Imagem retirada de um vídeo que mostra protestantes da oposição nas ruasUGC / AFP

O Irã voltou a bombardear grupos de oposição curdos na região do Curdistão iraquiano, causando a morte de um combatente de um dos grupos dissidentes que Teerã acusa de alimentar as manifestações que abalam a República Islâmica.
Esses ataques com mísseis e drones realizados na noite de domingo para segunda-feira pela Guarda Revolucionária, braço ideológico do regime islâmico do Irã, ocorrem uma semana depois de uma onda de ações lançadas contra grupos de oposição instalados há décadas na região autônoma do Curdistão, no norte do Iraque.
Nesta segunda-feira, o governo iraquiano afirmou rejeitar que o seu país se converta em um "território de batalhas ou de ajuste de contas", e o governo autônomo do Curdistão condenou "as reiteradas violações por parte do Irã" da soberania do Iraque.
O Partido Democrático do Curdistão Iraniano (PDKI) e o grupo nacionalista curdo iraniano Komala confirmaram os bombardeios que atingiram suas instalações nesta região autônoma do norte do Iraque. Os ataques foram reivindicados pelo Exército dos Guardiões da Revolução.
"As bases de treinamento de grupos terroristas separatistas anti-iranianos" foram alvos de "uma série de ataques com mísseis e drones por parte de uma unidade terrestre dos Guardiões da Revolução", informou a força militar ideológica iraniana.
O PDKI confirmou que foi alvo de ataques com "mísseis e drones kamikaze" em Koya e em Jejnikan, perto de Erbil, a capital regional do Curdistão.
"Estes ataques cegos ocorrem em um momento no qual o regime terrorista iraniano não consegue deter as manifestações em curso no Curdistão" do Irã, criticou o PDKI, o partido curdo mais antigo do país, fundado em 1945.
Em 14 de novembro, a República Islâmica disparou mísseis e atacou com drones posições de grupos curdos localizadas no Iraque, deixando um morto e oito feridos.
Protesto e oposição
Teerã acusa esses grupos de oposição, que há tempos estão em sua mira, de instigar os problemas no país. O Irã enfrenta uma onda de manifestações desde a morte, em 16 de setembro, da jovem curda Mahsa Amini sob custódia da polícia da moralidade.
No passado, autoridades iranianas pediram a seus pares em Bagdá e Erbil que neutralizassem esses grupos de oposição instalados no país vizinho desde os anos 1980 e considerados "terroristas" por Teerã.
Após uma longa insurreição armada, esses grupos paralisaram quase completamente suas atividades militares, segundo especialistas.
Posicionamento internacional
O comando militar dos Estados Unidos para o Oriente Médio (Centcom) condenou, em um comunicado, os "ataques transfronteiriços iranianos" com drones e mísseis perto de Erbil.
"Esses ataques indiscriminados e ilegais colocam em risco os civis e violam a soberania iraquiana, e colocam em risco a segurança e a estabilidade [...] do Iraque e do Oriente Médio", acrescentou o Centcom na nota.
"Os ataques reiterados, as violações da soberania iraquiana, devem cessar", denunciou, por sua vez, a missão da ONU no Iraque em uma publicação no Twitter.
Os movimentos curdos não estão apenas na mira de Teerã. No sábado, a Turquia lançou ataques aéreos contra posições dos rebeldes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) na Síria e no Iraque.
"É um fracasso tanto de Bagdá quanto de Erbil permitir que seu território seja tão vulnerável a ataques estrangeiros", comentou o cientista político iraquiano-canadense Hamzeh Hadad no Twitter.