Por adriano.araujo, adriano.araujo
Rio = No Jardim Primavera, em Duque de Caxias, ele passou a agir como se fosse a personificação da Justiça, diz a polícia. Denilson Silva Pessanha, o ex-vereador Maninho do Posto (PMDB), é acusado de investigar, julgar e condenar por conta própria quem ele acreditava que tinha envolvimento em um roubo ao seu posto de combustível, em novembro passado. A pena a um dos quatro ‘condenados’ pode ter sido a morte.
Polícia procura Maninho Reprodução

No dia 16 de janeiro, a Justiça expediu mandado de prisão preventiva do ex-vereador, acusado de cometer os crimes de agressão, tortura e tentativa de homicídio qualificado. Foragido, ele também é apontado pela polícia como suspeito de ser o mandante do assassinato de Danilo Batista de Salles, de 19 anos, executado com três tiros na boca na noite de 15 de janeiro, em frente à casa onde morava, na Rua José Maia, no Jardim Primavera.

O caso está sendo investigado pela 60ª DP (Campos Elíseos). “Vamos apurar, para ver se existe relação entre a morte e a tentativa de o ex-vereador de fazer justiça por conta própria. De vítima de um roubo, ele quis virar justiceiro”, disse o delegado Hilton Alonso.
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Dois meses antes de morrer, Danilo, que era funcionário do posto, disse, em depoimento, ter sido agredido a socos e pontapés por 20 minutos no escritório de Maninho, que desconfiou de envolvimento num roubo. Ele acusou o ex-vereador de ter apontado uma arma para a sua cabeça e dito:
“Já que você não vai me dar o dinheiro, eu vou te matar.” Depois de despedido, Danilo foi ao Hospital Adão Pereira Nunes, em Saracuruna, e registrou ocorrência de agressão.
O ex-vereador também é acusado de ter atirado em um rapaz que morava a 200 metros do seu posto no dia 11 de novembro. A vítima, que tinha 17 anos, foi atingida por um tiro no pé direito e só escapou da morte porque pulou o muro de casa, buscando refúgio no imóvel de um amigo. No mesmo dia, outros dois amigos dele disseram ter sido algemados e torturados por Maninho no alto de um morro.
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A série de ataques a suspeitos começou depois que dois homens armados invadiram o posto em uma moto e levaram o dinheiro do cofre. Em meio à ação, agrediram uma funcionária e o pai do ex-vereador. O crime foi registrado por câmeras de segurança, mas negado veementemente pelo ex-vereador.
Ele não só omitiu o episódio das autoridades ao não registrar ocorrência, como negou o roubo ao posto, em depoimento dado após ser acusado de agredir Danilo. Sua foi derrubada pelos depoimentos do gerente do posto e da própria enteada, que confirmaram o roubo e o registro das imagens em vídeo.
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Depois de atentado a tiro, pertences foram roubados
?Quando foi chamado a prestar depoimento, Maninho chegou a dizer que ‘tinha amigos policiais civis e militares’, o que poderia sugerir uma tentativa de intimidação. Em depoimento à 60ª DP, o irmão do rapaz baleado no pé direito disse que dois capacetes, um relógio, dois cordões e um anel foram roubados da casa onde o irmão estava quando foi baleado.
Ele disse ainda ter conversado com o ex-vereador depois do episódio, e que, na ocasião, Maninho teria dito que iria “correr atrás do prejuízo.”
O posto de Denilson Silva Pessanha%2C o Maninho do Posto%2C no Jardim Primavera%2C em Duque de Caxias%2C foi assaltado%2C mas dono não fez registroSeverino Silva / Agência O Dia

O irmão e um primo dessa mesma vítima disseram, em depoimento, que o ex-vereador invadiu a casa da família, pouco depois de o jovem ter sido baleado, com dois homens que usavam distintivos no pescoço e chegaram numa viatura da Polícia Civil.

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Familiares contaram que a casa foi revirada, já que eles disseram estar à procura do dinheiro roubado no posto. Como o roubo não foi registrado na delegacia, os depoimentos foram encaminhados à Corregedoria da Polícia Civil.
O rapaz baleado no pé disse ter visto Maninho no quintal da sua casa. Segundo ele, com uma arma apontada na sua direção, o ex-vereador gritou: “Não corre!”. O jovem disse que só notou ter sido atingido quando pulou o muro e sentiu o pé dormente. Depois disso, ele passou a mudar de endereço, pois está com medo de ser assassinado.
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Um primo desse jovem disse ter visto as filmagens do roubo ao posto de combustíveis. Segundo ele, não é possível identificar os criminosos, que usavam capacetes e jaquetas.
Os outros dois jovens que teriam sido levados ao alto de morro e torturados disseram que foram obrigados a ligar para um amigo. Em meio à conversa, acusaram Maninho de fazer um disparo perto do telefone, depois de dizer que iria matá-los, caso o dinheiro do roubo não aparecesse. “Eu não estou de brincadeira. Vou matar os dois”, teria dito Maninho.
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Agressões com câmeras desligadas
Danilo Batista de Salles foi agredido na noite de 14 de novembro do ano passado, após ser chamado pelo gerente ao posto onde trabalhava como lavador de carros. Ao chegar lá, foi levado ao escritório. Maninho o esperava com outro homem.
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Com as câmeras do circuito interno desligadas, Maninho começou a agredi-lo, exigindo que ele devolvesse o dinheiro roubado. Diante da negativa de envolvimento no crime, o empresário ordenou que o homem ao seu lado buscasse a pistola, guardada no carro.
Ele foi morto dois meses depois, na frente da companheira, grávida de sete meses. Segundo ela, três homens armados ordenaram que ela entrasse em casa. Em seguida, Danilo foi executado. Entretanto, ela não identificou os bandidos. “Pensei que fosse só assalto”, disse a mulher, em depoimento na quinta-feira.
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Maninho também já foi acusado de ameaçar outros dois vereadores de Duque de Caxias, em meio ao período eleitoral. Uma das ameaças teria sido feita via mensagem de celular. Porém, a acusação não foi comprovada.
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