Rio - O único laboratório responsável por realizar exames de alta complexidade em pacientes com linfoma e leucemia, o Centro de Transplante de Medula Óssea do Instituto Nacional do Câncer (Inca), suspendeu, na quarta-feira, o recebimento de novos pedidos externos de diagnóstico. O fim do serviço atinge 12 hospitais públicos do Rio, inclusive os federais, que não têm outra opção para encaminhar seus pacientes dentro do Sistema Único de Saúde.
A notícia do rompimento com a rede pública chegou aos hematologistas dos hospitais que utilizam o serviço, através de um e-mail assinado pela própria chefia da divisão de laboratórios do Inca. No documento, o órgão afirma que não receberá novos pedidos por tempo indeterminado, devido ao “corte de 30% no orçamento destinado ao Ministério da Saúde e à falta de reagentes e insumos no Setor de Suprimentos do Instituto.”
Apesar do e-mail institucional, a direção do Inca negou o corte de verbas e, após o pedido de esclarecimento do DIA, voltou atrás na suspensão por tempo indeterminado, estabelecendo o prazo de normalização do serviço para a próxima quarta-feira.

De acordo com o Instituto, o motivo da paralisação do serviço para pacientes de fora se deu em função dos prazos para conclusão dos processos licitatórios para a compra de materiais. “Sem esse laboratório não temos outra opção para mandar nossos pacientes. O tratamento e o diagnóstico da leucemia, por exemplo, dependem desses exames”, apontou um médico federal, que preferiu não se identificar.
Três exames essenciais para o acompanhamento de linfoma, leucemia e suporte no transplante de medula óssea: o imunofenotipagem, citogenética e biologia molecular foram cortados do laboratório para pacientes externos. Apenas os usuários do Inca continuarão a realizar os exames na unidade. Projetos em colaboração com financiamento próprio e compra de todos os insumos também serão aceitos.
O Centro de Transplante de Medula Óssea foi criado em 1989. Em 2007, 5 mil exames eram realizados na unidade, mas nos últimos anos, a demanda aumentou consideravelmente. No ano passado, 55 mil testes foram feitos. Destes, aproximadamente 40% foram realizados para pacientes de outras instituições. No mês passado, a parcela de atendimento a pacientes de fora do Inca chegou a 55%.
De acordo com outro profissional da rede federal, que não quis se identificar, o Hemorio e o hospital da UFRJ têm laboratórios para realizar estes procedimentos, mas não fazem por falta de verba. “Eles não conseguem dar conta nem dos próprios pacientes e também mandam para o Inca.”
Apreensão de quem precisa
Na rede privada, cada exame que deixou de ser realizado pelo Inca para pacientes externos custa em média R$ 1 mil, segundo a hematologista Sandra Loggetto, da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia. “É tudo muito caro e não tem como um paciente bancar isso do bolso”, informou. Um portador de leucemia, por exemplo, precisa realizar o mesmo procedimento a cada quatro meses para acompanhamento.
Diagnosticado com leucemia há nove anos, o aposentado Flávio Cassis, de 65 anos, está apreensivo. “Estava no meio de um diagnóstico complexo da doença. O Inca só liberou resultado parcial e agora deve atrasar tudo”, desabafou Flávio, que se trata no Hospital Federal da Lagoa. Além dele, o Hospital de Bonsucesso, Servidores, Ipanema, Marcílio Dias, Hemorio, Clementino Fraga Filho, Pedro Ernesto, Fiocruz, Antônio Pedro e os hospitais da PM e da Força Aérea do Galeão integram a lista das unidades que tiveram os exames suspensos.