Por thiago.antunes
Rio - O americano chega ao Brasil cheio de vontade, enviado pelo governo de Donald Trump para colaborar com a nossa organização como país, com ênfase no social. Seu nome: Doutor McNamara. Lá, ‘doutor’ é título só usado para médico, ou alguém com doutorado em alguma coisa. No Brasil, basta você dar uma gorjeta no estacionamento para ser chamado de “doutor”.
Esse especialista, chegado ao país a mando do Departamento de Estado norte-americano, é conhecido na América como “Mr. Quizz”, ou Senhor Pergunta, já que seu método de trabalho se baseia numa série de perguntas que ele faz sem parar, como uma metralhadora verbal.
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Tal método tonteia o interlocutor, de tal forma que, de um ponto em diante, já não existe a possibilidade de inventar histórias, sendo a verdade a única coisa que aflora no cérebro de quem responde. A partir daí, McNamara vai montando um retrato fiel da situação.
Por uma deferência com o governo brasileiro, o especialista americano pediu, de início, uma audiência com o ministro das Relações Exteriores, marcada para as 10h no Itamaraty. José Serra chegou às 10h45, quando o americano já estava bastante preocupado com alguma coisa que pudesse ter acontecido com o chanceler, no que foi acalmado por sua secretária, que, com certa maldade, disse: “Não se preocupe, não é a primeira vez...”
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A reunião foi insólita. Serra começou a fazer perguntas para McNamara, antes mesmo de ele ter tempo de começar com as suas. “Vocês pensam em construir um muro em Teófilo Otoni? Se for o caso, informo que não pagaremos nada por isso.”
O americano saiu meio zonzo, sem ter conseguido nem mesmo começar com o seu famoso questionamento, de onde tira as conclusões que permitem colocar qualquer país nos eixos.
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Com a reunião atrasada, e a saraivada de perguntas que o especialista recebeu do nosso ministro, McNamara acabou chegando atrasado à reunião principal do dia, com um representante do Ministério do Planejamento, que havia bloqueado a agenda por um dia inteiro, só pela fama do perguntador americano.
Esse vexame o doutor nunca havia dado, por isso, não se conteve e justificou o atraso: “O Ministro Sierra me recebeu com quase uma hora de atraso”. Continua...
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Roberto Muylaert é editor e jornalista