Por thiago.antunes
Rio - Na última segunda-feira, policiais civis de diversas categorias se reuniram em assembleia para declarar estado de greve, face ao atraso no pagamento dos seus salários, ao anúncio de um possível vilipêndio dos seus direitos, bem como às precárias condições de trabalho nas unidades de polícia judiciária.
Reza a lenda que em certa ocasião o então governador do Rio, Leonel Brizola, afirmou: “Polícia não precisa de salário porque tem arma e carteira.” Como bom trabalhista, Brizola sabia que entre o imaginário e a realidade se encontrava uma categoria de trabalhadores que, com o aprofundamento da crise do modelo político-econômico, seria cada vez mais requisitada no desempenho de suas funções.
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Não foi por menos que os policiais receberam naquele momento o maior salário da sua história, algo em torno de 10 mínimos, o que nos faz acreditar que Brizola nunca proferiu tal comentário.
O mito do policial corrupto, no entanto, não parou de fomentar novas construções no imaginário social. No filme ‘Tropa de Elite’, policiais foram divididos em duas bandas: a banda podre e a elite da tropa. Os primeiros foram estigmatizados como “impuros”; já os membros dos Batalhões Especiais, como “heróis da nação”.
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A violência policial passou a ser um valor positivo, que estaria a contemplar um antídoto contra a corrupção policial. Capitão Nascimento arrancou suspiros de uma plateia ansiosa pela construção de um herói incorruptível com carta branca para matar.
Tenente-coronel da PM do Ceará, Anderson Duarte, em seu blog ‘Policial Pensador’, nos alertou para este engodo: “Ora, aos heróis é justo pedir sacrifícios, inclusive de direitos e de sua própria vida”.
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Vivemos um momento mágico para a construção de policiais como trabalhadores. Ao não receberem os seus vencimentos, policiais descobrem que não são ladrões e muito menos heróis.
Ao se identificarem como trabalhadores da segurança pública, eles apontam no horizonte a esperança de construir uma polícia mais próxima do povo e mais distante do poder político corrompido. Enfim, estamos em greve! Porque só o Coringa e o Batman trabalham sem salário e sem direitos.
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Orlando Zaccone é delegado e membro do Movimento Policiais Antifascismo