Diante do que temos assistido, seria oportuno a formalização de um protocolo para os governantes em todos os níveis a serem cumpridos e observados, para que não continue a ocorrer justificações sobre o injustificável
Aristóteles Drummond, colunista do DIA - Divulgação
No passado, os homens públicos eram recrutados na nobreza, na aristocracia, nos meios militares, nas famílias mais tradicionais das cidades, estados e na esfera federal. Com o saudável avanço da democracia, incorporando as grandes massas, veio ao acesso as classes médias e, por fim, todos os brasileiros. Tivemos um trabalhador, líder sindical e, agora, um capitão do Exército.
Nos tempos antigos, desde a Independência até o fim do ciclo militar iniciado em 1964, a corrupção era presença marginal, insignificante. Nosso Imperador Pedro II, depois de meio século como governante, viveu modestamente no exílio, tendo morrido em um modesto hotel, em Paris.
Diante do que temos assistido, seria oportuno a formalização de um protocolo para os governantes em todos os níveis a serem cumpridos e observados, para que não continue a ocorrer justificações sobre o injustificável. A primeira providência deveria se referir às famílias. É preciso um olhar isento de pieguices para a súbita elevação do padrão de vida dos rebentos.
Getúlio e JK são exemplos de filhos e netos sem progresso econômico, além dos demais parentes. Os presidentes militares foram impecáveis, temos vivos filhos e netos sem nada que possa levar a crer em enriquecimento questionável.
O coronel Álcio da Costa e Silva, da histórica turma de 1946 do Exército, foi chamado pelo pai, general Arthur, para ser informado que, sendo ministro da Guerra e possível futuro presidente da República, o filho só seria promovido, naqueles anos, por antiguidade.
O coronel Álcio, aos 42 anos, pediu reforma e foi trabalhar como engenheiro na Embratel, onde se aposentou aos 70 anos. Sua mulher, Dra. Lina, advogada da Caixa Econômica, estava às oito da manhã no Tribunal Regional do Trabalho, para fazer sustentação oral pela entidade. João, filho do presidente Figueiredo, ao se divorciar, foi morar com os pais. Médici viveu modestamente em Copacabana e seus filhos, Sérgio e Roberto, tiveram vida ilibada. Castelo morreu logo depois de deixar o governo, e era viúvo de mulher de posses.
É lamentável que se assista, de norte a sul do Brasil, este suceder de prosperidade nas famílias que passam pelos altos cargos do Executivo. Basta comparar o padrão de vida dos bons, que existem, aos destas famílias, algumas que fizeram fortuna sem transparência, mas sob a sombra dos pais, irmãos ou cunhados.
E estes não poderiam assistir a estas mudanças com ingenuidade ou cumplicidade. Uma das vantagens desse mundo digital é que hoje ficou muito difícil inibir o controle da sociedade. Muitos não perceberam que os tempos da impunidade passaram para pessoas e para empresas. Os motoristas e motoboys estão aí, os extratos bancários, a transparência nos bens dos que exercem mandatos e seus parentes.
Negrão de Lima, sábio pessedista, dizia que no poder não se comprava nem vendia nada. Agora a turma se muda no dia seguinte para mansões e fica por isso mesmo. Urge um tribunal para colocar tudo em pratos limpos em pouco tempo. Sem ódios, sem exageros e objetivamente. Sem sede de uso político, mas sim de inaugurar uma nova fase na democracia. A impunidade estimula e a questão da segunda instância da qual nem se fala. Sejamos objetivos e claros nos controles.
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