Por adriano.araujo, adriano.araujo
Rio - Um vídeo que circula nas redes sociais mostra três jovens sendo agredidos por homens que seriam seguranças da Saara, no Centro do Rio, está causando revolta e indignação. Os grafiteiros, que foram confundidos com pichadores, têm os seus rostos e corpos pintados com tintas spray e apanham com barras de ferro. A Polícia Civil abriu uma investigação e tenta identificar os agressores.
O vídeo, feito na última quinta-feira e que dura quase três minutos, é ameaça e agressões do início ao fim. Os homens, que usam coletes preto, agridem e ameaçam os jovens a todo momento. Os três estão no chão só de cueca e com o corpo completamente pintado de branco. "Deita aí, esfrega na tinta. Vambora, seu vacilão (sic)" grita, enquanto pintam ainda mais o rosto dos jovens com tinta vermelha.

Os jovens são ameaçados ao tentarem olhar para os autores do crime. "Se olhar para mim vou estourar a tua cara. Está com muita bronca olhando para a minha cara", diz um deles. A sessão de espancamento e ameaças parece não ter fim. "Cade 05, cadê a barra de ferro, 05, p.... Me dá a barra de ferro que eu já sujei o meu tênis todo nessa p...", reclama um dos agressores.

O trio, segundo relatos nas redes sociais, voltava de um evento de grafite em Santa Teresa e seguiam para a Central do Brasil quando foram abordados pelos seguranças. "Gosta de pichar, não gosta?", grita um deles, enquanto os agride. Um dos jovens implora pelo fim das agressões. "Por favor, cara, tenho família". "Eu também tenho família, p..., estou aqui pra sustentar minha família, p...", responde um dos agressores

Jovens tiveram corpos pintados com tintas spray e foram agredidos com barra de ferroReprodução Vídeo

No final do vídeo, eles dão um recado aos três. "Fala pros parceiros de vocês que falam que é grafiteiro, grafiteiro é o c..., se passar dentro do Saara o cerol vai pegar. (...) vai grafitar na casa do c... (sic)", sentenciam, obrigando eles a repetirem a frase "Nunca mais quero saber do Saara. Não passo no Saara para fazer a minha arte".

O presidente do Pólo Centro Rio, Denys Darzi, que representa comerciantes mais tradicionais da Saara, lamentou o episódio. "Me deixou muito triste, isto é uma barbárie, lamentável que isso tenha acontecido", falou.

Entretanto, ele afirmou que não responde pela atuação dos seguranças. "Não tem a nada a ver conosco. Isso é da competência do grupo deles", disse, se referindo à Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega (Saara). "Tivemos uma reunião com o chefe da Policia Civil, Fernando Veloso, para pedir para apurar esse tipo de serviço que é prestado por esses seguranças. Não podemos compactuar com isso", disse. Após o episódio, ele informou que reforçaria o pedido ao chefe da Polícia Civil.

Segundo Darzi, o mandato do presidente da Saara acabou desde novembro de 2011, entretanto eles continuam atuando na região. Já o Pólo Centro Rio foi fundado em 2013 através de um decreto municipal e, segundo o seu presidente, assumiu funções administrativas, como corredor cultural, necessidades dos lojistas e melhorias para a região junto à prefeitura. "Quem responde pelos lojistas hoje somos nós, desde 2013." 

A 4ª DP (Praça da República) abriu um procedimento para apurar o caso. Como não foi registrado pelas vítimas, a delegacia tenta localizar os jovens grafiteiros e os agressores para que eles prestem depoimento. O vídeo que mostra as agressões está sendo analisando para identificar os autores. Agentes vão realizar diligências em busca de testemunhas que possam ajudar no caso.

O arte do grafite é permitida, por lei, desde que em lugares autorizados, no município do Rio desde 2013.