Tainá de Paula  - Divulgação
Tainá de Paula Divulgação
Por Tainá de Paula*
A cidade do Rio de Janeiro tem como um de seus principais traços a exuberância da natureza, com a Mata Atlântica cobrindo um terço do território e uma rica biodiversidade. Nosso cotidiano está intrinsecamente ligado ao meio ambiente natural, mas o modelo de desenvolvimento que temos seguido tem falhado, e nos vemos em uma grave crise ambiental que compromete nossa condição de vida e dos que virão depois de nós.
Ocupamos o 50º lugar no ranking nacional do saneamento básico entre as cem maiores cidades brasileiras. A falta de saneamento adequado, além de afetar diretamente a saúde e a qualidade de vida de milhares de pessoas, leva à poluição de nossos rios e da Baía de Guanabara. Nossas ações de reflorestamento não têm sido monitoradas, não dispomos de planos de manejo e nem mesmo conselhos gestores da maioria das nossas unidades de conservação. E temos ainda uma parcela enorme da população vivendo em áreas de alta vulnerabilidade ambiental, sujeitas a inundações e deslizamentos.
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Dentre nossos desafios é necessário encararmos a urgência do debate sobre resíduos sólidos. Este ano, a Política Nacional de Resíduos Sólidos completa dez anos. Ela apresenta uma série de metas importantes para a gestão ambiental, mas enfrenta barreiras para sua implementação. Reciclamos apenas 1,28% do lixo plástico que produzimos nos país e nos tornamos o quarto maior produtor de lixo plástico do mundo. O Atlas do Plástico, recém publicado pela Fundação Heinrich Böll, traz essas e outras informações alarmantes e nos provoca a encontrar novos caminhos possíveis.
Diante do racismo ambiental e das desigualdades estruturais de nossa sociedade, o recorte de raça e gênero é essencial para compreendermos as questões que enfrentamos. Mais de 7,8 milhões de pessoas vivem em casas chefiadas por mulheres negras no Brasil e 63% delas estão abaixo da linha da pobreza. São as moradias com mais graves restrições de acesso ao saneamento básico: 41,8% não têm acesso a coleta de lixo, água encanada e rede tubular de esgoto.
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É necessário ações mais eficientes do poder público, com compromissos traçados junto ao setor privado e com a sociedade como um todo, para criarmos um ambiente saudável e acolhedor. Nós, mulheres negras, estamos lançadas aos mais graves riscos impostos por essa crise ambiental e precisamos estar no centro desse novo projeto de cidade. As zonas de sacrifício urbano, áreas de inexistência do debate ambiental e urbano estão majoritariamente ocupadas por mulheres negras e não-brancas chefes de família, construindo-se aí a necessidade de assumirmos que o debate sobre racismo urbano, desigualdade sócio-territorial andam
irreversivelmente relacionadas.
Falar, portanto, no fim do racismo é enfrentar esses atravessamentos e realidades urbanas racializadas, admitindo-se aí que não há nada mais concreto no Brasil do que a territorialização do racismo e os impactos ambientais que promove.
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*Vereadora recém-eleita pelo PT do Rio, arquiteta e urbanista