seu compromisso de reduzir gradualmente os altos níveis da dívida pública", enfatizou.
Uma questão para os mercados é a redução do saldo de ativos do BCE, que atingiu 5 trilhões de euros em títulos graças aos seus programas de compra de ativos para apoiar a atividade econômica. De acordo com Lagarde, a entidade vai determinar em sua próxima reunião em dezembro os "princípios-chave" para cortar sua carteira.
O emissor europeu anunciou em particular que vai endurecer as condições de concessão de empréstimos vantajosos aos bancos, aumentando as taxas e oferecendo "datas extras para reembolso antecipado voluntário".
"Dada a inesperada e excepcional aceleração da inflação", o dispositivo de empréstimos (TLTRO na sigla em inglês) precisa ser "recalibrado", disse o BCE.