Ivanir dos Santos é babalawô e professor-doutor CCIR/CEAP/UFRJ/IFCSDivulgação

Novembro chega ao fim e com ele os questionamentos em torno das celebrações das comunidades sobre o mês da Consciência Negra. Alusivo ao Dia Nacional da Consciência Negra, celebrado em quase todo o Brasil. Criado em 2003 como efeméride incluída no calendário escolar, até ser oficialmente instituído em âmbito nacional mediante a Lei 12 519, de 10 de novembro de 2011.
Bom, antes de dar seguimento às nossas reflexões quero aqui pontuar e reavivar uma das que eu gosto sempre de repetir aos ouvidos esquecidos “NOS RESISTIMOS E EXISTIMOS PARA ALÉM DO 20 DE NOVEMBRO!” e o “20 de Novembro”, fruto dos lutas e mobilizações sociais negras da década de 1990, representa uma das mais singulares possibilidade de reescrever suas experiências longe da dualidade e escravidão-marginalidade.
Dito isso, volto minhas observações sobre as mais insanas e racistas colocações contra as resistências negras no Brasil tais como “somos todos iguais” ou “também precisamos de um mês para a comemoração da consciência branca” e por aí seguem-se outras tantas frases visivelmente desconectadas das análises estruturais da sociedade brasileira.

Como ativista dos direitos humanos, membro dos movimentos negros quero pontuar minhas convicções que me levem a endossar cada vez mais que a luta antirracista e contra todas as formas de intolerâncias e preconceito é um dever de toda a sociedade e não apenas das comunidades negras. E em se tratando de uma sociedade como o Brasil, forjada sobre a “exaltação de um passado colonial” (KILOMBA, 2020), que ainda vive sobre a falsa ideia de democracia racial e que nada fez de concreto para a emancipação das populações negras após a abolição da escravidão, o desafio que temos ainda é muito grande.
E quando digo desafio, pontuo principalmente o desinteresse, por parte do Estado brasileiro, em propiciar ações e políticas públicas que possam efetivamente ajudar a erradicação do racismo em nossa sociedade. De forma indireta o Estado nos delega, enquanto movimento antirracista, a responsabilidade da promoção e da construção de uma sociedade mais igualitária sem ao menos reconhecer que o racismo, assim como a intolerância, estão entranhados na gênese da nossa formação social, política, econômica e cultural brasileira.
Cá do meu canto penso que talvez possa até parecer “ingênuo” de minha parte achar que o racismo vai acabar, que a intolerância religiosa será substituída pelo diálogo inter-religioso, mas como sacerdote e professor me apoio no memorável discurso “Eu tenho um sonho” de Martin Luther King, proferido em 28 de agosto de 1963 durante a Marcha de Washington, para minimamente forjar as resistências cotidianas necessárias para poder sobreviver, viver e fortalecer todas as pessoas que almejam uma sociedade antirracista e mais tolerante.
Ivanir dos Santos é babalawô e professor-doutor CCIR/CEAP/UFRJ/IFCS