A destituição de uma presidenta eleita por 54 milhões de votos, sem demonstração de prática de crime, não foi tratada como atentado à democracia
Por thiago.antunes
Rio - Quem analisa as grandes civilizações por vezes se pergunta como coisas tão grandiosas foram construídas. Os Jardins Suspensos da Babilônia, as construções gregas e romanas, as Pirâmides do Egito e os monumentos dos Incas, Maias e Astecas nos mostram do que povos da antiguidade foram capazes.
Mas tais monumentos nos fazem indagar sobre os hiatos civilizatórios existentes entre algumas épocas. E a resposta talvez seja que de vez em quando a humanidade revisita a barbárie.
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A Revolução Francesa de 1789 editou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e foi o prenúncio de um período de ouro na história da humanidade. Mas o século 20 conheceu o nazismo, que queria ‘embelezar o mundo’ destruindo tudo e todos que não fossem compatíveis com seu ideário de belo, e as maiores atrocidades foram cometidas contra seres humanos.
No pós-guerra, foi editada a Declaração dos Direitos Humanos pela ONU, que incluía homens e mulheres; outras declarações foram posteriormente proclamadas, buscando a extensão de direitos econômicos e sociais.
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No presente momento, presenciamos retrocessos nos direitos individuais e sociais. Talvez estejamos revisitando a barbárie, e isto só é possível diante da naturalização de tais práticas, o que nos retira a capacidade de indignação. Degolas de dezenas de presos não causa indignação em amplos setores da sociedade. Ao contrário, as aplaudem.
A destituição de uma presidenta eleita por 54 milhões de votos, sem demonstração de prática de crime, não foi tratada como atentado à democracia.
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O Brasil deixou de se construir como potência no ciclo da cana, no ciclo do ouro e no ciclo do café; agora, quando dispõe de imensas reservas petrolíferas que movem o mundo, está entregando suas riquezas aos abutres que levaram o presidente Getúlio Vargas ao suicídio e perdendo a capacidade de se construir como lar coletivo para as gerações futuras.
Que os vendilhões das riquezas nacionais o façam, considerando seus interesses pessoais, não é de se estranhar num país marcado pelo patrimonialismo. Estranha é a falta de reação da sociedade.
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Não só riquezas naturais estão sendo retiradas do alcance dos brasileiros. O sucateamento das universidades públicas é também meio de cercear o povo do acesso a bens culturalmente produzidos e busca de seu extermínio.
João Batista Damasceno é doutor em Ciência Política e juiz de Direito