Por paulo.gomes
Rio - Dos 13 integrantes da quadrilha que ‘assaltou’ R$ 17,7 milhões dos cofres da Prefeitura de Magé, quatro têm o mesmo sobrenome: Cozzolino. Com familiares que sempre ocuparam cargos nos poderes Executivo e Legislativo do município desde 1986, os membros do clã político e seus aliados foram denunciados à Justiça pelo Ministério Público por envolvimento em fraude em contrato de licitação em 2010 para o fornecimento de veículos.
Na sexta-feira, o ex-prefeito Rozan Gomes da Silva foi preso na Operação Terra Prometida, comandada por promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP. Outro ex-prefeito e ex-presidente da Câmara de Vereadores, Anderson Cozzolino, está foragido. São procurados ainda a irmã do ex-prefeito Anderson Cozzolino, Jane Cozzolino — deputada estadual cassada em 2008 e à época, secretária de Educação —, o ex-secretário de Obras de Magé, Jefferson de Oliveira, e Fábio Figueiredo de Morais, sócio da FFM Terra Locadora de Veículos e Máquinas.
Entenda como funcionava o esquema fraudulento na Prefeitura de MagéArte%3A O Dia

Para alavancar o esquema, integrantes da família montavam empresas de fachada e usavam funcionários de um dos seus quatro postos de gasolina como ‘laranjas’. A roubalheira dos cofres públicos deixou um rastro de sangue. Peça-chave para desfecho do caso, o comerciante Yacemir de Oliveira Fernandes, de 34 anos, foi executado com tiro de fuzil em 29 de dezembro de 2010 — 40 dias depois de prestar depoimento ao MP. A Polícia Civil apura o crime.

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Rozan Gomes da Silva é acusado de comprar dois apartamentos no Recreio, Zona Oeste do Rio, com parte do dinheiro desviado da prefeitura. Vinte e seis mandados de busca e apreensão foram cumpridos ontem. Em um único endereço foram apreendidos R$ 50 mil. Com capital de R$ 100 mil e 17 empregados, a empresa foi criada pelo grupo, segundo o MP, para abocanhar boa parte do contrato de R$ 22,3 milhões com a prefeitura. A FFM forneceria 121 máquinas e caminhões — dois quais 20 tinham placas de carros, um deles roubado — e motos. “O valor embolsado pode ter sido maior, já que a prefeitura deixou de fornecer dois documentos fiscais”, disse a promotora Julia Jardim.
Para tentar ‘limpar’ o dinheiro, os irmãos Anderson e Jane tinham 162 contas-correntes, nove contas-poupança e 84 de investimento em único banco. Segundo a Polícia Federal, no período das fraudes, Anderson viajou 12 vezes ao Uruguai, conhecido como paraíso fiscal. Fernando Mello Abrahão, então procurador da Câmara, fez oito viagens ao país.
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Funcionários eram vítimas de coação

Aterrorizar as testemunhas era uma das estratégias da quadrilha. Em novembro de 2010, promotores do Gaeco conseguiram filmar, em um bar da Praia de Mauá, o ex-prefeito Anderson Cozzolino, o ex-secretário Jefferson de Oliveira, e o empresário Fábio Figueiredo Moraes, coagindo dois então funcionários da Secretaria de Obras a mudar o depoimento sobre as fraudes ao MP.

Rozan Gomes (pólo azul e amarela) foi preso em cumprimento a mandado de prisão. Denúncia do MP aponta fraudes em licitações durante sua gestão na prefeitura de MagéSeverino Silva / Agência O Dia

A dupla era responsável por dar falsos atestados sobre a necessidade de utilização do maquinário contratado pela prefeitura. Outros colaboradores das investigações, um deles ex-vereador, revelaram medo de ser assassinados. Eles acusaram ainda o grupo de estar aliado à ex-prefeita Núbia Cozzolino. Ela deixou o cargo por ordem da justiça, sob a acusação de fraude em folha de pagamento. O então vice-prefeito Rozan Gomes assumiu o posto. Em janeiro de 2011, ele pediu licença e o município ficou sob o comando do então presidente da Câmara, Anderson Cozzolino.

O grupo responde por fraude em licitação, peculato, corrupção ativa, coação, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Caso condenados, Rozan poderá cumprir pena de 19 anos de prisão. Já Anderson e Fábio punidos com 45 anos de prisão, enquanto Jefferson responderia a 31 anos.