"Foi a pessoa adequada no momento certo, com a temática correta, o discurso correto, ou melhor dizendo, o contradiscurso correto", resume à AFP Sylvain Delouvée, psicólogo e sociólogo da Universidade Rennes-2, especialista em teorias da conspiração.
Em um contexto como o da crise da COVID-19, "as vozes que se elevam para dizer que têm ou pretendem ter uma solução primeiro atraem a atenção e depois uma magnanimidade espontânea, como a provocada por um salvador", afirma o cientista político Jérôme Fourquet, do instituto francês de opinião pública Ifop.
A popularidade de Raoult também se deve a seu posicionamento, "que corresponde a uma linha divisória na sociedade francesa", indica Fourquet à AFP: "O antissistema que se opõe aos apparatchiks, tecnocratas (...), o senso comum e o pragmatismo ante construções intelectuais".
A atração também é provocada por seu aspecto, ressalta Sylvain Delouvée. "O cabelo comprido, a forma de falar... mostram que 'ele é capaz de superar as normas, não permanece preso, não usa terno e gravata, portanto está claro que não permite ser comprado'".
'Orgulho local'
No Facebook foram criados muitos grupos de apoio a Raoult, alguns com centenas de milhares de integrantes.
Na "vida real", o especialista em doenças infecciosas, de barba e cabelo comprido branco, também seduz, em particular aqueles que se declaram "antissistema", desde os líderes do 'Rassemblement National' (extrema-direita) até o líder do partido França Insubmissa (esquerda radical) Jean-Luc Mélenchon, passando pelo presidente americano Donald Trump ou o brasileiro Jair Bolsonaro, e até o filósofo francês Michel Onfray, que o recrutou para sua nova revista Frente Popular.
Nas redes sociais, os "pró" e os "anti" discutem a cada nova publicação sobre o trabalho do diretor do Instituto Hospitalar Universitário (IHU) Méditerranée Infection.
"A França se separou de acordo com linhas divisórias preexistentes, cada uma rapidamente reconheceu seu lado", enfatiza Jérôme Fourquet.
'Desconfiança secular'
Ele é populista? Não necessariamente, declara Fourquet: "Ele faz uso disso, mas não segue exatamente este discurso, embora muitos dos que o apoiam estejam neste grupo".
O médico considera que não transmite a imagem correta: "Imagino que há tolos que me veem de maneira caricatural, mas, sabe, venho de uma família na qual sou a quarta geração de oficial da Legião de Honra. Não sou um bandido (...) estou a serviço deste país", declarou o professor ao canal LCI na terça-feira.
Ao ser questionado se é "antielite" pela revista L'Express, respondeu que é "grande elitista", mas crítico do "declínio parisiense", um microcosmos "desconectado" que o recorda da corte de Versalhes no século XVIII, de acordo com suas declarações a LCI, que registrou recorde audiência com a entrevista.
O cientista não cogita um futuro político: "Não me considero um herói, nem Jesus Cristo. (...) Acredito que faço muito bem o que faço, não tenho vontade de mudar".