Este arquivo de corte feito em 10 de outubro de 2022, retrata o ex-comandante regional do Movimento de Libertação Unida da Libéria pela Democracia BENOIT PEYRUCQ / AFP
Acusação pede prisão perpétua para ex-rebelde da Libéria por crimes contra humanidade
Ex-comandante do Movimento de Libertação Unido pela Democracia na Libéria é acusado de participação na morte de civis, assassinato e canibalismo
A acusação do primeiro julgamento na França por crimes contra a humanidade durante a guerra civil na Libéria na década de 1990 pediu, nesta segunda-feira (31), prisão perpétua para o ex-comandante rebelde Kunti Kamara.
"Os crimes, pelos quais é responsabilizado, são os mais graves existentes. Destruíram vidas, e sua gravidade atenta contra toda humanidade", afirmou a procuradora Aurélie Belliot, pedindo ao Tribunal Penal de Paris a condenação por toda vida - a pena máxima possível no direito francês - ao acusado.
O ex-comandante do Movimento de Libertação Unido pela Democracia na Libéria (Ulimo, sigla em inglês), de 47 anos, está sendo julgado por abusos cometidos no noroeste da Libéria durante a primeira guerra civil (1989-1997).
Ele é acusado de "prática maciça e sistemática de atos desumanos", cometidos contra civis e "por motivos políticos e étnicos". Entre eles, estão facilitar o estupro de adolescentes, participação na morte de dois civis, deslocamentos forçados da população e um assassinato com canibalismo.
Conhecido por suas vítimas como "CO Kundi", Kamara foi detido perto de Paris em 2018 e está sendo processado sob a "jurisdição universal" da França. Isso permite julgar crimes contra a humanidade, independentemente de onde forem cometidos, desde que o suspeito tenha sido detido em seu território.
A acusação indicou os abusos cometidos pela milícia Ulimo na região noroeste da Libéria, onde se impôs em sua luta contra o temido Charles Taylor - condenado no Reino Unido por crimes similares em Serra Leoa: execuções públicas, corações arrancados, distribuição de carne humana, intestinos para delimitar os "checkpoints" militares... "O terror como forma de governo", resumiu Belliot.
O sentido deste julgamento é "a luta contra a impunidade pelos crimes mais graves já cometidos", afirmou a procuradora Claire Thouault, recordando que a Libéria nunca julgou os crimes cometidos durante duas guerras civis que dizimaram o país e causaram a morte de 250 mil pessoas, em torno de 10% de sua população na época.
A sentença deve ser proferida na próxima quarta-feira.