Por clarissa.sardenberg
Mianmar - A foto de um bebê morto às margens do rio Naf, em Mianmar, na Birmânia, após um naufrágio provocou comoção ao redor do mundo em mais um triste episódio envolvendo refugiados. Mohammed Shohayet, de 16 meses, aparece com o rosto na lama, na fronteira de Bangladesh, no sul da Ásia, para onde sua família tentava escapar. O pai da criança, Zafor Alam, foi o único sobrevivente da família da etnia Rohingya — uma das minorias muçulmanas mais perseguidas no mundo e considerada ilegal no país. No naufrágio morreram a mãe, o irmão de 3 anos e um tio. 

Em entrevista à emissora "CNN", o pai desabafou: "O mundo tem que prestar atenção agora. Quando vejo essa foto tenho vontade de morrer. Não há motivos para continuar vivendo nesse mundo", disse.

Imagem de bebê morto em Mianmar comoveu internautas Reprodução/Facebook/Ro Sadak

Desde outubro de 2016, 50 mil muçulmanos rohingyas fugiram de Mianmar para tentar escapar dos militares birmaneses. Ao chegar em Bangladesh, a minoria conta que o exército da Birmânia pratica com eles torturas, estupros coletivos e assassinatos.

"No meu vilarejo, helicópteros disparavam armas contra nós e os soldados também. Meus avós foram queimados vivos. Toda nossa vila foi queimada pelos militares. Não restou nada", contou Zafor. "Quero que todos saibam, o governo de Mianmar vai matar todos os Rohingya se for lhe dado mais tempo", completou.

O governo birmanês nega as acusações, mas não se explica e sua reação foi chamada, em dezembro do ano passado, de "contraproducente e insensível" pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein.

A morte do pequeno Mohammed lembrou a do menino sírio Aylan Kurdi, de 3 anos, encontrado em uma praia turca em 2015 depois de um naufrágio. A família da criança também fugia em busca de uma vida melhor e o pai foi o único sobrevivente. A tragédia provocou debate sobre a crise migratória na Europa.